por T. Austin-Sparks
Capítulo 3 – A Igreja na Esfera Espiritual
A pesar de já dissermos bastante acerca de espiritualidade, e isto em relação ao novo homem e nosso espírito, não tenho falhado em reconhecer que tudo isto é perfeitamente sem sentido a menos que conheçamos o próprio Espírito Santo . Espero que ninguém tenha a impressão de que estamos falando somente acerca de nossos espíritos; tudo é Sua obra, tudo depende de Ele, e é por Ele que a espiritualidade, no sentido Divino, é possível. É muito necessário sempre honrar o Espírito. Nós, sob Seu governo e direção em todas as coisas, e reconhecendo Seu Senhorio, temos que considerar o assunto de nossa própria medida de vida e natureza espiritual, porque isso é uma coisa tremendamente importante, como penso que temos visto.
Em nossas prévias meditações estivemos ocupados com o princípio geral da espiritualidade, indo até a reconstituição pessoal e interior pelo novo nascimento de homens e mulheres espirituais. Depois, seguimos em diante desde o centro até a circunferência da efetividade espiritual, e vimos onde a espiritualidade tem sua registração suprema – isto é, na esfera dos poderes espirituais por detrás das coisas visíveis, as forças espirituais que estão operando e as quais têm que ser enfrentadas e combatidas – e é lá que nossa medida espiritual é testada e encontrada, quando estamos realmente contra uma situação satânica.
Agora estamos chegando ao que é intermediário a estas duas, entre o centro da reconstituição pessoal, e o limite extremo de sua efetividade e valor. O que se situa entre estas duas é o testemunho corporativo, que tem a ver com a Igreja e as igrejas. No esquema Divino das coisas, é a Igreja que é a intermediária, aquilo que permanece entre e tem o efeito último na esfera espiritual, quero dizer que cristãos individuais, ainda que sejam nascidos de novo, como indivíduos não chegarão muito longe em tocar essa esfera extrema de forças espirituais. Lá, um real registro tem que ser corporativo. A Igreja será eventualmente o instrumento do governo Divino neste universo. Por isso é necessário para nós gastar uns minutos com a Igreja antes de vir para as igrejas; e é claro, estamos continuando mantendo diante de nós o assunto da espiritualidade. Aqui a espiritualidade quer dizer o que a Igreja é na mente de Deus. Quando vamos contemplar a Igreja em sua plenitude e totalidade, é claro, chegamos principalmente às cartas aos Efésios e aos Colossenses. Lá encontramos a mente de Deus acerca da Igreja. Devemos compreender da necessidade para nós ver e apreender o que a Igreja é na mente de Deus, não como a encontramos nas igrejas, não como é atualmente aqui; e nós devemos permanecer nessa base, ou seremos impotentes neste assunto do impacto espiritual. Digo que, se vamos aceitar o que encontramos no Novo Testamento conforme às igrejas como sendo a expressão de tudo o que há, vamos muito em breve nos dar por vencidos da luta, e não conseguiremos chegar muito longe. Dr. Campbell Morgan tem comentado que frequentemente se ouve a palavra – oh, vamos voltar à igreja do Novo Testamento! Mas, ele dizia, Deus me livre! - e passava a dizer que você verá por um longo caminho hoje, uma igreja cristã que totalmente corresponda em seus defeitos à igreja em Corinto. Quando você pensa sobre isso, tem algo de verdade nisso. Uma igreja em que há incesto e tudo o que você encontra em Corinto! - Deus me livre de voltarmos à igreja do Novo Testamento se isso é! Deus me livre que disséssemos que não temos feito nenhum progresso disso! Se vamos aceitar isso como padrão, vamos ficar aleijados, e a medida de nossa espiritualidade será certamente muito pequena, e por consequência, a medida de nosso impacto também. O apóstolo que era principalmente responsável por estas igrejas que estavam vindo a ser, repudiava suas condições, não as aceitaria, lutava em contra. Por quê? Porque ele tinha visto a mente de Deus; essa era sua posição, seu terreno vantajoso, sua força. Se ele nunca tivesse visto a mente de Deus, e apenas visto isto, que homem desmotivado, desapontado, desesperado ele seria! Ele viu a mente de Deus sobre isso.
É a Igreja que está em vista nestas epístolas, e a espiritualidade em Efésios e Colossenses primeiramente significa uma revelação interior da mente de Deus acerca da Igreja. É algo tremendo para a força espiritual, para o poder espiritual, para o ministério espiritual, para o impacto espiritual, para a comida espiritual – sim, para cada valor espiritual – ter tido realmente uma revelação no coração da mente de Deus acerca da Igreja; não ter simplesmente estudado Efésios e Colossenses, mas o ter derramado em teu coração, o ter visto de uma forma interior. Digo que isso é espiritualidade com um impacto, é espiritualidade com dinâmica; e que dinâmica é! Veja o apóstolo, ele dá a atenção pelas igrejas ao final de sua vida. Ele as conhece intimamente; e ele tem que dizer - “todos os que estão em Ásia me têm abandonado” (2Tim. 1:15). Eles repudiaram Paulo a quem, sob Cristo, lhe deviam tudo. Ele olha; e que espetáculo, que desgosto! E o homem em suas circunstâncias de aprisionamento, isolação e limitação, olhando para isso, poderia ter morrido com um coração partido, ou ter afundando no desespero extremo e escrito sua vida como um fracasso, e todo seu trabalho para quase nada. Mas este homem não está lá embaixo, ele está em triunfo, ele é liberto, ele é salvo, ele é emancipado de tudo isso. Os fatos são verdadeiros e reais, e no entanto ele está triunfante. Por quê? Porque ele vê a mente de Deus acerca da Igreja e sabe que, se Deus alguma vez já teve uma ideia acerca de algo, Ele vai tê-lo dessa maneira; e, não importa o que as aparências digam, no fim Deus vai ter Sua Igreja assim. Deus não concebeu e projetou algo para logo ser enganado do mesmo. Lá está e será!
Quando você compreende isso, você é capaz de chegar mais perto destas cartas e ver o valor da espiritualidade em geral e em particular. Em geral, assim. Uma verdadeira compreensão espiritual é uma coisa emancipadora. O espiritual não é o irreal, é o mais real de tudo. É muito mais real do que o temporal e visível. As coisas eternas são as coisas reais. Você não vê esta Igreja aqui na terra; não é vista, mas está lá no invisível, com Deus, e é a coisa eterna. Se nós somente víssemos o invisível – isso é uma declaração extraordinária, “ele perseverou, porque via aquele que é invisível” (Heb. 11:27). - se apenas víssemos o significado invisível, e apenas víssemos no espírito o que nunca pode ser visto na carne com nossos olhos naturais, seria algo tremendamente emancipador, porque veríamos que isso é o espiritual que deve ser. Quando tudo demais passar, isso será. A espiritualidade te encoraja. Existe tantos desapontamentos nas igrejas, nas coisas que se veem e que você pode desistir em desgosto, encerrar tua obra e ir e fazer um outro trabalho; mas você não faz isso se você realmente tem visto. Você pode falar consigo mesmo que você é um tolo por não encarar os fatos, que você está simplesmente com uma venda nos olhos, não tendo em conta a realidade; mas por causa de algo que Deus fez dentro, você não pode aceitar isso, você deve seguir em diante. Você não pode aceitar a ruína total da teoria , se você teve uma revelação.
Esta revelação da Igreja opera em assuntos específicos, e você pode ver por que a revelação é semelhante poder quando você vem a olhar estas cartas. Você encontra, primeiramente, que a espiritualidade quanto à Igreja, relaciona-se em particular a sua eternidade, ou, se você quiser, a sua atemporalidade, pois o apóstolo, pelo Espírito, em sua carta aos Efésios, quase que imediatamente traz luz sobre isso. Não é algo que tem sido trazido à existência em algum ponto no tempo. “Ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo”: “preordenado”: vem de lá trás, a um ponto sem data, fora do tempo. Ele vê a eternidade passada ligada com a eternidade futura, até os séculos dos séculos. Ele eleva a Igreja bem fora do tempo e a coloca onde não existe tempo, e diz que tem saido desse passado e segue indo até este futuro. E quando você entra lá, algo vai acontecer. Deve estar, o tempo não pode fazer nenhuma diferença. Se isto fosse algo que nós criamos ou levantamos, algo do crescimento do cogumelo ou simplesmente de nossa vida, iniciado por nós e terminado conosco, bem, o custo não vale a pena. Aqui o apóstolo vê além dos aspectos temporais da Igreja, e diz que a Igreja segundo o pensamento de Deus é algo intemporal. Tanto quanto a nós se refere, não temos data de seu começo e não existe data para seu fim. É claro que não podemos explicar isso, mas esse fato é declarado – e isso é espiritualidade. A Igreja está na eternidade, é atemporal. E quando seja estabelecida com Deus afora do tempo, que a pode alterar? Deve estar! Está com Deus; Deus sai do eterno propósito para garantir no tempo algo que é eterno; não algo que pertence apenas ao “agora” do tempo, mas no tempo algo eterno é garantido. Quão difícil! Quão impossível é falar destas coisas! Deus saindo do eterno propósito eterno, segundo o eterno propósito que Ele realizou em Cristo antes da fundação do mundo – há algo tremendo acerca disso, tão estável, tão fixado, tão irrevocável.
Aqui, nesta conexão, está o principio da presciência e soberania do Espírito Santo. Eu consigo entender que você deve ter algum tipo de Calvinismo. Você pode não percorrer por todo seu caminho, você pode ter serias reservas, mas você tem que ter um espaço para algo do principio disso, porque aqui está. Deus está vindo ao tempo para garantir algo eterno segundo a presciência e predestinação, e se você quiser uma explicação e aplicação simples disso, ouça o que o Senhor disse ao Apóstolo sobre Corinto. “não temas, Paulo...pois tenho muito povo nesta cidade” (Atos 18:10). Não “Vou ter” mas, “tenho” - antes deles serem salvos. Isto mostra o Espírito vindo da presciência e soberania, para que, se Ele obtiver um instrumento que pode realmente direcionar, Ele sabe para o que Ele vai dirigir esse instrumento. Você vê a operação deste principio da presciência e soberania na vida deste homem, Paulo. “Eles foram pela região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra em Ásia; e tendo chegado diante da Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu” (Atos 16:6-7); e então a intervenção Divina, Europa, Filipos. Por quê? Não sabemos por que, nós apenas podemos supor. Ásia não está pronta, o turno da Bitínia não tem chegado. Por aqui estão prontos, haverá uma resposta. O Espírito sabe, Ele tem presciência e está atuando soberanamente em relação ao eterno conhecimento, e o assunto prova estar certo. Você vê o funcionamento disto. Deus não está operando por chances aleatórias, como se Ele dissesse, apenas vai aqui e veja se há alguma coisa. Isso não é Deus. Pode parecer assim conosco, mas isso não é Deus. Ele conhece; Ele veio da eternidade, e um ministério guiado realmente pelo Espírito é quase romântico ao tratar com a necessidade, bem no tempo quando está pronto para ser tratada. A qualquer custo, esse é o romance do Novo Testamento. O Espírito diz a Filipe em Samaria, “Levanta-te, e vai em direção do sul pelo caminho que desce de Jerusalém a Gaza” (Atos 8:26). Ele vai, sem saber por que. Mas na presciência de Deus lá, bem na hora e lugar, tem um homem, e ele está maduro, e o Senhor faz um contato. Deus está se movendo a partir do propósito eterno, isto não é simples chance. Mas aqui tem um tremendo principio, e você pode ver a operação da lei da espiritualidade tanto quanto à Igreja se refere, que Deus está operando desde o propósito, garantindo um objetivo ao tempo. É algo tão solido, tão forte. Conheço todos os mistérios e todos os problemas ligados com isso, mas aqui está o fato, que Deus não está apenas operando da mão para a boca. Ele está operando com uma completa presciência. A Igreja, na mente de Deus, existia antes de seu primeiro membro ter nascido, e Ele conhecia cada membro antes desse primeiro membro ter nascido. Digo que é algo forte para nossas vidas, se temos visto alguma coisa assim.
É claro, isto não acaba com a pregação, ou com a procura de almas, ou com o terrível conflito sobre as almas. Todavia, temos que vir sob a mão do Espírito para procurá-las. Temos que ir e pregar, e muitas vezes pregar à vontade sem saber o que Deus têm lá. Tem que ser feito na fé, e muitas vezes temos que entrar, e passar, por um terrível conflito; e no entanto, a soberania Divina é ainda a mesma. Podemos achar que com a soberania Divina operando desde o eterno propósito, a coisa vai acontecer em qualquer caso. Ah, não, não vai. Temos que pregar, labutar, batalhar, procurar. Estas duas coisas não são contraditórias, elas são complementarias.
Voltemos para o segundo pensamento na mente Divina concernente à Igreja como a encontramos nestas cartas – sua celestialidade essencial desde o ponto de vista de Deus. Na carta aos Efésios, a repetição constante é “nos lugares celestiais em Cristo”. Devemos procurar dispensar nossa mentalidade natural e almática acerca disso. Não estou dizendo que não exista tal lugar como um céu geográfico, mas devemos excluir esse tipo de mentalidade de geografia, e entender que “nos celestiais” é primeiramente um principio espiritual antes de qualquer outra coisa, e isso, embora possa significar que Cristo está em numa certa localidade geográfica, contudo, espiritualmente, significa uma esfera totalmente fora desta ordem do mundo. Você sabe bem que duas pessoas podem estar lado a lado, tão perto como duas pessoas podem estar, e contudo, eles podem estar em duas esferas absolutamente diferentes. Esse é o principio dos lugares celestiais; se refere a uma esfera espiritual totalmente diferente. Sim, é verdade, está acima, elevada, mais alta, mas isso é primeiramente espiritual, antes do que qualquer outra coisa. É uma diferença espiritual num nível totalmente mais alto do pensamento Divino – não desta ordem, não, como diríamos, terrestre; é celestial, é num sentido espiritual nos celestiais em Cristo. Bem, claro, isso não precisa de explicação. Você pode se assentar em sua cadeira e estar nos lugares celestiais. Às vezes nos sentamos aqui, e ao mesmo tempo estamos muito longe. Não estou querendo dizer que somos sonhadores, mas estamos tendo um bom tempo com o Senhor, estamos em nossa consciência realmente longe. Não estou falando acerca do físico agora, mas da alegria real espiritual do Senhor de maneira que nos esquecemos das pessoas ao redor; estamos, para todos os intentos e propósitos, em outro lugar. Isso é algo comum na vida espiritual, ou espero que é, conosco. É algo celestial desde o ponto de vista de Deus, e é dinâmico quando realmente o temos visto. Quando realmente tem vindo a nós no poder do Espírito Santo é dinâmico, porque antes que nada, resulta em coisas tremendas em nós. Oh, o que tem feito essa revelação com alguns de nós! Quando nossa concepção era de uma Igreja terrena, como estávamos absortos com sua religiosidade, suas formas e procedimentos! Todo esse sistema de coisas significava muito para nós. Então Deus rompeu com Sua concepção da Igreja como algo celeste, e tudo isto caiu de nós como um manto; se foi, e a partir desse momento até agora temos sentido como de fútil e insignificante era tudo. Mas isso não acontece até que você tenha visto em teu coração; e te imploro, não vai e faça coisas meramente porque ouve estas coisas sendo ditas. Peça ao Senhor por revelação. Não sai do que é terreno até que Deus tenha rompido sobre você Sua matéria celestial. “sair ismo” somente cria problemas para Deus como também para o homem. Uma vez que você veja a mente de Deus sobre a Igreja como algo celestial, é libertador, faz tremendos desafios dentro e fora, e te coloca num lugar sendo capaz de ministrar numa forma que satisfaz a necessidade, traz a plenitude celestial, e Deus cumpre. Numa palavra, resulta em aumento espiritual ter realmente visto a natureza celestial da Igreja. Este assunto do que a celestialidade é na Igreja poderia nos manter ocupados por muito tempo.
Uma outra questão. A concepção de Deus da Igreja, ou espiritualidade, aqui em Efésios concerne não só sua atemporalidade e sua celestialidade, mas sua universalidade. Quão compreensivo é o pensamento de Deus! Em nossas mensagens anteriores temos procurado mostrar quão compreensivo Cristo é nele mesmo, personificando em Sua própria Pessoa tudo, de nenhuma forma sendo apenas parcial, mas reunindo tudo nele mesmo, e no entanto, estando bem por fora de tudo. Cristo, tão grande que nenhuma nação que jamais existiu, ou existe, ou existira, encontrará Ele inapropriado, inaplicável, mas com todas suas diferenças, traços nacionais, temperamentos e constituições, encontraram nEle, cada um delas, a resposta a suas necessidades. Ele abrange todas as nações, Ele é o desejo de todas as nações. E dentro das nações, todas as características diferentes que marcam indivíduos separados encontram suas repostas nEle. Quão compreensivo Ele é, quão vasto, e no entanto, quão diferente! Sim, Ele satisfaz a necessidade do judeu, mas Ele não é essencialmente um judeu; Ele satisfaz a necessidade do grego, mas Ele não é essencialmente um grego; Ele satisfaz a necessidade dos gentis, mas Ele não é essencialmente um gentil. Como Filho do Homem, Ele satisfaz cada necessidade de cada nação e tribo, e contudo, Ele não é nenhum deles. Ninguém pode dizer – Ele pertence exclusivamente a nós. Você não pode encontrar que os judeus dizem que Cristo pertencia exclusivamente aos judeus; Ele repudiaria isso, e você sabe muito bem que você não se atreveria a retratar Ele assim. Tissot, o grande artista escriturístico, quando ele pintou suas pinturas sobre a vida de Cristo, pintou todas as figuras ao redor de Cristo em suas distinções nacionais e distintivas localidades. Um romano era obviamente um romano em suas imagens, um judeu era obviamente um judeu, e assim por diante; ninguém tem que te falar que este homem é um judeu, e esse homem é um romano. Quando ele chegou até Cristo, ele não ousou lhe dar tais distinções. Ele não se atreveu pintar Ele como um judeu ou como um romano. Cristo perderia Seu valor real para todas as nações se você lhe desse uma característica e carácter distintiva nacional. Ele tem que ser retratado del tal maneira que é tanto uma combinação de todos e contudo, diferente de todos; e esse era o problema de Tissot o qual ele tentou resolver nesse retrato. Mas é claro, um retrato pictórico é sempre uma coisa perigosa. Meu ponto é este, que Cristo personifica todos, e contudo, Ele está por fora de todos. Existe uma universalidade acerca dele que reúne toda carência e a satisfaz, e no entanto, é maior e diferente disso tudo.
E seu Corpo é constituído de acordoa Ele mesmo. Você não pode ter uma igreja inglesa, uma inglesa chinesa, uma igreja indiana, uma igreja judeia, uma igreja gentil. Você não pode; é uma total violação da concepção Divina da Igreja ter alguma coisa assim. A Igreja, de acordo com a mente de Deus, é universal, é de um tipo totalmente diferente de coisas do que é da terra, e no entanto, tudo encontrará suas necessidades supridas lá. As pessoas virão do leste e do oeste, do norte e do sul, e eles encontraram suas necessidades espirituais satisfeitas na verdadeira Igreja, mas não numa “igreja” nacional, algo terreno, algo local. Oh, que possa ser dessa maneira hoje! Essa é a concepção Divina, isso é espiritualidade, e a compreensão disso é o caminho para o real poder, impacto, valor, efetividade. Se temos mesmo uma pequena aproximação a isso nas igrejas, então, proporcionalmente alcançaremos efetividade e valor espiritual.
Espiritualidade nas Igrejas
quando chegamos até as igrejas, chegamos ao que a Igreja é atualmente – não a como é segundo a mente de Deus, mas atualmente, e depois, a espiritualidade tem que ser reconhecida ao longo da linha da formação ao que é segundo a mente de Deus. A espiritualidade é a lei da formação onde as coisas são imperfeitas. Indo até Corinto, qual é a palavra do apóstolo? “não vos pude falar como a espirituais” (1Cor. 3:1). isso simplesmente está dizendo em outras palavras, a razão de sua condição presente, a qual é deplorável, é a ausência da espiritualidade. Então, começamos a olhar toda a carta e ver as marcas da ausência da espiritualidade. Encontramos que Corinto mostra a grande importância de certas coisas espirituais.
Primeiramente, a grande importância de discernimento espiritual e conhecimento para a discriminação. Uma das grandes causas da condição lá era uma inabilidade para discriminar, uma mistura de coisas que nunca deveriam ser confundidas mas que deveriam ficar bem separadas, pertencendo a duas esferas totalmente diferentes. Essa falta de faculdade espiritual para discriminar resultou nesta terrível condição. Vejamos algumas maneiras nas quais essa inabilidade para discriminar operava.
Primeiramente, tem a ver com a diferença entre o natural (ou o almático, como verdadeiramente está na Palavra) e o espiritual; o mundo por um lado, e a ordem e padrões celestiais por outro lado. Eles estavam misturando padrões do mundo com padrões celestiais – note tudo o que foi dito em 1Cor. 1 e 2 acerca da sabedoria e poder deste mundo. Eles estavam muito interessados nos assuntos da sabedoria e poder. Eles desejavam ganhar controle, estar numa posição de influencia; e suas ideias de controle, influencia e poder eram a ideia mundana, a sabedoria dos príncipes deste mundo. Eles, portanto, estavam evidentemente entregando-se em estudos das filosofias dos gregos, sistemas de pensamento e interpretação do universo. Eles estavam pensando isso, se você avançou o suficiente nesta sabedoria, você chegará ao coração das coisas, você resolveria todos os problemas, e chegarás a um lugar de competência, poder e influencia. Eles não podiam discriminar entre a sabedoria deste mundo e a sabedoria de Deus. E por isso o apóstolo escreve a eles tais coisas como estas “o mundo segundo sua sabedoria não conheceu Deus” (1:21). “a sabedoria de Deus...a qual nenhum dos príncipes deste mundo têm conhecido; pois se a tivessem conhecido, eles não teriam crucificado ao Senhor da glória” (2:7-8). “Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?” (1:20). estas pessoas eram incapazes de discriminar. Tudo isto nos parece muito elementar. Quão atrasados eles deviam ter estado!
E o mesmo com o poder. Eles estavam a procura de força e poder, e estavam indo a tê-lo segundo a linha do mundo. Por isso ele diz, “Cristo o poder de Deus, e a sabedoria de Deus” (1:24). Mas – em substância ele adiciona – você não o pode ver, você não pode discriminar. Você percebe o que ele está dizendo sobre discernir, julgar – essa palavra tão difícil de tradução. “O que é espiritual julga” (discerne, examina) “todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém” (2:15) – ele é inescrutável. O espiritual é inescrutável para o natural. Estas pessoas não eram capazes de discriminar, daqui a esta confusão. O discernimento espiritual e habilidade para discriminar entre coisas que diferem mas que muitas vezes parecem ser muito parecidas. É uma coisa tremenda trazer à Igreja à ideia de Deus da Igreja. Precisamos de discernimento espiritual e entendimento na Igreja, para poupar a Igreja de seu presente estado deplorável. Você sabe como de verdade isso é, como uns poucos cristãos têm discernimento verdadeiro. É um fator espiritual essencial trazer a Igreja à ideia de Deus da Igreja; sem isto, você consegue a condição da de Corinto.
Em segundo lugar, no relacionamento e apreciação de Cristo e Seu servos. “não vos pude falar como a espirituais”. Por quê? Bem, “existem divisões entre vocês”, e estas divisões são deste tipo - “um diz, sou de Paulo; e eu de Apolo; e eu de Pedro; e eu de Cristo” criando partidos; e a falha aqui era suas incapacidades para ver que o Corpo é um, com Cristo como Sua cabeça, e que se há um ministério de Paulo ou um ministério de Apolo ou um ministério de Pedro que eles gostaram demais e preferiam acima de outros, é somente o ministério de um membro do Corpo e não algo em si mesmo, separado. A mão tem uma função no corpo e você não pode pô-lo por aí num canto. Você não ousa separar qualquer membro do corpo e circulá-lo ao redor dele. Se você fizer, você não tem concepção do corpo e você não tem concepção de Cristo. Isso é o que estas pessoas precisavam ver, e não tinham a espiritualidade para ver. Este Corpo é um, estes servos de Deus são membros do Corpo funcionando em suas próprias maneiras marcadas, e todos eles são essenciais, eles todos fazem um Corpo, e Cristo é esse Corpo. “Assim também é Cristo” (1Cor. 12:12). mas os corintos estavam, em efeito, rasgando o Corpo em pedaços e criando uma igreja ao redor de um membro do Corpo. “existem divisões entre vocês”. Espiritualidade, neste caso, vê a unicidade e integridade do Corpo, e qualquer ministério em particular não como algo aparte e separado, ser tomado e circulado ao redor e ser feito algo de si mesmo, mas um fator contribuinte ao integro, em que o resto não pode mais prescindir do que pode fazer sem o resto. Vê o parentesco no Corpo de todas suas funções, seus ministros, e ministérios, que eles são um e todos interdependem. Falhar em ver isso resulta em caos na Igreja. Você não teria tido metade do que tem hoje nas divisões do cristianismo se se houvesse tido compreensão espiritual do Corpo de Cristo. Onde quer que seja encontrada corporativamente, você estará voltando à ideia Divina, e haverá portanto um poder espiritual e plenitude espiritual.
Em terceiro lugar, havia em Corinto a inabilidade espiritual para discriminar entre dons espirituais e pessoas espirituais. Em 1Cor., se uma coisa fica clara é esta, os dons espirituais não são necessariamente evidencia de pessoas serem espirituais – que você pode, neste sentido real, ser uma pessoa muito pouco espiritual e ter dons espirituais. Você encontrará que dons espirituais podem muitas vezes, apenas relacionar-se a infância espiritual, e não a maturidade espiritual. A possessão de tais dons pode correr lado a lado na mesma vida com defeitos morais muito sérios. Isto é um problema, isto é surpreendente. Mas era assim em Corinto. Como em nenhuma outra igreja, os dons espirituais são evidentes lá: ou em qualquer classificação são nomeados: e em nenhuma outra igreja existem tantas desordens – e pior do que isso. Eles não podiam ver a diferença entre dons espirituais e pessoas espirituais. Por quê Paulo levou todo este assunto dos dons bem até o capítulo 13? qual é o significado do capítulo 13 se não é este? “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa como o címbalo que retine”. Será que ele está sugerindo algo impossível? É isto algo meramente uma hipotética conjetura que não tem realidade na vida ou na experiencia – que o homem pode falar as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou um címbalo que retine? Falar em línguas – certamente as línguas são o sublime, uma grande evidencia de espiritualidade? De modo nenhum! A característica suprema da espiritualidade é o amor Divino. Deus é amor, e nós somos para ser feitos perfeitos em amor. “Fé que opera pelo amor” (Gal. 5:6) – isto é maturidade e isto é espiritualidade. “não vos pude falar como a espirituais”. Assim, ele leva tudo isto direto pelos dons até o amor, que é espiritualidade. Ele diz, posso ter todos estes dons, e no entanto ser uma pessoa não espiritual. Os dons podem ser apenas marcas de minha infância espiritual. Não estou dizendo que isso é necessariamente assim. Paulo disse que ele falava em línguas mais do que todos eles. Mas os dons espirituais e espiritualidade não vão necessariamente juntos – esse é o ponto. Maturidade espiritual não ia mão a mão com seus dons em Corinto. Eles pensaram que os dons significavam muito mais do que eles realmente significavam, que eram a evidencia de grande medida espiritual. Eles não viam. Voltemos de novo – existe uma diferença entre dons espirituais e pessoas espirituais. Os dons – que são eles? Eles resultam do Espírito vindo sobre uma pessoa. Uma pessoa espiritual – que é ele? Ele é espiritual como resultado da formação interior do Espírito. Existe muita diferença entre formação interior e mera ação externa.
Bem, então em Corinto, espiritualidade significou um padrão celestial de sabedoria e poder; o Corpo como todo unificado; medida espiritual interior mais do que dons espirituais exteriores. Isso é espiritualidade. Peço você para ir com seu Novo Testamento procurando pelas marcas da espiritualidade nestas cartas, e quando as tenha, você estará vendo a lei pela que as igrejas como elas são pode ser transformada na Igreja como ela é, isto é, transformada em acordo com o pensamento Divino. O poder transformador da espiritualidade.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.