por T. Austin-Sparks
Capítulo 13 – A Expressão Corporativa do Homem Celestial
Ler: Efé. 3:17–21, 4:1–10.
O fato de o Senhor Jesus ser o Homem Celestial é abordado em vários pontos nesta leitura. Aqui no capítulo quatro temos a seguinte afirmação “Ele ... subiu acima de todos os céus...” enquanto tudo o que se segue no capítulo está relacionado à presente expressão do Homem Celestial como estando aqui neste mundo.
Já mencionamos este aspecto no evangelho de João; vimos lá o Homem Celestial em pessoa como presente tanto aqui no mundo como, ao mesmo tempo, no céu. Agora nós O encontramos novamente em efésios, mas desta vez com um sentido mais amplo; pois aqui nós próprios temos a ver com a expressão corporativa do mesmo Homem Celestial em Seu Corpo, que é a Igreja.
E esses dois são um, não meramente por causa de sua relação, mas por causa de sua própria vida; são um em sua fonte, em sua mente, em sua consciência, em sua natureza, em suas leis de vida, em seu propósito, em seu método, em seus tempos. Não há nada que se refira a eles como Homem Celestial em que eles não sejam um. Não é apenas a unidade que nasce de um entendimento ou de um acordo, mas é aquela unidade que é fruto de ser um em substância, em essência.
Novamente, estamos falando de Cristo como o Homem Celestial, e não como Deus. Nesta expressão corporativa, não é o caso de o Corpo agir no lugar da Cabeça, de a igreja agir no lugar do Senhor. Não há independência nem separação de responsabilidade. É o próprio Senhor continuando a Sua própria em Seu Corpo, e através dele; no todo há um só Homem. Não é que o Senhor abriu mão de Sua identidade pessoal, que tenha cessado de continuar sendo uma Pessoa distinta, mas sim que, a partir de Sua própria humanidade celestial, Ele deu de Sua própria substância, de Sua própria constituição, de Sua própria vida, a fim de constituir um Corpo que é um com Ele, que é parte dele mesmo. Este é o Corpo de Cristo como apresentado aqui. Este é o Homem Celestial corporativo expresso.
Jamais foi pretendido que a Corpo, a igreja, fosse algo em si mesma, mas, desde a eternidade, ela sempre esteve destinada a ser “a plenitude daquele que a tudo preenche”. Por isso ela não tem qualquer existência separada dele, nem tem sua existência separada do propósito de Deus nele. Estes fatos, simples com são, em afirmação, são profundos, e muito prospectivos em seu significado. Eles governam e determinam o que a igreja é. Tudo o que leva o nome de “igreja” (na acepção neotestamentária do termo) mas que não é a continuação do Filho neste universo, não existe no pensamento de Deus.
Agora, isto envolve várias coisas, as quais são apresentadas no capítulo que temos diante de nós.
Primeiramente, isto envolve uma vida que pelo Espírito Santo está em todos os membros de Cristo. “Há... um Espírito”; “Esforçando-vos diligentemente para guardar a unidade do Espírito...” Há uma vida pelo Espírito Santo. Somente assim Cristo alcança a Sua plenitude em Seu Corpo, e a igreja cumpre o Divino pensamento por sua existência, chega ao Divino propósito.
Já procuramos ver como o Homem Celestial em pessoa foi, em cada detalhe, governado pelo Espírito, na medida em de tal governo dependia o cumprimento de toda a revelação de Deus a respeito dele. Todas as escrituras anteriores apontavam para Ele, e aguardavam o seu cumprimento nele; Ele deveria ser o cumprimento de todas elas, até nos mínimos detalhes. Teria sido uma impossível e esmagadora responsabilidade ter aceitado isto mentalmente, ter sentido uma consciência, em cada instante de Sua vida, que Ele era responsável por tudo o que estava escrito nas escrituras. Ter tido isto em Sua mente teria sido uma carga intolerável, impossível de suportar. Ele teria sido a pessoa mais introspectiva que jamais existiu. A cada momento Ele teria que perguntar: Estou fazendo a coisa certa? Estou fazendo a coisa da maneira correta? Estou fazendo o que eu deveria fazer, segundo as Escrituras? Porém, a vida dele, sendo governada pela unção, sob o controle do Espírito Santo, mostrou que Ele, espontaneamente, e por meio de uma consciência interior que Ele tinha através do Espírito Santo, em relação ao que era, e ao que não era a mente de Deus, realmente cumpriu toda a revelação.
Agora, o que foi verdade sobre Ele pessoalmente deve ser verdade no sentido corporativo. Aqui está uma revelação concernente a Jesus Cristo que saiu dos conselhos eternos de Deus, uma revelação de grande significado, um grande sistema espiritual, celestial, concentrado nele, e que deve ser expressado, levado a cabo, realizado nele corporativamente, como o foi pessoalmente. Mas como é possível cumprirmos, realizarmos e alcançarmos isto, de modo a ter o seu cumprimento e expressão em nós? Somente na base de uma vida pelo Espírito Santo em todos. É isto que dá força à exortação nesta mesma carta “...enchei-vos com o Espírito”. Isto dá o real significado e valor a todo o ensino concernente ao Espírito Santo — o receber do Espírito, andar no Espírito, ser conduzido pelo Espírito — porque apenas assim aquilo que foi produzido na mente de Deus, a respeito de Seu Filho, terá a sua realização plena no Corpo de Cristo. Quão necessário, então, é para todos nós vivermos no Espírito. Não é suficiente que apenas alguns de nós vivam no Espírito; é importante que todos assim o façam; que ninguém caminhe na carne.
A segunda coisa, que é parte da mesma verdade, mas com uma aplicação, talvez, mais profunda, é a necessidade de um reconhecimento, de uma diligência em se manter uma vida inter-relacionada e inter-dependente. É algo a ser reconhecido antes de tudo, a ser levado em conta, e, então, é algo que devemos ser diligentes em manter. Isto é, todos os membros de Cristo estão relacionados; há uma inter-relação. Nós não somos muitas partes separadas, fragmentos, indivíduos; estamos todos relacionados; e não apenas isto, mas também somos todos dependentes uns dos outros. Em relação ao propósito de Deus, não podemos fazer nada sem o outro. Em qualquer outro nível, que não neste, até poderíamos ser capazes de fazer algo sem o nosso irmão. Se estivéssemos vivendo no plano natural, poderíamos, talvez, dizer para algumas pessoas, que nós podemos fazer algo sem elas, porém, quando vamos para a luz do propósito de Deus, então somos governados por uma inter-dependência. Descobrimos que precisamos uns dos outros, que somos dependentes uns dos outros, em relação à plenitude de Deus. Sobre este fato temos uma clara indicação nas palavras “para que possais compreender com todos os santos”. Nós não podemos compreender estando separados uns dos outros. Nenhum de nós jamais irá ser capaz de compreender o todo. Precisamos da ajuda de todos os santos para compreendermos juntamente com eles.
Esta não é uma afirmação de um fato, mas uma verdade à qual somos imediatamente submetidos à prova. Nós dizemos: Bem, temos visto o Corpo de Cristo, temos visto a igreja! Quanto a termos exergado a igreja da forma correta, isto será provado por termos ou não percebidos a nossa inter-dependência. Se algum de nós tomar a atitude de que podemos abrir mão do outro membro de Cristo, que tenha este espírito, o tal ainda não tem visto verdadeiramente o Corpo de Cristo. Talvez tenha visto alguma coisa, mas não o Corpo de Cristo; ainda não viu que este Corpo precisa ser a plenitude de Cristo. Todos os santos precisam desta plenitude. O Senhor Jesus, em Sua própria maneira, em Sua própria maneira parabólica, colocou o dedo sobre princípios e leis o tempo todo — “Vede, não desprezeis alguns destes pequeninos...” (Mat. 18:10); “Na verdade, quando a um destes pequeninos não o fizestes...” (Mat. 25:45). Este não é apenas um tipo de comunidade de coisas, uma fraternidade; estamos frente a frente com uma lei quando é dito que será necessário todos os santos para que cheguemos à plenitude de Cristo, para que possamos expressá-la. Se temos visto a igreja de Cristo, também devemos ter visto a inter-dependência de todos os membros, e devemos estar vivendo na base de que o Corpo é um.
O apóstolo nos exorta à diligência em relação a isto. Precisamos reconhecer que o Corpo é um, e, então, precisamos empregar toda a diligência para guardar a unidade do Espírito. Imagino que o apóstolo, no tempo em que escreveu sua carta, sabia muito bem quanta diligência isto requeria. Ele estava começando a perceber quão fácil era para os cristãos abrirem mãos uns dos outros, tomar a atitude de que eles podiam fazer as coisas sem a ajuda do seu irmão, ou sem a ajuda de alguns deles; quão fácil era para eles se dissolverem, tomarem atitudes descuidadas, não serem diligentes em guardar a unidade.
Esta manutenção da unidade é uma coisa positiva. Ela representa um estar completamente empenhado nesta direção. Não é apenas o caso de desejarmos, de querermos, de considerarmos isto como a melhor coisa, como algo necessário, mas de nos aplicarmos realmente a isto. Isto exige que apliquemos diligência para guardar a unidade do Espírito.
É isto o que se quer dizer com “vos renoveis no espírito do vosso entendimento”, o que, novamente, significa vestir-se do “novo homem”, o Homem Celestial. Assim, na passagem diante de nós, imediatamente segue a exortação prática: “Portanto, deixando de lado toda a falsidade, falai a verdade uns para com os outros, pois somos membros uns dos outros.” O renovar do espírito da nossa mente se desenvolve na medida em que falamos a verdade uns para com os outros, na medida em que deixamos toda a falsidade. Por que falar uma mentira? Nós não faríamos isto deliberadamente. Qual seria o ponto em se falar algo que não é verdadeiro? Qual seria o sentido de minha mão esquerda lançar uma injúria contra a minha mão direita, sabendo que no final ambos irão sofrer? Similarmente “nós somos membros uns dos outros”. Na outra mente, na mente do velho homem, o qual é mencionado aqui, há uma lacuna a respeito desta vida corporativa, desta inter-dependência, e deste inter-relacionamento, onde se reconhece que todos são necessários e indispensáveis. Você pode colocar as pessoas para fora deste terreno; pode se livrar delas, pode alcançar o seu objetivo, pode obter alguma vantagem em apenas suspender a verdade. Mas aqui nós estamos tratando com uma entidade, e esta entidade não pode estar em conflito, não pode ser constituída de coisas diferentes, mas de apenas uma única coisa. Precisamos ser renovados no espírito da nossa mente, vestindo-nos deste Homem Celestial Corporativo.
Estes versículos novamente são dignos da nossa atenção, à luz do que estamos falando:
“Se é que o tendes ouvido, e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus; que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” Efésios 4:21-25.
Esta é a nova mente do “novo homem”, o qual é renovado no espírito do princípio, da lei, da realidade do inter-relacionamento e da inter-dependência.
Eu preciso de você; você é indispensável para mim. Eu jamais poderei realizar o meu destino, o propósito da minha existência, separado de você. Qual é, então, o ponto em eu lhe falar mentiras? Se existe alguém sem o qual o nosso destino, o propósito da nossa existência e todo o nosso objetivo é impossível, é perdido, e, mesmo assim o que temos é um relacionamento de engano, de mentira, que contradição! Esta é a força das palavras aqui. “Somos membros uns dos outros”, portanto, devemos ter uma só mente; e falar a verdade uns para com os outros é a marca do “novo homem”, do Homem Celestial o qual possui uma só mente. Mentiras dizem respeito a mentes contrárias.
A Terceira coisa que isto implica é que, para a realização e expressão progressiva deste Homem Celestial, no tempo e na eternidade, a Cabeça celestial tem dado dons.
“Ao subir às Alturas, levou Ele cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. (...Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para que pudesse preencher todas as coisas.)” (Efé. 4:8–10).
Há um Homem Celestial em pessoa que é a Cabeça celestial, que dá dons aos homens para a realização e expressão progressiva de Si mesmo na condição de Homem Celestial Corporativo.
Devemos interromper aqui, a fim de olhar para este parêntesis nos versos nove e dez. Ele carrega consigo este fato de que Cristo desceu antes que subisse. Ele não teve os Seus começos aqui. Naturalmente nós sabemos disto, mas este é o argumento do apóstolo; Sua origem não era aqui. Por Sua ascensão deve ser entendido que primeiro Ele desceu. Há o Homem Celestial descendo e permanecendo aqui entre os homens, o Homem Celestial na encarnação; Ele veio do céu. Após descer, Ele subiu, a fim de que pudesse preencher todas as coisas. Todo o universo deve ser preenchido com o Homem Celestial.
Agora, primeiro você precisa pegar este pano de fundo, para que possa compreender e apreciar aquilo que se segue a respeito dos dons. Em relação a este preenchimento de todas as coisas pelo Homem Celestial, haverá o aumento do corpo. Este capítulo é parte de um todo. Cristo não está aqui separado do Seu Corpo. Aqui o Homem Celestial em pessoa e o Homem Celestial Corporativo são trazidos juntos como sendo um em propósito. No início da carta, o apóstolo mostrou como antes dos tempos eternos, no pensamento de Deus, este Homem Celestial veio do céu e foi achado aqui, porém, mesmo estando aqui, ainda continuava no céu. Agora Ele, pessoalmente, será a plenitude universal, e esta plenitude se dará através da igreja: “...a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, por todas as gerações, para todo o sempre”. Em relação a este preenchimento universal, deverá haver este aumento do Corpo: “...no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor.” Na carta aos colossenses há uma palavra muito parecida:
“...E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. (Col. 2:19).
Ele irá preencher todas as coisas por meio do Seu Corpo, que é a Sua plenitude. Então o Corpo deve crescer, aumentar, ser acrescentado em estatura, até que chegue à plena medida de Cristo. E com vistas à este crescimento, os dons celestiais são dados pelo Homem Celestial a este Corpo celestial.
Então, quero que você observe outra coisa. Esses dons são, eles mesmos, uma medida de Cristo: “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.” (Efé. 4:7). Os dons são uma medida de Cristo, e, portanto, são todos destinados a produzir a plenitude de Cristo, a levar a esta plenitude. Em sua própria maneira eles representam uma plenitude de Cristo ministrada no Corpo. Eles servem para constituir a medida plena.
Tendo visto isto, podemos agora olhar para os dons mencionados.
“E Ele deu uns para apóstolos...” (não está dito “para ser” apóstolos). Então, precisamos conhecer o que o apóstolo representa como medida de Cristo. Qual é o seu valor em trazer a plenitude de Cristo por meio do Corpo, da igreja, o Homem Celestial Corporativo? É impressionante reconhecer que o apóstolo aparece primeiro devido ao valor a ele associado. O que são apóstolos? Há uma palavra que expressa o significado de apóstolos, e esta palavra é “autoridade”. A autoridade vem primeiro.
Sabemos que, gramaticalmente falando, a palavra apóstolo significa “enviado”. Olhe novamente e veja a sua significação na Palavra de Deus. Tome a palavra enviado onde quer que você a encontre e veja o que há nela. Olhe, por exemplo, para a parábola do proprietário que plantou uma vinha. Ele enviou seus servos aos lavradores, a fim de receber os frutos. Eles foram em sua autoridade, e os maus lavradores, espancando-os, desprezaram completamente a autoridade do mestre. Como você vê, a aplicação a Israel é tão incisiva. O ponto da parábola é que eles estavam recusando reconhecer a autoridade de Deus em Cristo. Quando o próprio dono da vinha vier para tratar da situação, ele irá destruir os lavradores. Baseado em que ele fará isso? Fará isso porque ele não obtém sua própria gratificação pessoal nos frutos? Não! Ele assim o fará porque eles se recusaram a reconhecer a sua autoridade que estava em seu filho — “...ele enviou-lhes o seu filho...” Onde quer que você encontre a palavra “enviado” do Senhor, você encontra a Sua autoridade. Isto é um apóstolo.
Quando você considera cuidadosamente a questão do apostolado, você vê que tudo que constituía um apóstolo representava autoridade. Um apóstolo era um servo do Senhor especialmente constituído. Havia uma lei bastante rígida que governava o apostolado (no que concerne aos doze); um apóstolo devia ter visto o Senhor na ressurreição. Ele não poderia ser apóstolo se o Senhor não tivesse aparecido a ele, pois não teria tido em primeira mão o conhecimento do Senhor ressuscitado. Este conhecimento em primeira mão o investia de autoridade. Era uma questão de o Senhor ter aparecido pessoalmente a ele.
Se você for para a carta aos hebreus, irá descobrir que o Senhor Jesus é referido como sendo Apóstolo e Sumo Sacerdote. A própria frase imediatamente nos faz voltar em pensamento aos escritos de Moisés, e percebemos como ela combina com o que Deus estabeleceu em Moisés e Arão, respectivamente. Moisés, como apóstolo, e Arão, como sumo sacerdote, representam dois aspectos do Senhor Jesus. Moisés representa autoridade. Desde o início, quando Deus começou a usá-lo, até o fim, Moisés representou a autoridade de Deus. A vara de Moisés tornou-se a vara de Deus, e, por meio dela, a autoridade de Deus foi mostrada. A autoridade de Deus estava tão investida em Moisés que Deus chegou a dizer, em relação a Arão: “...tu serás para ele como Deus” (Êxo. 4:16).
Nós observamos mais tarde como isto funcionava. Quando havia aqueles que tentavam destituir a Moisés, ou assumir uma posição igual a dele, veja como a autoridade se expressava. Moisés jamais precisou defender sua posição. Quando a disputa se levantava, em relação a sua posição, sendo o mais manso entre os homens, ele apenas dizia ao Senhor, em efeito: Senhor, estou eu aqui devido a Tua própria autoridade, ou não? Tenho eu me agarrado a esta posição? Tenho eu buscado autoridade, ou é o Senhor quem me tem colocado aqui com autoridade? Eu deixo isto contigo, para que fique conhecido se a minha posição é de mim mesmo, ou se és Tu quem me nomeaste. O Senhor convocou o povo à porta do tabernáculo e tomou a causa de Moisés, e você sabe o que aconteceu. Isto se deu devido ao que ele representava como apóstolo.
“Toda autoridade é me dada no céu e na terra. Portanto, ide…” (Mat. 28:18). Assim, um apóstolo é alguém que possui autoridade Divina para o estabelecimento e o prosseguimento do testemunho Divino. Você pode ver isto em Moisés. O Senhor apareceu a Moisés e lhe falou face a face. Nenhum outro entrou neste domínio. Embora eles tivessem subido a montanha, não foram exatamente ao mesmo lugar que Moisés. Era com Moisés que o Senhor falava como um homem fala a seu amigo, face a face. Então, até o fim, a única coisa que governa Israel é esta: “...o Senhor falava a Moisés...” Ao final da constituição do tabernáculo, há todo um capítulo no qual sete ou oito vezes aparece a seguinte frase: “...o Senhor ordenou a Moisés”. Isto fala da autoridade absoluta que tinha vindo através de Moisés, o apóstolo de Deus. Bem, com esta autoridade ele estabeleceu e manteve o testemunho; a autoridade que ele tinha era para este propósito.
Ou, novamente, tome o apóstolo Paulo, o qual, talvez, acima de todos os demais, destaca-se como apóstolo, e você vê que a sua comissão e autoridade era, acima de tudo, para estabelecer e manter o testemunho em todo os lugares. Ele fala aos coríntios que, se ele fosse a eles na autoridade que ele havia recebido, que isto não seria bom para alguns deles, porque ele estava investido com a autoridade para manter puro o testemunho.
Agora, o que isto diz a nós? É o Senhor! Este é o fator da autoridade celestial de Cristo no Homem Celestial Corporativo. Isto pode ser administrado através de indivíduos. O ponto é que é uma característica do Homem Celestial, e está ativa na igreja. Estamos face a face com o fato de que Cristo, em Sua autoridade celestial, está na igreja para o estabelecimento de Seu testemunho, e sua manutenção. Onde o testemunho do Senhor está lá, pelo Espírito Santo, e as pessoas têm que reconhecê-la.
Naturalmente, embora tenhamos que tomar estas coisas em nossos corações, em nossas próprias vidas pessoais, nós as dizemos como quem tem que instruir outras pessoas. Como servo do Senhor, você não pode ter um reconhecimento muito claro de quão definida é esta operação da autoridade de Cristo em Seu Corpo. Ninguém, em lugar algum, pode entrar em relação com esta expressão corporativa de Cristo, que é constituída pelo Espírito Santo, sem se tornar responsável pelo testemunho do Senhor que está lá, e, se você violá-lo, você sofre. Você não pode simplesmente ligar-se, e escapar das implicações. Se você violar o testemunho, da unidade do Corpo de Cristo, ao ser trazido em real contato com ele, você irá morrer. Você pode morrer fisicamente. Você pode ter um final trágico. Sem dúvida alguma você irá passar por sofrimentos e castigo; porque você não se tornou membro de um movimento, algo meramente humano; você entrou para o lugar onde a custódia do propósito eterno está investido no Espírito Santo, o qual trabalha no espírito do apostolado, e a autoridade de Cristo está lá. Este é o significado preciso daquelas palavras na primeira carta aos coríntios: “Por esta causa há muitos fracos e doentes entre vós, e alguns que já dormiram”. “não discernindo o Corpo do Senhor” (1 Cor. 11:30). Você entra num terreno onde as coisas não são tomadas como mera doutrina, como uma organização, como algo humano com o qual você pode fazer o que quiser; você veio para um lugar onde a autoridade de Cristo é uma realidade operante. É uma coisa terrível entrar na Casa de Deus se você não tiver disposto a se tornar adequadamente conformado.
Este é um lado, um lado terrível. Mas há outro lado que possibilita descanso de coração e segurança para aqueles que carregam responsabilidades adicionais na casa de Deus; onde é possível dizer: ‘Bem, nós não precisamos suportar toda a responsabilidade que está nas mãos do Espírito Santo, na autoridade de Cristo, para conhecer aquilo que é contrário à verdade, e à lei da casa de Deus’. Não precisamos ficar ansiosos, neste sentido, porque é nossa responsabilidade. O Senhor celeste colocou uma operação de Sua autoridade na igreja. Pode haver disputa a respeito desta autoridade no vaso. O inferno pode disputar, como em Filipos, em Éfeso, ou em muitos outros lugares, e pode mostrar sua mão em veemente antagonismo e resistência. Mas qual é o ponto? A autoridade de Cristo sempre triunfa.
O estabelecimento do testemunho por todo o Império Romano através do apóstolo Paulo, é uma maravilhosa manifestação do supremo senhorio de Jesus Cristo sobre todos os poderes. Não se trata apenas de se obter o melhor da mentalidade do homem, de vencer o preconceito e as dificuldades entre os homens; trata-se da conquista das terríveis forças do inferno. Forças cósmicas são abatidas e derrotadas quando o testemunho é estabelecido através de um apóstolo. É o fato da autoridade celestial de Cristo no Corpo, pelo Espírito.
Agora, o que são os profetas na assembléia? Na palavra, o profeta é o instrumento para a expressão da mente do Senhor, e isto é geralmente colocado contra a expressão da mente do homem. Bem oportuna é a injunção que já observamos, “...sejais renovados no espírito de vossa mente...” Porque, no Homem Celestial Corporativo, o Corpo, a mente do Senhor deve predominar, operar, ser suprema. A mente do Senhor é a única mente neste “novo homem”, neste Homem Celestial. Você deve ser renovado no espírito de sua mente, se quiser alcançar a mente do Senhor. A mente do Senhor vem através de um instrumento chamado profeta. Ele é o intérprete da mente do Senhor. Ele traz para o Corpo o conhecimento da mente do Senhor. Isto, como dissemos, envolve o por de lado a mente do homem.
Estamos pensando, naturalmente, de como os profetas do Velho Testamento são uma fonte da confirmação daquilo que acabamos de dizer; pois, se você examinar a questão, irá descobrir que eles vêm diante do povo em relação aos direitos de Deus em Sua Casa. Esses direitos estavam sendo colocados de lado pelo povo. A mente do homem estava tomando o lugar da mente de Deus, e isto contribuía geralmente para o mal, de modo que, não demorava muito para que os próprios direitos de Deus lhes fossem negados em Sua própria Casa, entre o Seu próprio povo.
Tome Elias como exemplo. Elias se destaca proeminentemente entre os profetas em relação aos direitos de Deus, e em Carmelo se dá a grande crise entre os direitos de Baal e os direitos de Deus em relação a Israel. Elias é um instrumento para o estabelecimento dos direitos de Deus de forma absoluta, para a destruição total daquela outra mente, representada nos profetas de Baal. Aqueles direitos são expressos em termos da mente de Deus para o Seu povo, e, assim, todos os profetas trazem a mente de Deus; interpretam-na; mantêm a mente de Deus perante o Seu povo, e batalha em relação a ela, para que Deus tenha o Seu lugar, tenha as coisas de acordo com a Sua mente.
Isto, novamente, é uma operação do Homem Celestial em Seu Corpo, a fim de manter as coisas em conformidade à mente de Deus. Não estamos pensando, no momento, especificamente em pessoas que possamos costumeiramente chamar de profetas. Não estamos nos referindo ao ofício, mas à função. O funcionamento vital é a que está diante de nós, e qualquer um que seja ungido e capacitado pelo Espírito Santo para manter os pensamentos de Deus no meio do Seu povo, a fim de fazer com que o Seu povo conheça a mente de Deus, de modo que Deus tenha o Seu lugar e Seus direitos, e todas as demais mentes sejam colocadas de lado, tal pessoa está cumprindo o ministério de um profeta. Nós estamos tão acostumados a começar pela outra extremidade, com a linha técnica das coisas, aquela de nomear profetas. Olhemos para a função, não para o homem, e vejamos que é Cristo quem é o Profeta, e que nesta qualidade Ele ministra através de algumas pessoas as quais Ele dá para a expressão da mente Divina como em Si mesmo. É perfeitamente possível combinar essas funções em um só indivíduo.
Agora, o que são os evangelistas? Numa palavra, o evangelista é aquele que torna Deus conhecido através do evangelho, que descortina o coração de Deus em graça, e a função do evangelista é garantir material para a expressão do Homem Celestial Corporativo. Assim, começamos com a autoridade em Cristo, Cristo no lugar de suprema autoridade acima de todos os céus. Então, temos a mente de Deus em Cristo. E aqui temos o coração de Deus em Cristo. O evangelho da graça destina-se a assegurar o aumento, reunindo material para o Homem Celestial.
Agora chegamos aos pastores e mestres. Estes dois são trazidos juntos. O material está sendo reunido, o Homem Celestial está progressivamente sendo trazido à existência e chegando à Sua eterna plenitude. Agora, embora o material esteja sendo reunido, e o Homem Celestial esteja progressivamente sendo trazido junto, a próxima necessidade é por pastores e mestres, e a função aqui é a de ajustamento e adequação deste Homem Celestial. O ajustamento é trazido por meio do ensino, da instrução. O propósito da instrução é o de nos ajustar, de nos trazer para o nosso lugar, para a nossa correta relação, de nos levar para uma compreensão de Cristo, para o nosso relacionamento com Ele, e com os nossos irmãos nele. A instrução tem a ver com questões tais como os recursos do cristão em Cristo, e tudo o que está representado no Homem Celestial. Esta é a obra do mestre. O pastor é aquele cuja função é a de ajustar, apascentar, nutrir. Edificação por meio da justa operação à verdade revelada é o que temos aqui.
Mas tudo isso não acaba aí. O apóstolo, o profeta, o evangelista, o pastor e o mestre, são dados a fim de que o Homem Celestial Corporativo, derivando os valores dessas funções, ministre a edificação mútua, visando o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. Edificação mutua, ministério mútuo, isto é o que deve resultar desses dons. Porque estamos recebendo os benefícios desta ministração em Cristo, temos que fazer tais benefícios se tornarem uma ministração mútua, de modo que o Corpo seja edificado, expanda-se com o aumento de Deus, cada parte na medida exata produzindo o aumento.
Se isto soa como algo técnico para você, podemos exortá-lo a se manter longe do ensino, e de qualquer coisa que seja um sistema de verdade, e mantenha o Senhor à vista. Mantenha o Senhor mesmo à vista, e veja que a única coisa que governa todas as demais é a vinda de Cristo em plenitude de vida e expressão cada vez maiores neste universo através da igreja, que é o Seu Corpo.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.