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"Escrito Não Com Tinta"

por T. Austin-Sparks

Reunião 3 – O Efeito das Cartas Vivas

23 Fevereiro 1957 em Hsinchu, Taiwan.

Quero que vocês vão para o Evangelho de Lucas, no capítulo 8, e gostaria que ficassem com este capítulo aberto diante de vocês, embora não iremos lê-lo todo. Leremos apenas um ou dois versículos:

"E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele,
e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens."

Agora voltemos novamente ao primeiro versículo: “E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele”. Eu me pergunto se vocês percebem exatamente o que está acontecendo aqui. Como alguns de nós chegamos aqui no ônibus da igreja, passamos por vários lugares pelo caminho, e, se Deus quiser, partiremos na próxima manhã, e iremos visitar outras cidades e vilas desta ilha. Estamos fazendo exatamente o que o Senhor fez aqui neste versículo. É dito que Ele percorreu várias cidades e vilas, pregando e levando as boas novas do reino de Deus. Bem, é uma coisa boa estar fazendo a mesma coisa que o Senhor fez, mas quero que vocês estudem este versículo, porque há uma coisa aqui que é de grande importância, tanto para a vida cristã, como para o serviço cristão.

Suponho que neste lugar esta noite haja três tipos de pessoas. Pode haver algumas que ainda não conheçam o Senhor Jesus de uma maneira viva; para elas trazemos as boas novas do reino de Deus. Então, há cristãos que conhecem o Senhor. Bem, nós temos algo a dizer para vocês. E, ainda, talvez haja os servos do Senhor aqui, e há uma palavra para eles também.

Prova Viva

Agora observem como Lucas descreveu esta obra. Ele disse que Jesus percorreu pelas cidades e vilas, e, então, ele nos diz que Jesus fez duas coisas. Essas duas coisas não são a mesma coisa. Ele disse: “pregando e levando as boas novas”. Talvez vocês pensem tratar-se da mesma coisa. Bem, por que Lucas usou duas palavras diferentes? Se pregar era suficiente, por que não usou ele apenas a palavra “pregar”? Por que adicionou a palavra “trazer”? Bem, aí está uma coisa muito importante para nós considerarmos, porque Lucas imediatamente prossegue e nos diz que, com Jesus, estavam os doze discípulos e certas mulheres.

Vocês entendem, uma coisa é pregar as boas novas, e outra é levar as boas novas na presença de pessoas que já foram transformadas pelas boas novas. Uma coisa é falar sobre as boas novas, outra, é levá-las. E aqui está; Ele trouxe as boas novas na presença dessas pessoas. Ele não apenas pregou o Evangelho; Ele trouxe o Evangelho em pessoa; Ele era capaz de dizer: “Não é somente o que estou dizendo aqui; mas é a prova de vida". Naturalmente, isto é uma coisa muito importante para nós, e, para os não salvos é dito uma coisa. Se houver algumas pessoas não salvas aqui esta noite, gostaria de dizer o seguinte para elas: Não é somente o que estamos falando a respeito de Jesus Cristo; não estamos pregando apenas alguma doutrina; é que nós podemos afirmar a vocês que há vidas que são a própria prova de que a pregação é verdadeira. Pedimos a vocês para fazer mais do que simplesmente ouvir o que estamos dizendo. Gostaríamos que vocês olhassem para Maria Madalena e aquelas outras pessoas que vieram para provar que este Evangelho é algo muito verdadeiro. Assim, não pedimos para vocês simplesmente aceitarem certas coisas que dizemos; pedimos para que vocês olhem e vejam se isto é verdadeiro, e a resposta será encontrada, não nas coisas que pregamos, mas na vida das pessoas ao redor de vocês. Vocês sabem, a prova do Evangelho está nas vidas que o Evangelho tem transformado.

Testemunho Vivo

Agora uma palavra para os cristãos. Vocês sabem, é para isso que somos cristãos. Por que somos cristãos? Será que é somente para que pudéssemos ser salvos; que pudéssemos ter paz com Deus; que pudéssemos ter alegria em nosso coração; que pudéssemos ir para o céu? Será que isto é tudo? Oh não, há algo mais do que isso. Somos cristãos para que possamos dar testemunho de que o Evangelho é verdade. Vocês sabem, Jesus levava esses homens e essas mulheres com Ele por onde quer que Ele fosse, e Ele podia dizer em toda vila e em toda cidade: “Esses são a prova daquilo que estou pregando a vocês”.

Não estou dizendo que foi por isso que cheguei num ônibus da igreja lotado de pessoas, mas estou dizendo que este é o real propósito da vida cristã. Vocês e eu devemos, em nossa própria vida, provar que o Evangelho é verdadeiro. Vocês querem saber se o Evangelho do reino de Deus é verdadeiro? Então olhem para a minha vida, veja o que Jesus tem feito em mim; vejam a grande mudança que Ele fez. Este é o grande propósito de sermos cristãos. É ser a evidência que prova que o Evangelho é a verdade.

Obra Viva

Agora, para os cristãos obreiros, há uma palavra para vocês. Isto representa o método do Senhor na edificação da Sua Igreja. Sempre deve haver algo presente que seja de Deus. Deus não edifica a Sua Igreja apenas com palavras que são faladas. Vocês sabem, se assim fosse, quanto mais edificação haveria. Pensem em todas as pregações que são ministradas todas as semanas ao redor do mundo, e, talvez, nos países onde não há pregação lá seja os que tenham a menor edificação. Se a coisa fosse somente uma questão de pregação, então a Igreja deveria crescer tremendamente. Mas não é só a pregação; não é apenas falar do Evangelho, pois, o método de edificação do Senhor é ter algo que seja dele mesmo e, então, acrescentar isso. Está dito no livro de Atos que o Senhor acrescentava à Igreja. O Senhor tinha uma representação real de sua mente, e Ele acrescentava isso. Ele não apenas acrescentava porque as pessoas pregavam; Ele tinha algo que era de Deus, e acrescentava isso.

Agora vocês sabem que aqui nas cidades e nas vilas havia algo que era de Deus. Para começar, como dissemos esta tarde, Jesus representava aquilo que era de Deus, e, então, esses homens e mulheres representavam algo de Deus. Era como se Deus estivesse levando isso para as cidades e vilas; reunindo a elas e acrescentando-as a isto. Vocês sabem que é exatamente isso o que acontecia.

Agora observem duas coisas quando chegamos ao final da vida terrena do Senhor Jesus; quando Ele foi crucificado, a multidão de pessoas não estava com Ele, mas sim contra Ele. Houve alguns momentos na vida dEle quando grandes multidões se reuniam ao seu redor, mas, no final de sua vida, as multidões o tinham deixado. Porém, quando você vai para as cartas de Paulo, encontramos algo muito interessante. Paulo falou de como o Senhor Jesus apareceu para ele na estrada para Damasco, mas ele disse que, antes disso ter acontecido, após a ressurreição, o Senhor Jesus apareceu para 120 pessoas, e, então, noutra ocasião, apareceu para cerca de 500 pessoas de uma vez só. Havia um grupo de 120 e outro de cerca de 500, e Jesus apareceu a essas pessoas após a sua ressurreição. Quem eram elas? De onde tinham vindo? Vieram daquelas cidades e vilas. Vocês sabem, lá elas haviam sido agregadas a Cristo; lá elas haviam se tornado o núcleo da Igreja. É assim que a Igreja é edificada. O Senhor precisa ter algo de si mesmo ao qual possa acrescentar.

Vocês querem que a Igreja cresça nesta cidade? Bem, preguem, preguem por palavras, preguem por meio das jaquetas com mensagens, preguem de toda a maneira, mas, acima de tudo, lembrem-se de que isso é apenas a metade do negócio. A outra metade é a pregação do Evangelho do reino de Deus; a outra metade é ser a evidência de que o Evangelho é verdade. Isto é, que haja um corpo de pessoas que prove que aquilo que vocês estão pregando é realmente verdadeiro. Isso é fundamental para a edificação da Igreja.

Suponha que vocês apenas preguem e daí as pessoas cheguem e não consigam enxergar o Senhor Jesus em vocês, então este Evangelho que vocês pregaram será tudo em vão. A edificação da Igreja só pode ocorrer quando temos alguma coisa ao qual o Senhor possa realmente acrescentar algo a ela. Para que a pregação seja efetiva, é necessário que tenhamos algo de Deus presente.

Ser Efetivo

Bem, aí estão as nossas três palavras para três diferentes pessoas. Tendo dito isso, gostaria de lhes dizer outra coisa. O que Jesus estava realmente fazendo ao ir às cidades e vilas? A resposta é esta: Ele estava descobrindo o que havia para Deus em cada lugar. Ele entrava numa cidade e descobria o que havia nela para Deus. Ele entrava numa vila e descobria o que havia nela para Deus. Vocês percebem que imediatamente após isso, é-nos dito que Jesus falou a parábola do semeador? Observem no versículo quatro: “E, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo de todas as cidades ter com ele, disse por parábola." Suponho que todos aqui conhecem a parábola do semeador, de modo que não preciso lê-la, mas, qual era o objetivo da semeadura? O objetivo era descobrir aquilo que era de Deus.

Três tipos de pessoas reagem à semeadura da semente. Na verdade, quatro tipos, mas somente um deles prova que são pessoas realmente interessadas em trabalhar com Deus. As outras três classes realmente nunca seguem o Senhor. Assim, o Senhor estava descobrindo onde estavam as pessoas que realmente queriam se comprometer com Ele, o que havia na terra para Deus. Assim, a Palavra de Deus divide as pessoas em duas classes principais: aqueles que não querem negócio com Deus, e aqueles que querem. É para isso que serve a pregação, e é para isso que servem os cristãos. Nós estamos aqui para ter este efeito neste mundo.

O efeito de estarmos aqui neste mundo deve ser uma coisa ou outra. Não deve ser que não haja efeito algum neste mundo. Nossa presença deve ter este efeito: que algumas pessoas decidam que não vão aceitar, e sejam forçadas a se opor. Pode ser que elas digam: "Eu não vou seguir o seu caminho!” Pode ser que decidam lutar contra você. Bem, contudo, você estará tendo um efeito. Por outro lado, pode ser que outras pessoas digam: “Sim, vou seguir com você". Vocês sabem, a presença de Deus deve levar as pessoas a tomarem uma decisão definitiva, seja sim, seja não.

Sinto muito que seja necessário dizer isso, pois, há tantos cristãos neste mundo que não estão provocando esse tipo de reação nas pessoas. Elas olham para eles, mas não sentem que precisam tomar uma decisão. Elas não dizem nem “sim”, nem “não”. Os cristãos não são fortes o suficiente para fazer com que as pessoas tomem uma decisão definitiva. Novamente perguntamos: para que estamos aqui neste mundo? Bem, é para criarmos esse efeito. As pessoas precisam dizer sim, ou não. Este é o efeito da presença de Jesus neste mundo, e este foi o efeito desses apóstolos após Jesus ter ido para o céu. Ninguém era capaz de permanecer indiferente. Bem, digo novamente: é para isso que estamos aqui neste mundo. Se de fato há algo de Deus presente, então, é isso o que vai acontecer. Isso irá revelar o que há para Deus, e irá fazer separação entre aqueles que irão ser para Deus, e aqueles que não. É importante que seja desta maneira.

Agora, há muito mais coisa neste capítulo, porém, não temos tempo para isso, e, talvez tenhamos que parar por aqui e dar apenas uma ilustração. Paulo nos deu uma maravilhosa ilustração disso. Vocês irão encontrá-la em 2 Coríntios 2:14-16, "Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida". Agora, talvez vocês não reconheçam esta ilustração que o apóstolo está dando. O que ele está falando é o seguinte: ele estava colocando diante dessas pessoas algo com a qual elas estavam muito familiarizadas. Um general romano tinha ido para a guerra, e, naturalmente, como era comum naqueles dias, os romanos venceram a guerra e este grande general trouxe muitos prisioneiros com ele. Eles seguiam todos acorrentados atrás de sua carruagem, de modo que o general levava os seus prisioneiros no trem de seu triunfo, e, por todos os lugares, a procissão toda parava e lá eles faziam uma celebração da vitória. O general levantava a sua mão na direção de seus prisioneiros e dizia: “Aqui está a evidência da minha vitória. Vocês ouviram falar que eu venci a guerra, e isso não é apenas uma notícia de jornal; aqui está a prova. Aqueles prisioneiros são a prova de que eu sou vitorioso." E a procissão seguia para outro lugar, onde faziam outra celebração, e assim sucessivamente. É isto que significa que deve haver algo para Deus; mas havia outra coisa que acontecia. Era decidido que alguns prisioneiros teriam que ser colocados à morte; eram homens que deviam morrer; e também havia outros prisioneiros que não seriam colocados à morte; suas vidas seriam poupadas.

Agora, nesses lugares onde eles paravam as suas procissões, o sacerdote edificava um altar, e sobre ele oferecia incenso. E, enquanto o incenso subia, todos cheiravam a sua fragrância, e os prisioneiros condenados à morte eram mortos; e, aqueles cujas vidas eram poupadas, esses eram colocados em liberdade. Paulo disse que nós estamos na procissão do triunfo de Jesus, porém, temos esses dois efeitos neste mundo. Somos o bom perfume de Cristo, mas o efeito sobre algumas pessoas será a morte, porque elas se rebelam contra Jesus Cristo; elas não o terão como Senhor e Mestre de suas vidas; elas não dirão: “Ele é o vencedor”, por isso serão condenadas. Mas, por outro lado, há aqueles que dirão: “Sim! Jesus é o Senhor! Jesus é o Vencedor”. Respondemos a isso e o efeito da nossa pregação é colocá-los em liberdade. É uma maravilhosa ilustração que Paulo nos dá; ela nos mostra para que servem os cristãos.

O próprio Paulo era um dos prisioneiros de Jesus Cristo, e ele dizia: “Jesus me conduz de lugar para lugar”, e Jesus nos diz hoje: “Vocês querem saber se eu sou Vencedor, se realmente eu venci esta grande guerra contra o pecado e contra Satanás? Se vocês quiserem saber isso, então olhem para Paulo!” É para isto que estamos aqui. O Senhor deve ser capaz de apontar para nós e dizer: “Aqui está a evidência da minha vitória!”, e, se os homens não crerem, entrarão em condenação. E, se crerem, então serão salvos. Jesus percorria as cidades e vilas, pregando e levando as boas novas do reino de Deus. Alguns disseram “Não”, e por isso foram condenados à morte; outros disseram “Sim”, e entraram na vida.

Agora, eu pedi para o Senhor, quando iniciamos a conferência nesta manhã, para tornar 2 Corinthians 2:14-16 verdadeiro em nossa experiência em todos os lugares por onde passarmos; que em toda parte possamos ter a celebração da vitória de Cristo. Creio que teremos isto esta noite. Que o Senhor conduza vocês na caravana do Seu triunfo, e que, através de vocês, celebre a vitória de Cristo em suas vidas, de forma que homens e mulheres possam dizer “Sim”, ou “Não”.

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