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Maturidade Espiritual

por T. Austin-Sparks

Capítulo 5 - Cristo Formado No Interior

Ler: Gálatas 3

‘’...sinto as dores de parto até que Cristo seja formado em vós’. Gálatas 4.19

A Resistência ao Propósito Divino

Na medida em que continuamos nossa meditação sobre o crescimento espiritual, o pleno crescimento espiritual, reconhecendo, como procuramos fazer, a grande e séria posição que este assunto ocupa na Palavra de Deus, e como evidentemente o Senhor dá importância a ele, há um outro lado deste fato que deve nos impressionar, principalmente a forma com que esta matéria do crescimento espiritual está repleta de oposição. Sempre que você toca neste assunto, você se encontra na presença de algo estabelecido contra esse crescimento espiritual. Este algo nunca se mostra em condições passivas. É sempre constituído por forças e elementos em oposição ativa. Você descobre que a exortação, o encorajamento, a admoestação tem um caráter mais positivo, do que contra alguma coisa. Sempre que Deus se moveu no passado em direção ao crescimento espiritual, há sempre algo presente para conter esse movimento, algum elemento antagônico. Você pode ver isto na Palavra de Deus muitas vezes.

Quando o Senhor trazia Israel do cativeiro do Egito, imediatamente houve um amargo conflito. Quando Israel foi finalmente trazido para a terra, quase que imediatamente houve um Acã para emperrar todo o movimento, e paralisar aquele progresso rumo à plenitude da terra, e, por um momento, isto efetivamente ocorreu. E assim você pode observar isso num grande número de casos no Velho Testamento. Quando Deus trouxe Seu Filho a este mundo, o qual foi um grande movimento na direção da plenitude espiritual, lá estava Herodes, e então os Judeus com a sua discriminação. Vamos observar que a discriminação está sempre em oposição ao progresso espiritual. A discriminação nunca dá uma chance a Deus. Ela é uma porta fechada. Se uma coisa, mais do que qualquer outra, marcou os Judeus, nos dias quando Jesus, que era a plenitude de Deus, esteve entre os homens, esta coisa foi a discriminação, e foi ela que os limitou, que os tirou do pleno propósito de Deus. Quando o Dia de Pentecoste se cumpriu, e um poderoso mover rumo à plenitude foi feito - aquilo a que o apóstolo se refere mais tarde como ‘a plenitude daquele que é tudo em todos’ - mal a igreja inicia seu curso e você já encontra um instrumento do inimigo para impedir a obra, usando Ananias e Safira. Mais adiante você chega ao apóstolo Paulo, e, sempre e em todo o lugar os judaizantes estão no seu encalço. De modo que cada movimento de Deus encontra uma oposição. Cada passo na direção do crescimento espiritual encontra algo presente do outro lado, a fim de impedi-lo, de frustrá-lo.

As Cartas de Paulo

Assim, essas cartas de Paulo trazem à vista uma grande quantidade de coisas que Satanás produziu, a maioria das vezes através da carne, como obstáculos ao propósito de Deus - o crescimento pleno. Como vimos, em Corinto foi a carnalidade, o que também está muito claro nos primeiros capítulos da segunda carta aos coríntios, e, entre os Gálatas foram os judaizantes. Um de seus maiores golpes contra o que Deus estava procurando fazer, e estava fazendo através de Seu servo Paulo, foi o ataque que eles fizeram contra a pessoa dele; isto é, um ataque contra ele como um vaso sendo usado por Deus, uma injúria da parte daqueles que professavam estar buscando os interesses de Deus. É sempre assim. Quando Deus se move e toma um vaso para o aumento de Cristo em Seu povo, para o crescimento espiritual, Satanás levanta um ataque contra aquele vaso, e busca frustrar o propósito, tentando prejudicar o propósito através daquele vaso de alguma maneira. Ele irá distorcer, mentir - oh, ele irá usar todo tipo de movimento para abater o instrumento -, para que o propósito Divino caia em infâmia, ou fique emperrado.

Agora aqui está uma carta (a carta aos Gálatas) que está repleta de conflitos terríveis. Martinho Lutero foi um lutador, se ele era alguma coisa, e ele disse que tinha aplicado esta carta a si mesmo. Mas o que Lutero disse mais tarde em relação a isto? ‘Anteriormente eu estava em sossego e conforto, em descanso e aceitação, porém, desde então, tenho me cercado a mim mesmo de um bloco sólido de inimigos’. Isto é significativo pelo que esta carta representa. Graças a Deus que Martinho Lutero viu tudo o que isto representa, ao invés de somente os seus inícios. Contudo, aqui estamos nós na presença do conflito, e o objetivo é para reconhecermos que se Deus está se movendo para um aumento da medida de Cristo nos santos, este movimento enfrenta todo o antagonismo do inferno, e o vaso usado pelo Senhor para este fim irá sofrer muitos ataques do inimigo, tanto do tipo violento como do tipo malicioso. Ele não irá parar por coisa alguma, buscando tornar aquele vaso inoperante, paralisá-lo, de modo que não possa cumprir sua divina missão. Eu sempre tomo o apóstolo Paulo como um representante pessoal da verdade que foi confiada a ele, como um vaso, como alguém em quem tudo o que se referia àquela verdade foi experimentado em sua própria história; e neste ponto, como em muitos outros, é totalmente manifesto que Paulo foi levantado como um vaso especial em relação ao propósito pleno e eterno de Deus a respeito da Igreja, e não houve outro homem na dispensação que tenha encontrado a força do inferno assim desta maneira, e seu esforço a fim de paralisar e destruir este homem. A sua posição nos mostra em sua própria história, e em sua própria pessoa, o que nós podemos esperar se estivermos ligados no propósito pleno de Deus.

Isto deve ser esclarecedor e encorajador, olhado a partir de um ponto de vista. Isto deve explicar as coisas, e nos fazer assumir a nossa responsabilidade. O perigo tão freqüente conosco, quando há um surgimento poderoso de um antagonismo espiritual, e somos levados a sofrer, e são sofrimentos intensos, é que podemos considerar este sofrimento como algo em si mesmo, procurar atribuí-lo a causas naturais, sentir que é algo no curso da vida que temos que passar. Achamos que somos apenas sofredores, e fracassamos em ver que, embora a coisa possa aparentar ser isso, ela está definitivamente e diretamente relacionada ao propósito com o qual estamos ocupados. Pode ser que você não seja capaz de concordar com isto, devido a não estar experimentando isto, mas outras pessoas irão entender. Creia-me que, se estiveres engajado no pleno propósito de Deus para você, se você estiver unido ao pleno propósito de Deus para o Seu povo - para você mesmo e para os demais, especialmente para a igreja - você irá enfrentar os ataques do Diabo a fim de frustrar o propósito, de todos os meios concebíveis: a frustração com você mesmo, a frustração com o seu ministério. Você irá enfrentar o ataque fisicamente, irá enfrentá-lo em sua alma, irá enfrentá-lo espiritualmente. Você irá enfrentá-lo dentro de você mesmo, e irá enfrentá-lo fora de você. Você irá se encontrar numa batalha. E o que se aplica ao individual também se aplicará a qualquer companhia que se levantar em favor ao propósito de Deus.

A Forma de Ataque entre os Gálatas

Assim, encontramos a nós mesmos nesta mesma atmosfera imediatamente ao abrirmos esta carta aos Gálatas. Paulo não desperdiça tempo aqui. Ele usa muito poucas palavras visando a exatidão. Ele se apresenta, e sua introdução é um ataque. Ele abre a batalha na primeira sentença. “Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por meio dos homens...)”. Isto é um ataque. A batalha começa. Os judaizantes estiveram trabalhando, e eles persuadiram esses gálatas de que Paulo não era um autêntico apóstolo, mas tinha se colocado como tal; ele não era um dos doze, mas tinha se colocado a si mesmo. “Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por meio de homem, mas por meio de Jesus Cristo, e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos)”. Você vê, isto é aceitar o desafio. Como isto vai ao coração das coisas! Isto toma a espada do inimigo e a faz virar para furar a si mesmo. Os judaizantes dizem que eu não sou um apóstolo reconhecido por Jerusalém; eu não fui ordenado pelo quartel-general; eu não sou um dos autênticos doze; não recebi as minhas credenciais dos eclesiásticos, aqueles que são chamados de colunas. Concordo! Porém eu recebi o meu apostolado do alto; recebi-o ‘através de Jesus Cristo, e de Deus Pai...’ O que vocês podem dizer disto? Como vocês irão lidar com isto? Agora, isto é apenas para salientar que você está num conflito, e para estabelecer o fato de que onde Deus está procurando se mover no sentido de levar o Seu Filho à plena formação na igreja, Satanás está sempre muito ativo, a fim de frustrar este propósito de todos os meios possíveis. Tenha sempre isto em mente. Que o Senhor nos ajude a fazer isto. Se nos lembrarmos disto, isto será a nossa salvação. O que os judaizantes procuraram fazer é, talvez, algo que não precisamos considerar em detalhe. Tivessem os judaizantes tido êxito, isto é o que teria sido o efeito e a conseqüência, principalmente que os gálatas teriam voltado para a formalidade religiosa, para o cerimonial e ritual, para a tradição e para as obras externamente religiosas, o que custaria primeiramente a vida, e posteriormente o eterno propósito de Deus. O apóstolo, nesta carta, assume a batalha em prol da vida, e faz dela uma questão de vida.

Podemos ver claramente que o método do inimigo não estava restrito aos gálatas, pois isto já ocorreu antes do tempo deles, e ainda continua: formalismo, formalidade religiosa, cerimonial, ritual, tradições religiosas, muitas obras exteriores em nome de Deus, tudo isto no lugar, primeiramente, da vida espiritual, e então, finalmente, no lugar da plena intenção de Deus para o Seu povo. Isto é verdadeiro. Naturalmente, o inimigo sempre sabe onde ele tem um ponto saliente, onde ele tem um terreno de vantagem. Esses gálatas eram principalmente gentios, e eles tinham saído do paganismo, e em seu sistema de religião pagão havia muitos ritos e cerimoniais, muitas ordenanças religiosas. Havia todas essas atividades e representações exteriores que constituíam a forma de adoração dos seus deuses, e, para o homem natural, para o homem da alma, tais coisas são indispensáveis. O homem natural precisa ter o que é tangível; ele deve ouvir alguma coisa, ver alguma coisa, fazer alguma coisa, manusear alguma coisa. Todos esses acompanhamentos da religião são essenciais para a religião, e sua religião seria pobre se você tirasse essas coisas. Remova o artístico, o estético; tire todas as coisas externas que vêm aos nossos sentidos, e aqueles meios pelos quais expressamos nossa vida sensitiva, e o que é a religião? Esta vida espiritual pura, de fé, sem nada dessas coisas é uma coisa que não é interessante para a alma, e é muito vaga. Sim, que coisa irreal ela é! Esses gálatas tinham abandonado todas essas coisas, e tinham se voltado para o Senhor. Então os judaizantes vieram com a ordem judaica, e disseram: ‘Exceto se vos circuncidardes, não podereis ser salvos, e o que vocês precisam é voltar às ordenanças judaicas”. Se você estiver numa maré baixa, espiritualmente falando, você não será capaz de enfrentar este tipo de coisa, quando há argumentos plausíveis e fortes constrangimentos, e quando há ataque contra o instrumento que foi usado a seu favor, expondo todas as falhas e fraquezas dessa pessoa, mostrando como ela se colocou a si mesma com sendo algo contrário à posição aceita por Jerusalém. Esses líderes em Jerusalém tinham conhecido Jesus pessoalmente, em carne; tinham estado com Ele, e eles não concordavam com esse tipo de coisa, eles ainda criam nas ordenanças judaicas. “Como você vêem, Paulo está errado; ele está sozinho, ninguém concorda com ele”, este era o que os judaizantes diziam. Tudo era muito sutil, e assim Satanás teve o seu espaço entre eles, em relação à sua antiga forma de vida, trabalhando com aquela vida da alma não crucificada, e eles estavam seduzidos. “Ó, insensatos gálatas, quem vos fascinou?” Como salientamos, as palavras literais são: “Quem lançou sobre vocês palavras de encanto?” Um encanto é uma sensação agradável, até que você acorde. Um encanto é normalmente lançado sobre uma pessoa a fim de roubar algo dela, e de fato foi o que aconteceu no caso diante de nós.

Compreensão Espiritual de Cristo

Vamos, então, reconhecer o ponto, principalmente, que em Cristo somos chamados para fora de todas aquelas coisas. Isto é terreno, é do homem, é tradição, sistema religioso de ritos e ordenanças, de dias, tempos e estações. Fomos chamados para fora de tudo isso, para uma vida celestial em Jesus Cristo, por meio da fé. Quando você realmente consegue chegar ao seu alvo, você não tem mais qualquer inclinação em relação aquela outra coisa novamente, você não mais busca aquilo. Porém, este é justamente o ponto em Gálatas 4.19: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”. Paulo não estava dizendo aqui que sentia dores de parto em relação ao propósito final, quando Cristo deveria ser plenamente formado neles segundo o propósito de Deus. Naturalmente, tinha a ver com isto, estava relacionado com isto em última instância, porém não é isto o que ele quer dizer aqui; ele não está se referindo aquela plena conformidade à imagem de Cristo, não aquele pleno desenvolvimento de Cristo neles. O que ele está dizendo aqui é o seguinte: “Estou sentindo as dores de parto até que Cristo tome a forma definitiva em vocês”. É a diferença entre o embrião e a criança plenamente formada. Ele disse que estava em agonia a respeito disso. O problema com eles era que eles não tinham claramente visto Cristo, não tinham claramente compreendido Cristo; Cristo não estava distintamente definido neles, o significado de Cristo não tinha se tornado definido neles. Algo tinha acontecido. Eles tinham nascido do alto, tinham recebido o Espírito, pela fé tinham se voltado para o Senhor Jesus, porém, tinha se tornado evidente que eles não tinham compreendido o significado de Cristo. Paulo disse: “Receio que não tenha trabalhado em vão”. O que é trabalhar em vão? Oh, amados, em relação ao propósito de Deus, em relação ao pleno pensamento de Deus, é muito mais do que apenas crer no Senhor Jesus; é essencial que possamos ver QUEM e O QUE Jesus é, e o que Ele significa.

Se você quer prova de que este é o ponto aqui entre Paulo e os Gálatas, reconheça isto, que o nome pessoal do Senhor Jesus Cristo ocorre quarenta e três vezes nesta pequena carta. Não é o título descritivo, como tão freqüentemente em outras partes. É o nome pessoal, o Homem Jesus Cristo quarenta e três vezes nesta carta. Por quê? Por que deveria ele trazer números tremendos de referências a Ele nesta carta? Bem, é muito evidente. Ouça sua exclamação, a este efeito: “Diante de cujos olhos Jesus Cristo foi publicamente enviado, crucificado”, e vocês não têm visto! Quatro vezes nesta carta a cruz de Cristo é referida em relação as maiores coisas com que temos a ver. Nós não iremos nos ater agora a elas, porém, essas quatro afirmações sobre a cruz do Senhor Jesus Cristo nesta carta são as maiores coisas que poderiam ser ditas sobre a cruz, e todas elas fazem referência ao fim do ego: “Estou crucificado...” - o fato que abrange tudo; então, da mesma maneira, a severidade da lei - “Eu...morri para a lei”; a severidade da carne - “Aqueles que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”; a severidade do mundo - “Longe esteja de mim gloriar-me, salvo na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo”. “Diante de quais olhos Jesus Cristo foi publicamente crucificado”, e vocês não têm compreendido essas implicações. Se vocês tivessem crido (gálatas e todos os outros), você teriam de uma vez por todas sidos libertos dos sistemas religiosos, das ordens terrenas, dos ritos, das cerimônias, das tradições, e de todo esse tipo de coisas, e vocês estariam nos lugares celestiais; pois Cristo crucificado significa isto. Conhecer Cristo significa absoluta emancipação de todas as coisas aqui, até mesmo numa forma religiosa. É isto o que representa toda a questão da maturidade e imaturidade. Você pergunta: O que foi que constituiu a imaturidade entre os gálatas? Foi que, sob persuasão, influência e argumento, eles estavam a ponto de voltar tão facilmente e rapidamente para uma terrena ordem religiosa com a qual a cruz de Cristo já tinha acabado, tinha trazido ao seu fim. Oh, sim, a lei de Moisés, e toda a sua ordem, e seus rituais terminaram na cruz do Senhor Jesus. Ela tinha servido a um propósito, porém alcançou o seu cumprimento em Cristo, e Cristo crucificado marcou o fim. Em Cristo ressurreto, tudo para o que ela apontava é levado de forma espiritual para o céu, e agora nós estamos unidos com Cristo no céu. Ele cumpriu todos os valores daquilo para nós. Ele é o nosso Sumo Sacerdote, nosso sacrifício, nosso sangue precioso, nossa justiça, nosso acesso a Deus, nossa aceitação. Todas aquelas coisas que eram sombras, tipos e figuras é cumprido no Cristo ressurreto e exaltado, e nós temos tudo isto em valor espiritual. Sim, você diz, mas isto está tão distante, é tão irreal, e nós queremos algo que possamos tocar, ver, e ouvir. Ah, isto é imaturidade, isto é infância espiritual. As crianças sempre querem algo que possam ver e ouvir. Mas o apóstolo, nesta carta, leva os gálatas para um lugar onde todas essas coisas infantis acabam. Ele diz: “Vocês devem começar a filiação a partir do início”. É notável quão avançado ele está em seu ponto de vista nesta carta.

Embora o lugar dos filhos esteja no futuro, embora a herança esteja lá, o apóstolo diz: Nós somos todos filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, e se espera que nós agora comecemos a viver sobre o princípio da filiação. Não queremos brinquedos para brincar com eles na terra, livros de figuras para olhar, lições objetivas, mas chegamos em espírito imediatamente a uma compreensão de Jesus Cristo, e a uma viva comunhão com Ele, de modo que todo aquele tipo de coisa é passado. A cruz do Senhor Jesus nesta carta não está estabelecida meramente em relação àquilo que poderíamos chamar de pecado grosseiro, mas está estabelecida contra toda religião na carne, e quando Paulo diz: “Estou crucificado com Cristo, e não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”, ele mais adiante acrescenta: “e esta vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus...” Você enxerga o contexto. É a diferença entre a vida na lei e a vida no Cristo ressurreto; não a diferença entre a vida religiosa dos judeus como tal e o homem religioso como tal. Tudo isto é uma coisa só, e a cruz elimina tudo isto, e o “EU” que está naquilo é levado a um fim. Agora eu vivo, ele diz, “contudo não mais EU, mas Cristo... e a vida que agora vivo, vivo-a na fé, a fé que está no Filho de Deus...” É um tipo de vida. A cruz leva para aquele tipo de vida que é a vida do Filho de Deus vivida por nós pela fé. Isto deve ficar reservado para futuras considerações. Permaneceremos com os pontos mais óbvios na carta.

Cristo Formado No Interior, Uma Questão De Suprema Importância

Penso que podemos discorrer um pouco mais sobre as palavras no capítulo 4:19: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto até que Cristo seja formado em vós”. É um lamento angustiante para que os crentes possam chegar a um lugar onde fiquem firmes. - “Cristo seja formado”. É o lugar onde haja alguma definição neles quanto ao Senhor Jesus. É uma coisa estabelecida. Eles VIRAM o Senhor Jesus, e eles estão firmes. Você não consegue movê-los; isto é, eles têm a raiz da questão neles mesmos. Cristo tomou forma dentro deles. Agora, se Paulo se angustia, geme, sente dores de parto em relação a isto, quão importante isto é, e que sérias conseqüências devem estar relacionadas à condição dos gálatas. O necessário lamento entre o povo de Deus é para que ele possa chegar a um lugar e a uma posição firme e estabelecida, em conseqüência do significado de Cristo ter chegado a eles com clareza e definição; é para que ele possa estar estabelecido e alicerçado, não ser facilmente removido, não cair facilmente nos discursos encantadores. Eles conhecem o Senhor, e você não os pode mover. Você não precisa cuidar de pessoas como essas. Você não precisa pegá-las e pô-las de novo em pé. Você não precisa supri-las de muletas. Você pode confiar nelas. Você sabe que elas possuem o conhecimento básico do Senhor, que elas não se moverão facilmente, que elas irão avançar. Elas entendem o que isto significa; elas compreenderam o significado de Jesus Cristo, e você pode crer que elas irão prosseguir. Você irá concordar que isto é um estado muito necessário ao propósito de Deus, que é o pleno crescimento; ter um entendimento inicial e fundamental do significado de Cristo, e se tornar firme em relação a Ele. É por que está faltando isso que há tanta pobreza e limitação espiritual, tanta fraqueza, deficiência e derrota em todo lugar. É uma questão de ver o Senhor Jesus Cristo. É por isso que o apóstolo usa, com toda a sua força, o seu próprio caso pessoal como um caso em questão. Ele abre esta carta, e assume a batalha. Ele declara o seu apostolado como vindo do céu, e não dos homens. Então ele continua com o seu próprio caso, e mais adiante ele irá dizer: “Aprouve a Deus, que me separou desde o ventre de minha mãe, e me chamou por Sua graça, revelar Seu Filho em mim”. Quando isto aconteceu, ele diz, em efeito: “não subi a Jerusalém para consultar carne e sangue; eu tinha a raiz da questão em mim mesmo pela ação direta do Espírito Santo”.

Tudo é pelo Espírito

Prossiga através desta carta novamente e conte o número de vezes que o Espírito é mencionado. Você irá descobrir em toda parte que é o Espírito, e que é a obra interior do Espírito Santo no coração que faz com que ele veja o Senhor Jesus. Eu não estou falando a respeito de ver uma figura, não a respeito de ver uma pessoa como tal; estou falando sobre entender o significado do Filho de Deus, o significado do Homem Jesus Cristo, como Ele reúne todas as coisas que já existiram, ou que irão existir, em Sua própria pessoa, e se torna a corporificação de todo propósito de Deus, de toda intenção de Deus, e a fonte de todos os recursos e relação ao propósito de Deus: e Ele se torna isto para Paulo. Paulo não precisa de judeus, nem de altares, nem de sacerdotes judeus, nem de derramamento de sangue e sacrifícios, nem de templo judeu, ou tabernáculo. Jesus Cristo é tudo isto e infinitamente mais para Paulo. Paulo não vive por essas coisas, Jesus Cristo é a sua vida. Ele não precisa da orientação daquelas coisas, Jesus Cristo é o seu Guia. É o que o Senhor Jesus é para ele que é o resumo de tudo isto. Quando você tem isto, você está fora, você está livre. Oh, ninguém precisa dizer a você: você tem que fazer isto, e você tem que fazer aquilo. Isto é a lei. Você está fora, está livre, você tem descanso, liberdade, poder, e paz em Cristo, em comunhão com Ele, em comunhão com Deus Nele. Imagine que grande queda foi esta da parte dos gálatas. Paulo apela: “Oh vocês, que começaram no Espírito, acham que podem agora serem aperfeiçoados na carne? Vocês que receberam tudo isto pelo Espírito Santo, acham que irão alcançar o pleno propósito de Deus, serão aperfeiçoados recorrendo a atividades religiosas da carne? Isto é impensável. Não pense que porque você encontra Paulo espantado, perplexo, confuso e veementemente zangado, que alguém então poderia desfazer a cruz de Cristo, tão separado da vida do Espírito. Maturidade espiritual é que o Espírito Santo revelou e está revelando todo o significado de CRISTO EM NÓS, e que estamos vivendo Nele. Imaturidade espiritual é que nós precisamos ter todas essas coisas religiosas exteriores para nos ajudar a sermos bons, e com um resultado bastante insatisfatório. Você entende o ponto? Leia a carta novamente à luz desta palavra: “Por que somos filhos, Deus enviou o Espírito de Seu Filho aos nossos corações, o qual clama Abba...” Nas línguas originais da Bíblia, o Hebraico e o Grego, quando você lê aquela sentença em particular, você está usando exatamente a palavra que o Senhor Jesus usou quando Ele orou ao seu Pai. Quando Ele orou, Ele não disse em Inglês: Pai! Ele disse, Abba! Eu não vejo qualquer valor particular em isto chegar a nós desta maneira, porém é estranho que o Espírito Santo tenha preservado isto, e nos dado a palavra original, e então a tradução, como se Ele desejasse nos tocar mais intimamente com isto, trazer-nos em espírito para o coração do Senhor Jesus. Exatamente como Jesus Cristo disse ao Pai, Abba! Assim, o mesmo Espírito, como Cristo está em nós, provocando em nós o mesmo relacionamento com o Pai que Ele tinha: “Porque sois filhos, Deus enviou o Espírito de Seu Filho aos nossos corações, clamando Abba...” É aí onde começa a vida no Espírito - Pai! É pelo Espírito de Seu Filho. Você vê que o propósito de Deus é que pudéssemos ser conformados à imagem de Seu Filho. O Espírito de Seu Filho em nós clamando “Pai”, revelando Cristo em nós. “Aprouve a Deus...revelar Seu Filho em mim”. Isto coloca tudo no interior, do começo ao fim, do início ao fim; o primeiro passo e a plenitude estão ligados a isto. “Revelar Seu Filho em mim”! Isto se coloca contra todas as externalidades da religião. A diferença está entre a vida e a morte, a terra e o céu, o tempo e a eternidade. E assim, Paulo chama isto de liberdade, “a liberdade dos filhos de Deus”. “Permanecer firme na liberdade...” Que o Senhor torne tudo isto claro, e traga isto aos nossos corações, para que possamos conhecer Cristo.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.