por T. Austin-Sparks
Capítulo 3 – Cristo a Glória da Nova Aliança
Leitura: 2 Cor. 3.
Devemos ter em mente que o objetivo governante de tudo que é espiritual é a luz do conhecimento da glória de Deus. Temos visto que isto é o objetivo da criação, e que quando a luz foi primeiramente introduzida, foi para a glória de Deus. Na atividade criadora de Deus, tudo que veio após a introdução da luz era para o conhecimento da glória de Deus. Assim, na nova criação, a intenção da luz resplandecendo nos nossos corações é para que cheguemos a esse conhecimento.
Este mesmo objetivo governa o novo método e meio da revelação da verdade estabelecida no capítulo 3, a respeito da nova aliança.
Devemos ter esse pensamento governante em mente todo o tempo. A luz do conhecimento da glória de Deus está aqui conetada com o ministério, o qual é visto como sendo o resultado de tal conhecimento.
A glória de Deus é algo revelado, e o que temos neste capítulo é um paralelismo entre a velha e a nova aliança. Nós é mostrado, primeiramente, que os meios da revelação da glória de Deus são as alianças. A primeira aliança era um meio para a revelação da glória de Deus, e da mesma maneira é a nova aliança. Os ministros dessa revelação são, no primeiro caso, Moisés, e no outro, Cristo.
A natureza dessa revelação é a perfeição da ordem Divina, e o acompanhamento dessa revelação é glória. Quatro coisas são para se ter em mente.
(1) O meio da revelação são as alianças.
(2) Os ministros da revelação são Moisés e Cristo respectivamente.
(3) A natureza da revelação é a perfeição da ordem Divina.
(4) O acompanhamento da revelação é glória.
Talvez, você se pergunte o que se quer dizer pela perfeição da ordem Divina. Bem, nós sabemos que, com tudo que o Senhor disse para Moisés no monte – e não foi pouco – a coisa governante, a coisa preeminente, eram as tábuas da lei, as tábuas que depois se tornaram conhecidas como o testemunho. A arca foi feita para a manutenção dessas tábuas da lei, e a arca se tornou conhecida como a arca do testemunho. As tábuas da lei, a lei dos mandamentos, governava toda a revelação dada a Moisés no monte; podemos dizer que ressumiam essa revelação. Tudo estava ligado a essas leis, das quais o número era dez. Dez, ao longo da Palavra de Deus, é sempre o número da perfeição da ordem Divina.
Aqui a ideia apresentada é o da personificação, da soma total, digamos assim, da revelação Divina da aliança. Existe uma grande diferença entre a velha e a nova, mas a diferença não está em Deus. A nova aliança não faz nenhuma diferença em Deus. A aliança que é trazida para nós pela mediação do Senhor Jesus não traz um Deus diferente para nós. A diferença não está Nele; isto é, Sua natureza e Seu padrão são sempre os mesmos, imutáveis. A graça nunca reduz Deus a um nível mais baixo. A graça não faz nenhuma diferença com a santidade de Deus, ou com a justiça de Deus. A diferença nas duas alianças não é o de uma mudança em Deus. Sua posição permanece como sempre foi, perfeito em santidade, perfeito em justiça. A diferença é, primeiramente, nos mediadores, em segundo lugar, no terreno sobre o qual esses mediadores permanecem.
Isso nos leva a este assunto da glória, e ao efeito da glória. A glória estava conetada com a velha aliança. Quando lemos do terror, do medo, do pavor, do efeito petrificante no povo, somos propensos a pensar disso como sendo o fruto de algo muito diferente de glória. Provavelmente, o povo teria timidamente reconhecido a revelação como sendo de glória, mas a teriam chamado de terror, horror, se eles tivessem expressado seus sentimentos de verdade. Eles não teriam falado dela como glória: e contudo foi glória. Foi uma revelação verdadeira de Deus, e Ele é, acima de todas as coisas, o Deus da glória; mas é claro, para o homem foi uma glória terrível. O terror não tinha nada a ver com Deus. O pavor, e o horror, e o medo foram resultantes da condição de fraqueza do homem. Aqui está uma revelação de Deus, como Deus é, as perfeições morais de Deus, o padrão elevado de Deus, um padrão que, se fosse obtido entre os homens universalmente, transfiguraria o universo. Apenas pense do mundo sendo mantido, por completo, no padrão de Deus, como é revelado mesmo na lei. Pense do mundo inteiro amando o Senhor seu Deus com todo seu coração, com toda sua alma, com toda sua mente, com toda sua força, e amando seu próximo como a si mesmo. Isso somente iria longe na transfiguração deste mundo. Mas existe muito mais do que isso na lei. Se você a contempla, em si mesma há algo glorioso. Mas quando você se coloca defronte a essa revelação, e descobre quão outro você é, e quão positivamente contrário você é a ela – não porque você não será outro, mas porque você não pode ajudar-se a si mesmo – e descobre ainda que Deus não diminuirá esse padrão, demanda que, e diz, “A menos que eu tenha isso, você perecerá!”, então, é isso, por causa de nosso estado e nossa fraqueza, a revelação de Deus em glória se torna terrível.
Isso significa que a glória se torna condenação. É muito provável que a mentalidade de Israel era algo assim, que sempre que a glória do Senhor aparecia na porta da tenda, eles instintivamente diziam, o que há de errado? A aparição da glória fez eles sentirem instintivamente que algo estava errado, que devem haver problemas. Por quê isto? Porque a aparição dessa glória sempre tinha sua ocasião na falha do homem, e na sua carência da glória de Deus, e Deus tinha que aparecer para conscientizar ao homem do fato de que ele estava caindo do Seu padrão para Seu povo. Essa é a velha aliança, a antiga glória.
Isto está relacionado com a perfeição da ordem Divina, e sempre que a ordem Divina era violada, mesmo num ponto, havia um conflito com a glória de Deus, o qual significava juízo. Mas somos conduzidos pelo Apóstolo à segunda glória, a glória acompanhando a nova aliança. Nós não descemos a um nível mais baixo: Deus mantém a Sua posição, Deus mantém a Sua totalidade; porém, nós começamos num outro ponto. Aquilo que Deus é em Si mesmo, a perfeição da ordem Divina, é agora estabelecida no Mediador mesmo, Quem permanece, portanto, em grande contraste a Moisés. O mediador da velha aliança não conseguiu aproximar a si mesmo do padrão Divino; ele tinha que oferecer sacrifícios pelo seu próprio pecado. Mas aqui está o Mediador da nova aliança, Quem não age meramente como um tipo para declarar o que Deus é, mas Quem é Ele mesmo, o Antítipo. O Senhor Jesus é em si mesmo a personificação da perfeição da ordem Divina, e isso agora como homem, o Homem mesmo, a personificação da expressão da perfeição da Sua ordem Divina. Cristo é essa revelação pessoal de Deus. Isso significa que Cristo é a plena satisfação do padrão de Deus. O pleno padrão é respondido, e Sua exigência máxima satisfeita e suprida na Pessoa do Mediador, Cristo.
Existem, é claro, dois lados para a mediação de Cristo. Por um lado, Ele nos representa. Ele assume, numa maneira representativa, nossa posição, nosso lugar; digamos, Ele assume o lugar tipificado em Israel, trêmulo e com medo, apavorado, horrorizado, por causa da consciente fraqueza. Isso justamente, somos nós. Ele assume esse lugar, entra na nossa fraqueza, no nosso fracasso, na nossa imperfeição, entra representativamente em tudo aquilo que somos, o qual é tão contrário ao que Deus teria. Aquele que não conhecia pecado, foi feito pecado por nós. Esse é um lado. Ele assume isso, e é crucificado através da fraqueza. O Senhor Jesus, não numa maneira inerente, mas numa maneira representativa diante de Deus, tomou nossas enfermidades e nossas fraquezas, nossas imperfeições.
Depois, está o outro lado, onde Ele satisfaz totalmente Deus, todas as exigências de Deus, e numa Pessoa reúne estas duas coisas. Nele é tirada da presença de Deus, toda a nossa fraqueza, nossa imperfeição, nossa pecaminosidade, nossa incapacidade de satisfazer as exigências de Deus. Tudo isso é tirado Nele pela morte, e colocado fora da vista de Deus, depois, tudo que Ele é como o Homem perfeito, entra, e o terreno que era ocupado anteriormente por esse homem falho, fraco, é agora ocupado por Ele. De modo que Deus não vê agora esse outro homem, mas, um Homem perfeito, satisfazendo completamente Ele. Cristo assim, une em Sua própria Pessoa representativamente, duas raças, duas criações, uma velha e uma nova, e então, põe de lado pela morte uma e estabelece a outra. É assim como Ele é o Mediador de uma nova aliança. Portanto, diante de Deus está estabelecida uma humanidade que satisfaz Deus totalmente. Essa é a graça de Deus em Cristo.
Dessa maneira, é possível para nós apreciar, desfrutar, a glória de Deus na face, na humanidade, na natureza humana de Jesus Cristo. Ele é a satisfação de Deus. Coloquemo-lo mais completo ainda. Cristo é Deus satisfazendo a Si mesmo pelo homem; o Senhor encontrando a Sua própria satisfação num Homem, provendo esse Homem para Si mesmo.
Agora, seguindo em frente com o Apóstolo, a seguinte coisa que ele diz é, que Cristo, esse Cristo triunfante, esse Cristo que satisfaz Deus, esse Cristo que tem tirado da vista para sempre esse homem falho, fraco, o homem impotente e sem esperança, esse Cristo, esse glorioso Cristo, está dentro de nós como Senhor quando cremos, e isso pelo Espírito. Ele está no interior com todo o valor da satisfação Divina.
Você e eu precisamos manter este terreno mais e mais em vida na nossa consciência. Não estamos tratando agora com a nossa salvação, mas com o nosso ministério. Isto é básico para o nosso testemunho, para o nosso ministério. De maneira que agora percebemos que através da fé, Cristo, a plena satisfação de Deus, está dentro de nós como o Senhor o Espírito, e todos os valores Dele tendo satisfeito a mais extrema demanda de Deus estão lá no nosso interior como Cristo está em nós, a única esperança, a certa esperança da glória.
O ponto ao qual chegamos é este – e é talvez, o pivote para nosso propósito presente – somos chamados para contemplarmos Cristo. O Apóstolo, no capítulo que estamos considerando, insta a uma contemplação, a um olhar, a fixar os olhos em Cristo. Somos chamados para contemplá-lo. Cristo é para ser o único objeto de nossa ocupação. A menos que assim seja, não haverá ministério. Está em conexão com isto que o Apóstolo diz, temos este ministério. É o ministério resultante da revelação interna do Senhor Jesus com Quem estamos continuamente ocupados; em outras palavras, o ministério que brota de nosso envolvimento com Cristo nos nossos corações, com o Cristo que satisfaz totalmente Deus. Se por um momento, você ou eu falharmos em manter nossos olhos Nele, nesse sentido, nos acharemos procurando pela satisfação de Deus em algum outro lugar, em nós mesmos provavelmente, e isso é fatal. É fatal para a esperança; fatal para a certeza; fatal para o descanso, para a alegria; traz imediatamente morte: é fatal para o ministério. Qualquer um que tenha se separado de sua ocupação com Cristo, neste sentido de Sua satisfação a Deus, é alguém que está sem testemunho, e sem ministério. Creio que é o estabelecimento sobre isto, que jaz por trás da demora no ministério por parte de muitos dos filhos do Senhor. Eles não estão estabelecidos sobre este fato básico, todo inclusivo, de que não existe nenhuma exigência neste universo feita por Deus que não tenha sido satisfeita no Senhor Jesus por eles. Até que você e eu estejamos estabelecidos lá, Deus não nos confiará o ministério.
Qual é a natureza do poder do ministério? É o resultado espontâneo de uma apreensão de Cristo como a satisfação de Deus a nosso favor; vendo Cristo como tendo respondido a maior demanda de Deus por nós, e isso não objetivamente, mas agora como tendo entrado no nosso interior, para estabelecer essa satisfação a Deus no centro de nosso ser. É maravilhoso pensar que aqui, dentro deste vaso falho, fraco, imperfeito, e tudo que é por natureza, Deus está vendo aquilo que satisfaz Ele. Bem no centro existe aquilo que satisfaz Deus; um Deus como Ele, com olhos que veem a mais remota mancha de iniquidade. Isso é salvação absoluta, satisfação absoluta, e isso é Cristo em nós. Os olhos da glória de Deus, olhando, podem descansar com o deleite sobre nós, porque Cristo está em nós, e nós estamos em Cristo. Essa é a nova aliança por meio, ou, no Seu Sangue; não o Sangue de outro, mas Seu próprio Sangue.
Então, o segredo de toda benção é estar ocupado com Cristo, o qual por sua vez, se torna ministério. O verdadeiro ministério é a benção do Senhor nos nossos próprios corações. Se o nosso ministério não é isso, não chegará muito longe. É a partir do conhecimento do Senhor, do alargamento do Senhor, da revelação do Senhor no nosso interior como o deleite de Deus, o bom prazer de Deus, que o ministério brota.
Primeiramente, estarmos ocupados com Cristo resulta na libertação do Espírito Santo. O Apóstolo diz, “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado. Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”. Se converta ao Senhor, e o véu lhe será retirado. O Senhor é o Espírito, e onde o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Liberdade do que? Bem, se nos convertemos ao Senhor, e estamos ocupados com Ele da maneira que temos indicado, o Espírito Santo nos liberta. Pode ser que você esteja lutando, esforçando-se, combatendo, pelejando, orando, suplicando, ansiando, desejando, pedindo ao Senhor para libertar você da condenação, do medo, daqueles laços nos quais Israel estava quando a glória aparecia. Você quer ser liberto do medo, do pavor, do terror, da condenação? O que você está fazendo para ser livre? Existe uma maneira simples, direta, a saber, ficar ocupado com o Senhor, se converter ao Senhor. Tenha Cristo como a satisfação de Deus no seu entender, e cesse de tentar satisfazer Deus você mesmo. Fé em Cristo é toda a exigência de Deus. Quão profundamente verdadeiras foram Suas palavras, “Sem mim nada podeis fazer”. “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim”. Isso é somente linguagem figurativa, o qual significa, fique ocupado comigo, fixe sua mente Nele, habite Nele, descanse Nele, permaneça Nele; ou, como Paulo diria, contemple Ele, deixe Ele ser o objeto de sua ocupação, e o Espírito fará você livre.
Mais do que isso, esta contemplação de Cristo significa que o Espírito Santo transforma você na semelhança de Deus: “Contemplando… somos transformados”. Não é dito, Contemplando, começamos a nos transformar, embarcando na auto-transformação com toda sua luta, e conflito, e combate. Somos transformados pelo Senhor o Espírito. Fique ocupado com Cristo, e o Espírito assumirá o assunto de transformação na Sua imagem. Esteja ocupado com você mesmo, e você verá que a lei da conformidade a tipologias operará. Se você é a tipologia, então você se conformará a essa tipologia. Se Cristo é o modelo, então o Espírito Santo conformará a Sua semelhança.
Depois, ficarmos ocupados com Cristo significa que o Espírito Santo nos faz capazes como ministros de uma nova aliança. Não penso que o ministério é apesar de tudo, pesado. Devemos voltar para a simplicidade e espontaneidade do ministério. Fique ocupado com Cristo, e o Espírito Santo mostrará você mais e mais em Cristo com o que ficar ocupado, e enquanto Ele faz isso vividamente real você terá algo para dar a outros. Quem quer mais do que isso? Ó, a armadilha da ideia da plataforma que muitas vezes constitui toda a concepção do ministério, como se as outras pessoas não fossem de modo algum ministros! É tanto o seu privilegio contemplar Cristo quanto o de qualquer homem neste universo, e, sendo assim, é igualmente seu chamado para ministrar o que você vê em Cristo para outros. Contemplando Ele somos transformados na mesma imagem de um degrau de glória a outro. Está e a segunda glória, a glória da nova aliança. Cristo é a glória da nova aliança. A diferença não está em Deus, é a diferença entre mediadores, e a diferença na posição que ocupamos por causa do Mediador; nós estamos agora em Cristo, Aquele que satisfaz Deus.
Que o Senhor nos dê o ministério emanado de uma contínua e uma cada vez mais crescente contemplação de Sua plenitude em Cristo.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.