por T. Austin-Sparks
Capítulo 5 - A Base Espiritual da Vida Cristã
Nós hoje, como cristãos, vivemos num pleno desenvolvimento do que Paulo temia. Está em grande medida - embora - graças a Deus, não inteiramente - presente no Cristianismo hoje. Mas é muito necessário reconhecer que isto é sempre uma tendência persistente na vida cristã. Você e eu podemos cair neste perigo tão facilmente como qualquer outro: certamente, evitá-lo constitui a maior dificuldade que qualquer cristão tem - evitar o declínio para um mero sistema formal, numa ordem meramente externa, em algo organizado e institucional. Muitas vezes, inconscientemente, imperceptivelmente, nos afastamos da natureza espiritual essencial de nossa vida. Penso que você reconhecerá que isto é um aviso que tem cabimento hoje, como protetor e como restaurador.
Vamos agora, através destas cartas a Timóteo, ampliar o nosso horizonte um pouco, e sejamos conduzidos para a esfera maior deste assunto. Nos acharemos adentrando numa esfera muito ampla nesta conexão específica. Estas cartas nos conduzirão lá naturalmente. Tomemos novamente a característica retrospectiva nestas cartas, olhando para trás, para os começos, as fundações, os fundamentos. No nosso último capítulo estivemos ocupados com voltarmos para Jesus: "Lembra-te de Jesus Cristo". Agora, nós vamos voltarmos para a verdadeira base da vida cristã, como Jesus a mostrou; mas repassemos Timóteo.
À medida que analisamos estas cartas, achamos Paulo lembrando a Timóteo - sim, lembrando-lhe com muito força - de certas coisas que jaziam na mesma raiz de sua própria vida e do seu serviço ao Senhor. Temos fragmentos como este: 1 Timóteo 1:18: "Segundo as profecias que houve acerca de ti". - literalmente, 'as profecias que apontavam a você', em linguagem moderno, 'de acordo com as indicações a respeito de você'. Se você olhar o contexto, você verá que o tempo ao que se refere foi quando Timóteo viera sob a unção para o serviço, para o ministério, para a sua participação ativa no Evangelho. O apóstolo está apelando para que seja lembrado o grande princípio, a grande verdade e fundamento, de sua vida e obra. Além disso, 1 Timóteo 6:20: "Ó Timóteo, guarda o bom depósito". 2 Timóteo 1:6: "Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti..."; novamente remontava, como você vê, a um tempo específico. 2 Timóteo 2:2: "As coisas que de mim ouvistes..." 3:24: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste..." Observe que todas estas coisas levavam Timóteo de volta. Paulo está apelando para o passado, apelando para os fundamentos, apelando para o que tinha acontecido. Ele está, com efeito, dizendo: 'Agora, Timóteo, isto tem de ser reforçado, isto tem de ser consolidado, isto tem de ser confirmado, perante as presentes tendências e perigos, o atual curso das coisas. Tudo isto tem de ser apresentado numa nova maneira, e reestabelecido. Nós vamos dar uma curva na estrada, e isso sempre é um lugar e hora perigoso, e nessas ocasiões nós precisamos ser reforçados com o que de Deus tem surgido no passado'.
Ora, não irei permanecer nestas passagens. Simplesmente estou tomando este fator de retrospectiva e recomeço, o qual significa, confirmar aquilo que acontecera, tendo em vista o futuro, este futuro perigoso. De que se trata tudo? Se você olhar mais de perto, você descobrirá que tudo se relaciona com o Espírito Santo. Tudo isto significa, com efeito, que tudo no começo veio pelo Espírito; que tudo, para usar outra palavra, é pela unção. 'Timóteo, permaneça onde você está por causa da unção original, porque no princípio o Espírito Santo fez algo em você e com você. Timóteo, o seu ministério e serviço até este momento têm sido por causa do Espírito Santo. Agora, a ameaça e a tendência neste momento é de afastar-se dessa base, e entrar numa outra base de coisas que não é essencialmente espiritual. - é outra coisa'. É muito importante que reconheçamos isso. Devo dizer, entre parêntesis, que nunca antes na minha própria vida, tenho visto tanto contraste entre cristãos, e no Cristianismo, como existe hoje, e é realmente a causa e raiz de todos os problemas. É uma diferença, não entre os cristãos e o mundo, mas dentro do Cristianismo em si, entre o que é espiritual e o que é natural. E é isso que temos que ver.
Agora, a fim de sermos ajudados, devemos tomar a nossa retrospectiva a partir de muito mais atrás. Devemos voltar diretamente para o Evangelho de João. Disse anteriormente que Timóteo naturalmente nos conduz numa esfera mais ampla: e ainda assim Timóteo não nos conduz de volta somente. Você sabe que o Evangelho de João foi escrito muito depois das duas cartas de Paulo a Timóteo. Embora a segunda carta de Paulo a Timóteo fosse a última coisa que ele já escrevera, foram anos depois que João escreveu o Seu Evangelho, as suas Cartas e o Apocalipse. De modo que Timóteo nos conduz diretamente para o pleno desenvolvimento desta outra coisa. Me pergunto se você realmente já compreendeu isto. Nós tomamos o Novo Testamento no arranjo conhecido como o temos, e dizemos, 'Bem, é claro, as primeiras coisas no Novo Testamento são os quatro Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e João: esse é o princípio do Novo Testamento'; mas temos reconhecido que ao menos o quarto desses Evangelhos foi escrito muito após tudo o mais no Novo Testamento? Se você estivesse a compilar o Novo Testamento cronologicamente, você teria que colocar o Evangelho de João mesmo perto do final.
Ora, você observa o que isto implica? Por que João escreveu o seu Evangelho, as suas cartas, e o Apocalipse, como os últimos escritos da época do Novo Testamento, a época apostólica? O Evangelho de João foi escrito quando este outro tipo de Cristianismo tinha se tornado quase plenamente desenvolvido - este outro tipo de Cristianismo que não é espiritual, mas natural. Você tem que ler o Evangelho de João à luz da situação existente na Igreja em que foi escrito, de outra maneira você não poderá realmente obter a sua mensagem, os seus valores. É uma grande chamada para voltar à espiritualidade. Este Evangelho de João é, como sabemos, o Evangelho espiritual. Não é só a vida terrena de Jesus: tudo aqui é de significância espiritual, celestial e eterna, não da terra e do tempo em absoluto.
Você percebe como inicia. Tome o terceiro capítulo. O terceiro capítulo de João foi escrito quando a Igreja tinha deixado seu primeiro amor, quando a Igreja tinha deixado a sua primeira posição; quando o Cristianismo tinha assumido uma tonalidade totalmente diferente da que tinha no principio. Este capítulo é o enunciado de um princípio fundamental da vida cristã que precisa ser recuperado. Nós conhecemos este capítulo - ou pensamos que sim. É claro, conhecemos as palavras. Provavelmente, ficamos aborrecidos desse nome, Nicodemos. E ainda assim - não exagero; por favor creia-me - falo a verdade quando digo que quando volto para esse Evangelho de João, após tê-lo conhecido, e lido, e estudado, e falado sobre ele, por muitos, muitos anos, sinto que realmente não temos compreendido isto - a Igreja não tem compreendido o que está aqui. Seria impossível para a situação atual entre os cristãos e no Cristianismo em geral existir, se o que está no terceiro capítulo de João realmente não se obteve! Não estou exagerando; não chego a ser demasiado forte em relação a isto.
E então, correndo o risco de tocar em coisas que você acha que conhece, olhemos novamente para estas palavras. Não leremos todo o capítulo, mas consideraremos as seguintes passagens. "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vós é nascer de novo". (Na nota de rodapé diz 'de cima'). "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai..." ('Esta coisa é um mistério para você, você não sabe...'): "assim é todo aquele que é nascido do Espírito".
Primeiramente, você tem uma entidade: "O que é nascido da carne". Isso é uma entidade. Isso não é difícil de entender no lado natural. Cada pequena criança 'recém nascida' é uma entidade da carne: é algo bastante concreto, algo bastante definido, e você e eu não achamos dois iguais em todos os aspectos. No que se refere à carne, e ao natural, o que é nascido é uma entidade definida, concreta - nós sabemos disso. E, justamente da mesma maneira, 'o que é nascido do Espírito' é uma entidade distinta, definida, concreta, totalmente diferente, mas absolutamente real. Essa entidade, nascida do Espírito, é algo bem definido e totalmente distinto do que é nascido da carne. Com o novo nascimento de cada filho de Deus, uma entidade espiritual tem sido trazida à existência, inteiramente diferente da entidade e da constituição do natural, mas igualmente real, igualmente definida.
Repito: muito poucos, pouquíssimos cristãos, parecem entender ou saber disto. Nos temos 'aderido' a algo, nos temos 'aderido ao Cristianismo', temos 'embarcado na religião cristã' - coloque-o como quiser. é algo objetivo; temos chegado a entrar numa outra esfera de interesses e atividades, vida e conduta. Essa é a ideia sobre o Cristianismo. O Senhor Jesus está dizendo aqui - o que o Novo Testamento confirma de uma ponta à outra - que isto é uma coisa totalmente diferente - isto não tem nem um pouco da ordem natural, isto é espiritual; o natural e o espiritual pertencem a duas ordens e reinos diferentes. Esse é o contexto destas palavras. E portanto, cada filho Deus nascido de novo é, na mais íntima verdade do ser, uma entidade diferente. Não é que eles têm 'tomado' algo, ou 'entrado' em algo. Tenho usado muitas vezes a palavra 'especie' - eles são um tipo diferente de pessoa no próprio ser deles, com uma outra constituição, algo constituído pelo Espírito Santo, o Espírito de Deus, tudo de cima.
As pessoas hoje em dia estão falando sobre visitar a lua. No final do século, homens, provavelmente aterrizarão na lua - mas não com a simples constituição terrena! Nenhum homem, tal como ele está, jamais fará isso. Ele terá que ter um aparelho que constitua ele, com efeito, um tipo diferente de pessoa, a fim de viver lá fora. Entrar nessa esfera como ele está seria um desastre, uma destruição. E você e eu nunca seremos capazes de ir para o Céu sem uma nova constituição - e tampouco com uma artificial! Nenhuma maquiagem para isto! Tem de ser constitucional. Existe um claro abismo, amplo e intransponível, entre o que é naturalmente e o que somos como filhos de Deus.
Se você realmente é um filho de Deus, se você veio ao Senhor, se você realmente teve a experiência da salvação, você sabe que algo aconteceu com você. Isto está explicando o que aconteceu. E o Espírito Santo diz, 'Olhe aqui, as coisas saíram dessa base'. Temos de voltar lá. Temos de reconhecer outra vez esta linha ampla de diferença e divisão entre o que é natural e o que é espiritual no Cristianismo. Existem poucas coisas mais importantes do que nós como cristãos sermos capazes de reconhecer a diferença fundamental entre o que é natural e o que é espiritual. Nós temos uma nova constituição, uma constituição diferente, pelo Espírito Santo.
O homem natural está sempre tentando obter as coisas numa base natural. Ele tem de trazer tudo para a base da razão natural. Ele tem de ser capaz de racionalizar a coisa toda, compreender, abranger a coisa com a sua razão. Muito do Cristianismo é só o homem tomando posse da Bíblia, da verdade cristã, doutrina cristã, coisas cristãs, e a interpretar e aplicar mediante a razão natural. E a Palavra de Deus é tão distinta quanto qualquer outra coisa: a porta está fechada para isso, a porta está FECHADA. DEUS fechou a porta. Você não vai obter nada através do poder de sua razão, por muito grande que seja - nem um pouco!
Olhe para o nosso amigo, Nicodemos. Ele permanece para sempre como o exemplo. "Como pode um homem...? Como é que estas coisas podem ser possíveis?" Um homem bom, um homem inteligente, um homem religioso, mas do lado de fora da porta. A porta está absolutamente fechada. Ora, você pode aplicar isso por todo o lado. O homem pode ser muito devoto, muito dedicado, muito religioso; ele pode ser um fundamentalista incandescente, um campeão da doutrina cristã; e contudo, estar tudo na esfera do seu próprio poder e força intelectual. Existe um mundo que está fechado para ele, do qual ele sabe pouco ou nada. Ele 'ouviu a voz', mas 'não sabe'. Ele ouviu o som, e tomou o som como o total: mas há um mistério que está ainda fora do seu reino; e o resultado disto é que podem ser pessoas boas, sim, devotas, sérias, sinceras, que, vivendo nessa esfera nas coisas cristãs, não podem entender pessoas espirituais, não podem em absoluto entender as coisas do Espírito. As coisas espirituais serão sempre um mistério, um enigma, para a mente natural.
"Lembra-te de Jesus Cristo". A diferença entre Jesus e os líderes judeus, na devoção radical e quase fanática deles à religião, não foi de modo algum uma diferença de religião. Não foi que Ele era mais religioso do que eles. Foi uma diferença entre o espiritual e o natural na religião. Para eles Ele era um enigma, Ele era um mistério - e, é claro, Ele estava tudo errado. Ele não poderia estar certo, pois, veja, o raciocínio natural diz isto e aquilo; mas quão longes da verdade eles estavam. Ora, você entendeu o significado? É extremamente importante. Andar verdadeiramente com Deus no Espírito, embora, é claro, nunca contradizendo a Escritura, mas sempre sendo consistente com a Palavra de Deus, é muitas vezes algo solitário dentre os cristãos. A tragédia é que seja assim, mas é muitas vezes dessa maneira. O que é então a espiritualidade? É primeiramente, uma mudança fundamental no ser, na entidade, na pessoa: isso é espiritualidade. Depois disso, tem muitos desenvolvimentos.
"O vento sopra onde quer, você escuta o seu som, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai; assim ocorre com todos os nascidos do Espírito". Um ato soberano do Espírito. Isso nos leva de volta para este outro fragmento: "O que é nascido da carne é carne", e a respeito do anterior fragmento neste Evangelho de João, que o deixa tão claro, tão enfático: "...não nasceram da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (1:3). Isto é algo que está nas mãos soberanas do Espírito Santo e é tirado longe das mãos dos homens. Você não pode converter-se a si mesmo, você não pode converter ninguém; você não pode fazer-se esta outra criatura, esta nova criação, e você nunca poderá fazê-lo a ninguém. E você nunca poderá dizer quando é para ocorrer, nem quanto a você mesmo, nem quanto a qualquer outra pessoa. Tudo isso é um assunto do soberano Espírito. Se o vento decide soprar, ele não lhe notifica com um dia de antecedência! Simplesmente sopra, e quando sopra você não pode dizer, 'você está fora de prazo, você veio na hora errada - este não é um momento conveniente!' O vento sopra, e ponto final.
Agora, você está aqui tocando um princípio: a soberania do Espírito, representado pela soberania do vento. Você sabe muito bem que é inútil ficar contra o vento quando realmente decide soprar. Leve esse princípio ao longo do Novo Testamento, e você lerá três vezes: "E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos...", "e naquele dia agregaram-se...", "eram acrescentados à comunidade..." Quem acrescentava? Foram os apóstolos? De modo algum. O Senhor acrescentava. Existe toda uma diferença entre sermos informados para ir e aderirmos a uma igreja, e o Senhor agregar a Cristo, ou entre juntarmos ao que chamamos uma igreja, e sermos agregados a Cristo. Não podemos juntarmos a Cristo na nossa própria vontade, simplesmente quando quisermos, ou pensarmos que assim decidiremos, porque o ser agregado a Cristo envolve sermos reconstituídos num princípio diferente, e isso não está em absoluto no nosso poder. É o Senhor Quem deve fazê-lo, de modo que a inclusão é o Seu ato soberano: e quando Ele decide fazê-lo, é maravilhoso, não é? E se Ele não decidir fazê-lo, você pode trabalhar a si mesmo até a morte, e nada acontecerá. Isto é a obra do Senhor.
Olhe para o dia de Pentecostes. O vento soprou naquela altura - um vento impetuoso. O que é a soberania? "E naquele dia agregaram-se (a eles) quase três mil almas". Isto era a soberania do Espírito. Quão ampla e abrangente é a aplicação disso! Ó, se o Cristianismo estivesse nessa base fundamental hoje - a absoluta soberania do Espírito Santo! Por que não é assim? Por causa da soberania atual do natural, por causa da intrusão do homem natural no Cristianismo.
Leia novamente o capítulo três de João. Como temos visto, aqui temos uma nova constituição, uma nova entidade - "o que é nascido do Espírito". Aqui, também, temos a soberania do Espírito: Ele sopra onde Ele quer, e sempre existe um mistério, um glorioso mistério, acerca Dele e da Sua obra. Mas observe, ainda mais, que é um assunto de capacidade. Para Nicodemos, o Senhor diz: "Tu és mestre em Israel, e não compreendes essas verdades? ... Nós dizemos do que conhecemos... Se falando de assuntos da terra, não me credes, como crereis..." 'Por que, se você não entende o segredo do vento - e isso é um fenômeno natural, é uma coisa terrena que pertence ao seu mundo da razão - se você não pode lidar com isso, o que será quando fale a você de coisas celestiais?' "Nós dizemos do que conhecemos".
Entende o significado? Aqui há uma diferença de capacidade, uma nova e diferente faculdade de conhecimento, de apreensão, compreensão e entendimento. É uma faculdade espiritual, para coisas espirituais. Sei como de familiar isto é para muitos: não é novo; mas existe a necessidade urgente de trazermos isto novamente para toda a esfera do nosso Cristianismo. Tenho certeza de que ainda não tem sido compreendido por muitos cristãos, mesmo os que estão há muito na vida cristã, que, pelas suas próprias constituições como filhos de Deus, é para eles terem uma faculdade que faz com que eles sejam capazes de compreender e entender coisas espirituais que nenhuma mente natural pode entender. O filho mais jovem de Deus deve ter esta faculdade. Pode não estar completamente desenvolvida, mas é um constituinte do próprio ser. Você compreendeu isso? E a própria presença dessa faculdade é a base sobre a qual tudo na vida cristã irá ser construído. O Espírito Santo somente constrói sobre as SUAS PRÓPRIAS fundações, sobre o que ELE MESMO coloca como base. E essa base é espiritual: o que é do Espírito é espiritual. Todo o nosso crescimento, portanto, irá ser mediante o entendimento espiritual, conhecimento espiritual: não a acumulação de uma vasta quantidade de verdade, ou de informação religiosa cristã, mas o que o Espírito nos ensinar. Será ATRAVÉS DA PALAVRA, mas somente O QUE O ESPÍRITO ENSINAR, pois Ele veio para esse mesmo propósito.
Ora, deve haver uma ligação entre nós e o Espírito Santo, que esteja em conformidade com Ele mesmo, e a ligação entre o Espírito Santo e o filho de Deus nascido de novo é o espírito renovado do filho de Deus, com esta nova capacidade, de modo que o filho de Deus, em oposição ao mundo inteiro de um mero conhecimento intelectual, é capaz de dizer: 'Nós conhecemos' - "Nós dizemos do que conhecemos". Pode ser muito pouco, mas você conhece, você conhece agora. O tanto que você já percorreu, é um conhecimento que é seu, o qual é novo e totalmente diferente. Você é capaz de dizer: 'Não conheço muito, mas o que conheço, conheço; e a maneira na qual tenho chegado a conhecer não é porque me foi apresentado, mas porque aconteceu em mim. Algo foi feito dentro; e, embora não o possa colocar em palavras ou teorias, ou compor num conjunto de ideias, eu conheço - CONHEÇO!' "Nós dizemos do que conhecemos". Existe algo sobre o conhecimento espiritual que é tão forte, tão fixo, tão satisfatório, é algo que transmite muito descanso. É uma nova capacidade. Qual é a diferença? "Se falando de assuntos da terra..." Isso é uma esfera: o que será das coisas celestiais? 'Ora, Nicodemos, com toda a sua excelente bagagem de nascimento, criação, treinamento, educação, você ainda está na esfera das coisas terrenas, e mesmo lá eles estão além de você, você ainda não chegou até a esfera das coisas celestiais'. Portanto, "Não te admires de eu te haver dito: Necessário vós é nascer de cima".
Isso é uma grande necessidade, salvaguardarmos toda a situação cristã e recuperarmos a eficácia espiritual neste mundo: um novo discernimento da diferença fundamental entre o natural e o espiritual - sim, mesmo nas coisas cristãs. Não pense que estou falando de algo adicional ao que está na Palavra de Deus. Estou falando sobre a faculdade necessária dada pelo Espírito Santo, e a necessária obra do Espírito Santo, a fim de que conheçamos corretamente a mente do Espírito na Palavra de Deus. Se ficarmos sobre qualquer outra base além dessa, todo tipo de coisas acontecerão, as quais serão muito tristes, angustiantes e muito erradas. O Espírito Santo disse através de Paulo para Timóteo: "Toda a Escritura é inspirada por Deus..." Paulo está dizendo, com efeito, 'Olhe aqui, devemos nos voltar para o que o Espírito Santo nos tem dado, o que veio do Espírito Santo, e o que, portanto, é espiritual; devemos nos voltar para o que Deus QUER DIZER'.
João 3 é um tremendo desvio, não somente para o mundo dos inconversos e os não nascidos de novo, mas para uma grande parte do Cristianismo tal como o conhecemos, o qual claramente não é o Cristianismo de uma entidade diferente, de uma constituição diferente, de uma capacidade diferente. Tenhamos certeza que conosco a coisa esteja certa, e não o falso e a imitação.
Me permita encerrar com uma palavra de alerta. Isto não é necessariamente uma revelação especial que é dada a alguma pessoa especifica. Tenha muito cuidado aí. Pode parecer um detalhe pequeno, mas é muito importante. Não significa que, porque sejamos de tal forma reconstituídos e tenhamos esta outra faculdade, que obtemos uma revelação especial. Não, não é uma revelação especial, mas é uma faculdade especial para conhecer o que tem sido revelado.
Este é o significado inclusivo e compreensivo do advento do Espírito Santo. O que teve lugar no dia de Pentecostes correspondeu, na história da Igreja, ao que teve lugar na vida pessoal do Senhor Jesus no Jordão. No Jordão Ele foi batizado, dando a entender que Ele foi sepultado, que algo foi colocado fora de vista. Tipologicamente, figuradamente, o homem natural fica fora de vista. Ele se levanta tipologicamente como outro homem. E depois? O Céu se abre, o Espírito desce, e a partir daquele momento tudo é pelo Espírito. "Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto..." E depois para Nazaré: "Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim..." Tudo é pelo Espírito.
De novo, sejamos entendidos corretamente. Não dissemos que no batismo de Jesus um "homem velho" literalmente foi sepultado como no caso de todos os outros crentes, mas que - sem pecado - Ele estava assumindo representativamente o terreno que todos nós temos que tomar num aspecto particular, isto é, que nada seja na vida que não é do Pai pelo Espírito Santo. Nele era completamente verdadeiro, mas em nós é uma posição a ser tomada e depois a se tornar real à medida que procuramos andar no Espírito.
E assim chegamos ao Pentecostes. Tem a Igreja na sua representação ou núcleo sido batizada na Sua morte? Bem, olhe para aqueles! Antes de eles serem reestabelecidos no terreno da ressurreição, eles são batizados na Sua morte suficientemente bem. Eles chegaram a um fim quanto a todos os recursos humanos, quer para entenderem qualquer coisa, quer para verem através de algo, ou para serem capazes de fazer alguma coisa. Eles estão praticamente mortos e sepultados - nenhum prospecto, nenhum futuro. "Ora, nós esperávamos..." nós ESPERÁVAMOS, o verbo no passado - "que fosse ele quem havia de remir Israel", essa esperança agora se foi, não há nada. Sim, eles foram de fato batizados na Sua morte. Mas agora, no dia de Pentecostes, o que nós encontramos? Eles são levantados como um vaso, e o Céu está aberto, e o Espírito vem e o enche, e a partir daquele momento tudo é pelo Espírito. Eles tinham um novo conhecimento - e como o conhecimento deles cresceu, mesmo na Palavra de Deus! A Palavra de Deus, que, para eles era o Antigo Testamento, tinha sido em grande medida um livro fechado, espiritualmente. Eles apenas o tinham na letra, e eles estavam todos errados nas suas interpretações do livro, como chegou a ser demostrado. Agora a Bíblia é nova para eles, porque estão num novo terreno; potencialmente no dia novo do Espírito.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.