por T. Austin-Sparks
Capítulo 6 - O Testemunho de Jesus
Temos visto que no fim da época apostólica, e com o encerramento do primeiro século cristão, o Cristianismo tinha mudado completamente. Tinha perdido seu caráter e natureza primordiais e naturais. E o surgimento desta mudança estava na consciência do Apóstolo quando escreveu estas cartas a Timóteo, e procurou indicar a maneira - a única maneira, a maneria de Deus - de manter as coisas de Deus puras, mantendo elas de acordo com a natureza original delas. Na mente de Deus para o 'Cristianismo' - uso esse termo amplo pelo momento - tudo tinha sido, e pretendia-se que fosse, completamente espiritual; ao passo que aquilo que estava se desenvolvendo era um sistema - formal, eclesiástico, externo e assim por diante, ordenado, governado, arranjado e conduzido pelo homem. Estas cartas são um forte apelo para a restauração e mantenimento desse caráter completamente espiritual em cada departamento e cada aspecto da vida da comunidade cristã.
Ora, tenho usado a extensa palavra 'Cristianismo' e o termo 'comunidade cristã', e estou imediatamente chegando para o que realmente significam - o termo apropriado para elas - pois nenhuma dessas expressões são usadas no Novo Testamento. Existe um termo para o que elas pretendem significar, e esse termo é "a Igreja". Peço a você para observar um ou dois fragmentos nestas cartas que sugerem o assunto.
"Pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?" (1 Tim. 3:5). Deixemos o contexto e a imediata aplicação, e só observemos que isto que é chamado a Igreja de Deus é introduzido, é referido, como algo que já deve ter sido conhecido e reconhecido, como algo tido por garantido. Existe algo como a Igreja de Deus. De novo: "Escrevo-te estas coisas, embora esperando ir ver-te em breve, para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade." (1 Timóteo 3:14, 15). Finalmente: "Por isso, tudo suporto por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que há em Cristo Jesus com glória eterna" (2 Tim. 2:10).
Aqui então temos, em ambas as cartas, a atenção dedicada à IGREJA. O que temos ido dizendo sobre este momento decisivo na história cristã, esta mudança que estava surgindo, este afastamento do original e natural, era um assunto da IGREJA. Não era só o 'Cristianismo', nesse termo muito genérico; não era que só alguns cristãos estavam perdendo terreno, que um estado de declínio espiritual tinha se estabelecido com alguns crentes. Era uma assunto da Igreja. O afastamento era o afastamento da Igreja. E por isso, estas duas cartas são essencialmente cartas da Igreja: isso se tornará ainda mais claro para você se você só ler elas.
Ora, fica bem claro, dos versículos que acabamos de ler, que o Apóstolo estava falando da Igreja com mais de uma concepção. Ele não estava dizendo a Timóteo, quem estava na igreja em Éfeso, e tinha uma grande responsabilidade dada a ele pelo Apóstolo em relação a essa igreja, 'Ora, Éfeso é a igreja do Deus vivo'. Ele não estava dizendo que alguma igreja local é A Igreja. Mas, invertendo isso da outra maneira, ele estava dizendo que A Igreja como um todo achasse a sua representação em cada igreja local, que o que é real da Igreja inteira, na mente de Deus, seja real onde quer que seja achada numa expressão local. Qualquer igreja local deveria ser uma representação de A Igreja como um todo. E a seguir, o Apóstolo o reduz aos indivíduos, às pessoas, e, com efeito, claramente diz, 'Agora, qualquer um de vocês indivíduos pode mostrar o que a Igreja é para ser, como um todo, caso contrário você a desapontará. Vocês não são só cristãos individuais - a vossa responsabilidade é a da Igreja!'
Este assunto é de uma importância muito grande na conexão com o que estamos ocupados - o primeiro pensamento supremo a respeito da Igreja. O que é a Igreja? Essa é a primeira pergunta. Acho que Paulo muito definidamente nos dá a resposta num termo específico que ele usa. "Por este motivo, suporto todas as aflições por amor dos eleitos..." (2 Tim. 2:10). Se você olhar para o contexto, você verá que o Apóstolo leva isso de volta para o que aqui ele chama "antes dos tempos eternos". Portanto, a Igreja é algo que é 'eleito antes dos tempos eternos', algo bem claramente definido como um povo eleito, um corpo eleito, o qual tem suas raízes na eternidade passada, e portanto não é histórica. É eterna, e por isso deve ser espiritual. Observemos só um outro versículo relevante nesta conexão: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos..." (2 Tim. 1:9). "Propósito... graça... dada a nós em Cristo Jesus antes dos tempos eternos".
Então, a primeira coisa é que a Igreja, segundo a mente de Deus, é completamente diferente, e está acima, de qualquer coisa que é histórico - qualquer coisa, isto é, que tiver seus inícios, curso e desenvolvimento no tempo. Isto é algo que tem seus inícios na eternidade passada, e seu curso é ordenado segundo o propósito concebido na eternidade passada. Isto é algo que não é constituído pelo homem, não é trazido à existência por quaisquer esforços humanos: isto é algo que é constituído pelo Espírito Santo, o Espírito eterno. E, como estivemos vendo anteriormente, aquilo que é constituído pelo Espírito Santo é essencialmente uma coisa espiritual. "O que é nascido do Espírito é espírito".
Ora, isso, como vimos, se relaciona com o novo nascimento do indivíduo: o cristão individual é essencialmente constituído um ser espiritual pela obra do Espírito Santo. E o que é real do indivíduo é real do conjunto dos novos nascidos: a Igreja é algo nascido do Espírito Santo, e portanto, é uma coisa espiritual. Isso não significa que é abstrato. Tenho ouvido alguém, orando numa reunião, pedindo para que a mensagem não fosse 'tão espiritual ao ponto de ficar escondida em vez de manifesta'. Bem, sabemos exatamente o que ele quis dizer e estamos em plena concordância, e não estou corrigindo ele quando digo que é impossível que qualquer coisa espiritual não seja manifesta. Pode o Espírito Santo estar presente, ativo, vivo, e ninguém sabê-lo? O que é espiritual não é abstrato, indefinido; algo intangível, no ar, como um vapor ou uma nuvem. O que é espiritual é formidável, é poderoso; e assim, quando a Igreja era realmente um corpo espiritual, era - e a palavra pode ser bem aplicada - formidável.
Anteriormente me referi à aquilo com o que a Igreja se deparou, que estava se desenvolvendo justamente no tempo em que Paulo escrevera estas mesmas cartas. Isto causou-lhe o seu próprio aprisionamento e a sua própria execução, e foi a causa pela que Paulo escreveu a Timóteo para ser forte. Pois o próprio Timóteo fora arrestado com Paulo e aprisionado, e mais tarde libertado. Paulo (ou o autor da carta aos Hebreus) escreveu: "Sabei que o irmão Timóteo já está solto" (Heb. 13:23). Mas Timóteo sabia alguma coisa do que lhe estava aguardando. Ele precisava de ser encorajado a ser forte. Estou me referindo ao que a Igreja tinha que enfrentar naquelas perseguições inqualificáveis, horrores diabólicos, indescritíveis, que continuara por muitos, muitos anos, com o mundo Romano inteiro, o maior Império que já houve, determinado a apagar o nome de Jesus de Nazaré liquidando o último cristão nesta terra; e sem importar nada, humano ou desumano, para realizá-lo. E quando fizera o seu pior, o Império Romano ficou em cinzas e a Igreja saiu deles, triunfante, crescendo. Sim, qualquer coisa que é do Espírito Santo é algo tremendo; nada pode parar ela. Espiritualidade, real espiritualidade Divina - o que é nascido do Espírito, enchido com o Espírito e governado pelo Espírito - não é algo abstrato: é uma força potente neste universo.
Portanto, a Igreja, segundo a concepção Divina, consiste essencialmente de - e de fato é - um povo espiritual, e nós devemos de algum modo, chegar ao ponto em que a vemos como Deus e como o Céu a vê. E isso significa que é para nós fazermos um tremendo ajustamento. A nossa dificuldade prática é esta. Nos tempos apostólicos, era muito fácil ver a Igreja como uma entidade única. Embora fosse representada em numerosas companhias locais por todo o mundo Romano, mas mesmo assim era ainda uma entidade única: naquela altura não estava dividida em '-ismos' e em todos os outros termos que nós conhecemos hoje. Quando você fala de pessoas cristãs hoje, eles logo perguntam se você está numa '-ista', ou num '-ano'... e eles dizem, eu estou numa '-ista'. Ah, mas não existia nada disso na Igreja nos dias dos Apóstolos. Qualquer pequena diferença que havia dentre o povo do Senhor localmente, a Igreja como um todo era uma entidade, em todo o lado, se mantinham juntos mediante laços espirituais e ministérios espirituais, mas sem nenhum governo central ou governo sectário de organismos associados. Era só uma coisa, por todo lado. Se você tivesse ido de uma província para outra, de um país para outro, visitando os cristãos em cada lugar, eles nunca teriam lhe perguntado se você era um '-ista', ou um '-ano', ou um '-co' - se você pertencia a algum grupo específico, distinguido por um nome especial. Não, você era um cristão - isso era suficiente. Você pertencia ao Senhor - isso era suficiente.
Mas, com o encerramento da era apostólica, as coisas foram mudando - mudando para o que temos hoje. Uma mentalidade totalmente errada e falsa tem crescido em torno da palavra 'igreja'. A maioria das pessoas hoje, quando a palavra é usada, pensam de uma daquelas coisas com um termo especial, ou de algum lugar ou prédio - uma 'igreja' - e essa é a mentalidade que é comum. Sejamos bastante claros: a recuperação do original demanda que haja um escape dessa mentalidade. Não me entenda mal : não estou lhe dizendo que você tem que sair disto, daquilo e daquilo outro - estou dizendo que você tem que sair fora dessa MENTALIDADE. Precisamos de uma absoluta emancipação desta terra mentalmente em relação à Igreja, para a perspectiva celestial; para ver o que a Igreja realmente é, como Deus a vê e como o Céu a vê. Devemos ficar livres da confusão que fora ocasionada pela instituição histórica chamada 'A Igreja'.
O que é a Igreja, da perspectiva do Céu? O Céu não olha para o assunto à luz desses títulos, e dessas secções, e desses departamentos, e desses organismos, e dessas divisões; não olha para isso dessa maneira em absoluto. O Céu ignora tudo isso, e procura por membros de Cristo, filhos de Deus nascidos de novo, povo espiritual, pelo novo nascimento e a habitação interna do Espírito Santo na constituição deles. E onde quer que o Céu veja isso - seja dentro de um 'ismo', ou num '-co', ou num 'ano', ou qualquer outro - isso é a Igreja, e você e eu temos de nos ajustar a isso. UMA CONGREGAÇÃO não é a Igreja, mas DENTRO da congregação a Igreja pode estar representada por somente duas pessoas. De cem pessoas reunidas no que é chamado a igreja, noventa e oito são pessoas não salvas, embora adeptas e comungantes e todo o resto, e duas podem ser nascidas de novo. Essas duas são a Igreja, e as outras não! Isso é o que a Igreja é. É constituída pelo Espírito Santo produzindo através do novo nascimento pessoas espirituais.
Disse que o Céu ignora o outro. Num sentido isso é verdade, mas talvez, em outro sentido não seja verdade, porque o Céu julgará o outro como algo falso. Num sentido, todavia, o Céu ignora, e digo isto porque é algo que você e eu temos que fazer: encontrarmos com pessoas - não importando no que eles estiverem; você pode não concordar, você pode pensar que é falso; você tem que ignorar isso - se encontre com as pessoas no terreno de Cristo, se relacione com elas, o mais que puderes, somente na base de que eles pertencem ao Senhor. O nosso único inquérito tem de ser: 'Você pertence ao Senhor?' 'Você é nascido de novo?' Isso é tudo. E depois, se eles dizerem, 'sou isto e aquilo': o que é você?' Nós devemos responder, 'isso não importa; deixe isso de lado. Nós pertencemos ao Senhor: fiquemos contentes com isto'. Até que não o façamos, seremos detidos na aderência sem vida de algo que perdeu seu poder espiritual - porque perdeu a sua verdadeira identidade, a sua verdadeira natureza, a qual fora ESPIRITUAL. Sim, devemos nos ajustar ao ponto de vista do Céu. Realmente estou apenas lhe transmitindo a Carta aos Efésios! É assim como é vista nos Céus.
Bem, essa é a resposta, muito inadequadamente, muito brevemente, à pergunta, O que é a Igreja? A segunda pergunta é: Para o que a Igreja existe? O temos declarado por Paulo para nós aqui, nas próprias palavras que acabamos de ler: "...como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade" - e não deveria haver um ponto final lá, somente uma pausa para tomar fôlego - "Sem dúvida, grande é esse mistério da piedade: Deus foi manifestado em carne, foi justificado no Espírito, contemplado pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo e recebido acima na glória" (1 Tim. 3:15:16). Esse é o depósito na Igreja; esse é o testemunho de Jesus. Para isso a Igreja existe. É a isso que o Apóstolo se refere, observe, mais de uma vez, quando ele diz: "Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado..." (1 Tim. 6:20; 2 Tim. 1:14). 'Ó Timóteo, guarda o depósito, o confiado...' A Igreja é o repositório do testemunho de Jesus.
O que é o testemunho de Jesus? Existem, é claro, algumas declarações sobre isso aqui, na passagem que acabamos de ler. Mas não vou usar estas diferentes orações, porque no momento não estou interessado com doutrina cristã, ou com a doutrina da Igreja. Estou ocupado com a Igreja em si. Mas tornem para o Livro de Apocalipse, pois, como dissemos no nosso último capítulo, os escritos de João, escritos após Paulo ter acabado a sua obra e ido para a glória, se relacionavam com o pleno desenvolvimento desta mesma coisa, cujos inícios Paulo tinha testemunhado. O Livro do Apocalipse é peculiarmente adequado a este estado de afastamento e declínio espiritual, e você descobrirá que a coisa que governa tudo no livro inteiro é esta única frase: "o testemunho de Jesus".
João disse que ele estava "na ilha... chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus" (Ap. 1:9). Mas existe uma soberania Divina sobre o Império Romano, sobre os perseguidores e sobre aquele que enviou ele para Patmos - uma soberania Divina que diz: 'Bem, é para isto que trouce você aqui! Eles lhe enviaram, mas Eu trouce você! Você não está aqui pela soberania deles; é pela Minha soberania. Tenho algo a dizer para a Igreja, e tenho dado a você um tempo sossegado para o transmitir para Mim'. 'Eu estava na ilha que se chama Patmos - porque o Império Romano me enviou lá? Porque o Império Romano me enviou lá? Porque os perseguidores me capturaram e me enviaram lá?' Nem pensar! "Eu estava na ilha... chamada Patmos... por causa do testemunho de Jesus". Ora, isso pode ter sido porque ele tinha permanecido pelo testemunho de Jesus: mas é muito impressionante, não é, que essa frase percorra por todo este livro, e é vista ser, com o decorrer, a coisa pela qual o Senhor está julgando, primeiramente todas as igrejas, e depois, representativamente, a Igreja como um todo. E, tendo lidado com a Igreja na base do testemunho de Jesus, Ele segue para lidar com as nações, e eventualmente com o próprio diabo e o seu reino. Tudo está relacionado com o testemunho de Jesus.
O que é? Bem, o testemunho de Jesus é apresentado para nós simbolicamente logo no início do livro, na declaração - deixaremos o simbolismo pelo momento - feita pelo Senhor mesmo. "Eu sou o que vive..." estive morto mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno. Portanto, escreve..." O que é o testemunho de Jesus? A presente, Pessoa viva de Jesus no poder do Espírito Santo. É aí onde começa: a viva Pessoa de Jesus. Não o Jesus histórico da Palestina de séculos atrás - não, é o Jesus vivo bem atualizado, o de aqui e agora, manifesto, demostrado, provado estar vivo no poder do Espírito Santo. É isso demasiado? Bem, então, por que, quando as sete igrejas na Ásia são desafiadas, é sete vezes repetido "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas"? O Espírito Santo tem este assunto sob controle. O Espírito Santo está desafiando - não a respeito de um credo, ou uma doutrina como tal, mas a respeito da manifestação do Cristo vivo, ali, ali e ali. O testemunho de Jesus, seja em Éfeso, ou em Esmirna, ou em Pérgamo, ou em qualquer outro lugar, é simplesmente isto: que o lugar onde essa igreja está - a vila, a cidade, a província - é para conhecer, no poder do Espírito Santo, que Jesus está vivo! É aí onde começa. Pela sua própria presença, pela sua própria existência, pela sua própria vida lá nesse lugar, a única coisa que as pessoas devem conhecer é que eles não se livraram de Jesus. Eles não têm conseguido expulsar Ele deste mundo - Ele está aqui, Ele está vivo!
É muito simples; mas, afinal de contas, é para isso que a Igreja está aqui. O propósito básico da Igreja é em primeiro lugar fazer com que este mundo saiba que Jesus está vivo, não meramente declarando o fato histórico, mas vivendo no poder da Sua ressurreição. Existem tempos em alguns países em que a Igreja não é capaz de pregar e proclamar a verdade de Cristo, mas esse não é o fim do seu poder. Mesmo que silenciada em palavras, ainda pode dar a conhecer que Jesus está vivo. Sim, o testemunho de Jesus é: "Eu sou o que VIVE..."; "a igreja do Deus vivo, a coluna e esteio da verdade..." mas é mais - é a viva vitória de Cristo no poder do Espírito Santo. "Estive morto, mas eis que estou vivo..." nunca para ficar morto novamente. "Tenho as chaves da morte...", o controle, a autoridade, o poder sobre a morte. 'Tenho triunfado absolutamente sobre a morte e tudo que ocasionou a morte - o pecado - no poder do Espírito Santo'. Esse é o testemunho de Jesus: A sua viva vitória, presente onde os cristãos estão.
Você está achando que isto é tudo muito maravilhoso e muito bonito, mas é prático? Ouça! É tão prático que, se você for um vivo membro de Cristo, e você estiver numa companhia de crentes, crentes nascidos de novo, constituídos pelo Espírito Santo, nesta verdadeira base espiritual, você, sem dúvida, será levado para situações, condições, em que somente o poder da ressurreição de Jesus Cristo fará você ultrapassar! A sua própria sobrevivência necessitará do conhecer o poder da Sua ressurreição. Para crentes individuais, de tempo em tempo, e para companhias locais do povo do Senhor, como igualmente para a Igreja universal (como naqueles dias aos que me referi), a sobrevivência é um testemunho ao fato de que a morte não têm cabimento aqui. A morte não pode absorver isto - a morte em si foi absorvida na vitória! Que certeza gloriosa é essa! Que terreno de confiança! Que encorajamento! Chegamos a momentos em que parece como se o fim chegou, em que não vamos sobreviver e ultrapassar, Mas nunca acredite nisso! A vida de Jesus não foi tirada Dele pelos homens: Ele a deu deliberadamente, pela Sua própria livre vontade. "Esta autoridade", Ele disse, "Eu recebi do Meu Pai". A vida de Paulo não foi tirada dele pelo machado do verdugo mesmo à saída de Roma. "Já estou sendo oferecido, e a hora da minha partida é chegada". Aqui está um homem que sabe quando é a hora do Senhor para ele ir para a glória: ele está só sendo oferecido, e ele está se entregando. Paulo nunca disse, 'Eu não vou ser executado, eles vão me matar'; ele disse, 'estou sendo oferecido'.
Se você e eu estamos vivendo na base Deste, que diz: "Estive morto, mas eis que vivo pelos séculos dos séculos" - se nós estamos vivendo no poder da Sua ressurreição, o nosso fim será governado por Deus, não pelo homem. Será quando o Senhor dizer, 'é suficiente', não quando as circunstâncias ditarem. Deus tem no que se refere à Igreja isto a Seu cargo. E portanto, qualquer coisa que o mundo faça, qualquer coisa que o homem faça, e qualquer coisa que o diabo faça com a Igreja, local ou universal, se ela estiver realmente nesta base, simplesmente não poderá ser reduzida a nada. Gamaliel é a nossa assistência aqui, não é? 'Se for de Deus, é melhor que você não mexa nisso; é melhor que você não se ache lutando contra Deus. Acautelai-vos! Se não for de Deus, bem, se extinguirá mais cedo ou mais tarde; mas se for de Deus, você não poderá fazer nada...' (Atos 5:34-39). E isso veio de alguém que não era cristão! Você percebe. Está é a Igreja que é para personificar o testemunho de Jesus em termos de uma vida que tem conquistado a morte, ser a personificação de uma viva vitória no poder do Espírito Santo.
E logo, é para ser a expressão da viva natureza e caráter de Jesus no Espírito Santo. Isso é um assunto muito amplo para nós considerarmos completamente aqui; só será declarado. Mas deve ser declarado, porque, em ambas as cartas a Timóteo e no Apocalipse, muito se atribui a este assunto da expressão do Senhor Jesus no Seu caráter. O declínio era em relação ao nível do caráter, o afastamento era em relação a uma expressão do que Cristo é em Sua natureza. Nós nunca, nunca poderemos vencer o mundo, nem o diabo e seus poderes, se esse mesmo diabo já penetrou até o nosso ser, se há algo lá que é dele próprio em falhas morais ou delitos. No poder do mesmo Espírito Santo, você e eu temos de exemplificar Cristo - a Igreja deve exemplificar Cristo, expressar o que Cristo é; não meramente transmitir fatos acerca de Cristo, mas sermos a personificação da natureza de Cristo.
É por isso que João, convergindo para o fim da era apostólica, tem muita coisa a dizer sobre este assunto do amor. 'Você não conhece o Senhor', ele diz, 'se você não ama ao seu irmão. Não adianta você dizer que você ama ao Senhor, se você não ama ao seu irmão - isso não faz sentido'. Em outras palavras, é hipocrisia. 'Como um homem pode amar Deus, Quem não pode ver, se ele não ama ao seu irmão, quem pode ver?' (1 João 4:20). Esse é o argumento de João. Está relacionado com 'andar na luz assim como ele está na luz' (capítulo 1:7). Muito dos escritos de João toca este assunto. Veja essas cartas às sete igrejas. Elas estão preocupadas com o estado, condição, com a perda da vida espiritual, no sentido de expressar como Cristo é em Sua natureza. Esse é o testemunho de Jesus. O testemunho estará perdido se você e eu não formos semelhantes a Cristo. Não adianta usarmos frases, e fazermos afirmações: elas devem estar fundamentadas pela maneira em que nós somos, e nós devemos ser como Cristo é. A Igreja está para esse propósito. Não consiste meramente num conjunto de doutrinas a serem mantidas - embora as doutrinas devam ser mantidas; não de um número de ordenanças a serem mantidas e respeitadas, não de congregações de cristãos tendo reuniões e conferências. É para ser a personificação de Cristo pelo Espírito Santo.
Ora, voltando ao assunto do ponto de mudança que mencionamos anteriormente, a Igreja na qual nos achamos hoje, com todas as suas rupturas e divisões, seu sectarismo e assim por diante, é muito diferente do que temos acabado de descrever. Como nós iremos superar isto? Bem, só depende do lugar em que a sede do governo está, não é? Tal como estão as coisas hoje, não existe nenhum governo da Igreja toda nesta terra, ou há? Nós não admitimos as alegações de Roma. Mas não é verdadeiro para qualquer seção que a sede da Igreja está em algum LUGAR. A sede de A IGREJA está no Céu. A sede do governo de A IGREJA está no Céu; não está em mais nenhum lugar. E o Senhor não permitirá que esteja em qualquer outro lugar. Quando Jerusalém estava começando a assumir o caráter de uma sede governamental para a expansão da Igreja, o Senhor os espalhou até os confins da terra. Nenhuma sede na terra! A sede está no Céu.
Neste momento gostaria de levar você para o Livro de Apocalipse outra vez, e indicar algumas passagens, embora não fiquemos para comentar muito cada uma.
"João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono..." (Ap. 1:4).
"Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas..." (3:1).
"E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus" (4:5).
"E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus..." (5:6).
Este livro é, como você sabe, só cheio de símbolos. Aqui você tem estas quatro referências aos sete Espíritos. É claro que não quer dizer que haviam sete Espíritos separados. Sete é o número da totalidade, completude, plenitude. Quando você chega ao número sete, você completa algo: por exemplo, o sétimo dia marcava a conclusão da criação. Não preciso ir mais longe. Sete é completude espiritual: de modo que o simbolismo aqui é de plenitude, de completude, do absoluto do Espírito Santo. "Isto diz o que tem os sete Espíritos..." Isto que vai ser dito é na autoridade e no poder do Espírito Santo.
ELE tem a Seu cargo este assunto, é Ele que está escrevendo estas coisas que devem ser ditas, é Ele que está diante do trono. O Espírito Santo, em contato com a sede do governo, está lidando com coisas aqui em baixo. Você compreendeu isso? Exitem todas essas coisas referidas aqui em baixo na terra, mas o trono, a sede do governo de tudo, está lá cima.
Note-se que a primeira conexão dos sete Espíritos é com o trono e com as "sete estrelas" que são "os anjos das sete igrejas" (1:16,20; 3:1). O trono do governo das coisas aqui em baixo estão nas mãos do Espírito Santo, na plenitude do Seu poder e inteligência. Os "sete olhos" falam do Seu conhecimento de tudo, vendo perfeitamente a verdade além de todo o engano, além de todas as mascaras, além de toda a pretensão e profissão, além do 'nome de que vives'; perfeita percepção, perfeito conhecimento, perfeita compreensão. O Espírito Santo está governando na plenitude do Seu conhecimento. E na plenitude do Seu poder - "ardiam sete lâmpadas de fogo". Isto não é uma luz fria, isto não é só conhecimento teórico; isto não é algo abstrato. é uma lâmpada ardendo, é algo que está vivo com fogo, com poder: Ele veio para lidar com esta situação no poder ardente do Seu juízo e do Seu conhecimento. As coisas estão vivas com o Espírito Santo.
A fim de ser aprovado com Ele, então, o Espírito Santo requer que tudo seja puramente espiritual. Tem de ser segundo o juízo do ESPÍRITO Santo, o Espírito de Deus. O Espírito Santo opera em relação ao "Cordeiro no Trono". Esse é o testemunho em relação a todo o nosso pecado, e a todas nossas falhas: é o Cordeiro no trono. Mas o que estamos dizendo é que a ideia do Senhor acerca da Igreja, em qualquer dispensação, em qualquer época, em qualquer momento, em qualquer lugar, é que é algo essencialmente espiritual, algo essencialmente celestial; é essencialmente governada pelo Espírito Santo. A sede está no trono, e o Espírito Santo administra a Igreja desde o Céu. Se Ele não o fizer, então o homem terá que administrá-la por si mesmo, e ele fará dela uma terrível bagunça, como o tem feito. Ó, que haja um povo, onde quer que esteja - sejam companhias locais ou o povo do Senhor em geral - que realmente fique sob este governo do Espírito Santo!
Encerrarei dizendo isto. Cada um de nós, e provavelmente especialmente os cristãos jovens, precisamos perceber isto: que ao virmos para o Senhor, termos recebido Cristo como o nosso Salvador, termos nos tornado um cristão, termos sido convertidos - seja como for que você o coloque - se você tem verdadeiramente nascido de novo, você não é só um cristão individual. Você é parte de um Corpo eternamente previsto, escolhido, você pertence a uma grande entidade espiritual corporativa, você pertence a todos os outros verdadeiramente filhos de Deus nascidos de novo. A sua vida é coligada e não é só uma vida individual. Muito depende da sua percepção disso! Você não SÓ se tornou um 'cristão' - você se tornou algo infinitamente mais do que isso. Você se tornou um membro disto que é atemporal, celestial, concebido "antes dos tempos eternos", cumprindo a sua real vocação quando não mais haverá tempo. Isso é ao que você tem entrado! E você entrou numa tremenda vocação, ser parte daquilo que é para manter vivo o testemunho de Jesus neste mundo.
Veja, o diabo e o seu vasto reino de incontáveis hostes de espíritos malignos, como Paulo o coloca, está contra uma coisa, e uma coisa somente. Desde o princípio, quando Jesus Cristo fora "constituído herdeiro de todas as coisas" (Heb. 1:2), Satanás tem implacavelmente e incessantemente proposto a si mesmo frustrar, estragar e destruir uma coisa - o testemunho de Jesus. E se ele conseguir nos dividir e ficar entre nós, ele terá tocado o testemunho de Jesus, por causa do testemunho de Jesus estar tão ligado à nossa unida e coligada vida.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.