Austin-Sparks.net

A Oitava da Redenção

por T. Austin-Sparks

Capítulo 1 - A Encarnação

Ao começar estas meditações, deixe-me dizer uma pequena palavra de advertência. Nós não estamos apenas embarcando numa ‘linha de verdade’ _ um tema, um assunto. O fato é que não há ‘verdade’ fora do próprio Senhor Jesus, e a verdade está Nele, não sobre Ele. Para uma correta apreensão, portanto, da verdade, um relacionamento pessoal com Ele na vida é essencial. Não podemos conhecer a Verdade exceto através da união com o Senhor Jesus de maneira viva. Isto por sua vez demanda a obra do Espírito Santo sobre e em nós, e isto significa que devemos estar numa condição espiritual para entender e apreender a verdade, “como está a verdade em Jesus” (Ef. 4:21). Nossa vida _ toda nossa vida _ nossa esperança, nossa salvação, nosso caminho, nossa segurança _ nosso tudo _ está centrado no próprio Senhor Jesus. Não está centrado em algum aspecto ou interpretação da verdade: está centrado Nele mesmo. Tudo, portanto, é uma questão de conhecê-Lo, de ‘se ater ao pleno conhecimento do Filho de (Ef. 4:13); e o valor que o Senhor pode dizer para nós nas páginas que seguem dependerá inteiramente do nosso relacionamento vivo com Ele, que é a Verdade: a soma da Verdade, e o Poder da Verdade.

Introdução

Temos chamado essa série de estudos de ‘A Oitava Redenção’ A palavra ‘oitava’ (do latim octavus) significa ‘oitavo’, e em música significa o intervalo entre a primeira e a última das oito notas primárias que completam a escala musical, uma vez que cada oitava nota repete a primeira num nível mais alto, ou mais baixo. Poderíamos muito bem ter tomado como nosso título ‘O Arco Celeste da Redenção’, pois temos uma idéia muito similar aí, com as sete cores primárias, e, então, o número oito retornando ao número um. Em tais ‘oitavas’, vemos uma série, ou fase, ou movimento, completo, e um novo começo; a série de sete nunca é referida como terminada em si mesma _ ela precisa do próximo para fazer a escala completa. Sabemos, se experimentarmos num instrumento, quão necessário é a ‘oitava’ _ quão incompleta é o sete sem o oito. Esta característica de ‘sete mais um’ é peculiarmente uma marca do cristianismo. O cristianismo está baseado no dia após o sábado, sobre o oitavo dia que se torna o primeiro dia da semana. O judaísmo permanece na religião do sétimo dia; sabemos quão incompleta ela é, como ela parou e jamais continuou, jamais se moveu para o oitavo dia como o primeiro. O cristianismo repousa sobre o oitavo dia, que se tornou o primeiro _ o final de uma fase da obra Divina e o começo de uma nova. A palavra ‘sábado’, contudo, não significa ‘sétimo’; significa ‘repouso’. Sete fala de plenitude; oito significa que Deus começa novamente sobre algo que foi acabado. Seu novo início é a partir de algo terminado _ Deus prossegue da conclusão. Isto é cristianismo: ele repousa sobre algo terminado, e este algo terminado é o descanso de Deus, a satisfação de Deus. Ele começa tudo a partir desse ponto. Como você pode saber, as letras do alfabeto hebraico não são apenas símbolos para sons, mas também símbolos para numerais; isto é, cada letra possui um valor numérico. E isto não é verdade somente na língua hebraica. O nome ‘Jesus’, na forma grega, como usado no Novo Testamento, possui seis letras, cada letra tendo um valor numérico; e quando todas essas letras são colocadas juntas com seus valores numéricos, elas somam 888. ‘Jesus’ = 888. Não estou tirando o máximo proveito disso, ou tentando ser fantasioso, mas penso que isto é impressionante _ Não penso que isto seja um acidente. Ele é o Homem do ‘oitavo dia’, aquele que foi adiante, tendo aperfeiçoado a obra da redenção.

Oito Aspectos da Redenção

Agora, podemos dizer que a redenção possui oito notas ou aspectos primários. Há, naturalmente, muitos aspectos subsidiários, mas há oito primárias. Elas são:

1. A Encarnação

2. A Vida Terrena

3. A Cruz e a Ressurreição

4. Os quarenta dias após a Ressurreição

5. A Ascensão e a Glorificação

6. O Advento do Espírito Santo

7. O Nascimento, a Vocação e a Plenitude da Igreja

8. A Próxima Vinda

Dentro dessas tudo está reunido, e não há nada fora delas; elas completam a escala. Você notará que a primeira e a oitava são as duas vindas. Em princípio, torna o círculo pleno ao primeiro: é a vinda do Senhor representando duas completudes. A primeira vinda, a encarnação, foi a plenitude de uma fase: “ A lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. (Jo 1:17); e não precisa ser enfatizado que a próxima vinda será como o término de uma fase. Porém cada uma é também o início de uma fase inteiramente nova. “A hora vem, e agora é...” disse o Senhor Jesus (Jo. 4:23), introduzindo aquela nova fase, e nós de fato podemos agradecer a Deus que isto será verdade quando Ele retornar. Um outro pequeno ponto técnico, a propósito. A palavra hebraica para ‘sete’ simplesmente significa ‘satisfação’, ou ‘completo’. Precisamos muito comentar isto. Deus viu todas as coisas: elas eram ‘muito boas’ e Deus descansou em Sua satisfação, na plenitude da Sua obra. Mas a palavra hebraica para ‘oito’ é novamente uma palavra muito interessante. Ela tem a sua origem a partir da raiz ‘shammah’, que ocorre em um dos nomes do Senhor, ‘Jehovah-Shammah’ (Ez. 48:35), significando ‘o Senhor Super-abundante’, aquele que é Suficiente. Assim, oito segue o sete. Sete significa completo, e, contudo o Senhor nunca para aí _ Ele é superabundante. Agora vamos abordar cada um desses diferentes aspectos _ essas oito ‘notas’ na escala da redenção _ com uma pergunta: a questão ‘Por quê?”“, e nós a aplicamos primeiro à Encarnação: Por que a Encarnação? Por que foi necessário que o Filho de Deus tomasse a forma humana e a natureza humana?

POR QUE A ENCARNAÇÃO?

Naturalmente, para responder isto completamente, temos a obrigação de considerar todo o pensamento Divino e a concepção na criação do homem. A concepção do homem na mente de Deus, a vocação e o destino do homem _ tudo isso representa uma coisa muito importante na mente de Deus. Mas nós temos que permitir que isso venha a este ponto, a fim de nos levar mais adiante. Podemos dizer _ e corretamente _ que a Bíblia é toda ela sobre Deus. Isto é verdade. Podemos dizer que a Bíblia é toda ela sobre o interesse de Deus em Seu Filho, e isto é totalmente verdade. Porém quando você se dá conta de ambos os fatos, você descobre que não pode separá-los do homem. A Bíblia é toda ela sobre o Filho de Deus _ sim, mas é sobre Deus e Seu relacionamento com o homem, e o relacionamento do homem com Ele. Quando você disser tudo, você chega no homem. Não deveríamos ficar interessados num Deus remoto, fora do campo de vida humana. A verdade é que tudo tem que se focar aqui em baixo, no homem, e descobrimos que a Bíblia é o livro do interesse de Deus no homem. De alguma maneira os interesses de Deus estão inexplicavelmente relacionados com o homem _ sua vocação e seu destino. Tudo isto e o que isto implica será reunido no que iremos dizer sobre a encarnação. Por quê a encarnação? A resposta tem três lados. Primeiramente, por causa da redenção do homem. Segundo, por causa da reconstrução do homem. E terceiro, por causa da perfeição e da glorificação do homem.

(1) Por causa da redenção do homem

Primeiramente, por causa da redenção do homem. A idéia comum sobre redenção está associada com o mercado de escravos _ ir ao mercado de escravos e comprar, redimir, aquilo que foi posto a venda. Existem, de fato, certos fragmentos da Escritura que dão esta idéia. “Vendido sob o pecado” (Rom. 7:14) é uma frase escriturística, mas precisamos de algum esclarecimento para isso. Você diz que redenção significa a ‘compra’ de um homem em um mercado de escravos. Ele foi posto à venda. Verdade; mas quem o pôs a venda? Até que você examine esta questão e responda, você não terá o significado de redenção. Quem o pos à venda? E se vendeu a si mesmo? Isto coloca um novo aspecto sobre as coisas. Falamos de um homem ‘vendendo a si mesmo para o Diabo’. Mas como ele fez isto? Bem, ele não se vendeu objetivamente, como quem vende alguns bens, alguma coisa, algum objeto, para alguém. Ele se vendeu a si mesmo subjetivamente _ ele se vendeu em sua alma. Ele realmente vendeu a sua alma ao Diabo. Mas o que aconteceu exatamente? Vamos colocar da seguinte forma: Houve um dia quando alguém bateu, e ele abriu a porta; e aquele alguém começou a falar, e para falar traiçoeiramente, usando uma bonita linguagem, e vestido em termos bem atraentes; e, ao invés de bater a porta na cara daquele visitante, ele abriu um pouquinho a porta e escutou. Lembre-se _ este é sempre o primeiro passo para a escravidão, este é o primeiro movimento em direção a uma situação que exige redenção _ ouvir ao Diabo, e não reagir imediatamente com a pergunta: É esta a verdade de Deus, ou isto é falso para com Deus? É Deus uma pessoa como essa, ou Ele é diferente disso? Se todo cristão reagisse desta forma às sugestões e insinuações de Satanás, que situação diferente iria ocorrer na vida de muitos cristãos! Há muitos que estão em terrível escravidão porque eles ouviram e abriram a porta; nunca se confrontaram com esta questão: Você realmente acredita que Deus é um Deus como este? Deixe-me exortá-lo a tomar esta questão ao seu problema atual _ situações e condições, acusações e condenações que o inimigo está sempre tentando lançar sobre você, a fim de levá-lo para a escravidão _ e dizer: Deus é realmente assim?

A Raiz do Pecado: Incredulidade

Quando o homem abre a porta de sua alma e ouve ao inimigo, ele abriu a si mesmo para a incredulidade. E lembre-se _ a incredulidade é a raiz do pecado. Fiquemos bem certos sobre isto. Pode haver motivos por trás, mas a raiz do pecado é a incredulidade. É uma coisa que Deus não irá ter, uma coisa que põe Deus para trás, que o desprende. Quando há qualquer incredulidade, Deus fica pra trás; enquanto isto persiste, a brecha aumenta. Deus jamais irá se engajar onde exista incredulidade. Isto parece elementar? Isto é algo que nos persegue até o fim. Esta questão de fé em Deus é a base da nossa educação. Que seja dito que a medida na qual Deus não se compromete a Si mesmo, ou se compromete, é a medida da nossa fé. Quando o homem abre a porta para a incredulidade, Satanás põe o seu pé para dentro, diretamente para a alma do homem, e nunca o tira dali. Ele mantém aquela pegada na alma do homem a partir de então. De modo que agora a alma do homem, como ele é por natureza, fica ligada com os poderes do mal, e a força dessa ligação é a incredulidade. Até que esta incredulidade seja totalmente quebrada, despedaçada, a união entre o homem natural e Satanás continua. A redenção, ou reivindicação, começa com a fé: isto é o que poderíamos chamar de evangelho simples. A fé é o começo exato da redenção. Mas a fé é também a base da redenção contínua, contínua reconquista ou reivindicação. A redenção, embora em Cristo esteja completa e perfeita, é algo que prossegue: nós estamos ‘recebendo o fim da fé, a salvação da nossa alma’ (1 Pe. 1:9). Esta questão prossegue continuamente; é progressivo. Embora final na obra de Cristo, ela começa em nós com o primeiro exercício de fé _ crer em Deus _ e prosseguir nesta base até o fim. Quão verdadeiro isto é, quando falhamos em crer em Deus, cessamos de crer em Deus, e temos questões sobre Deus, imediatamente entramos em algum tipo de escravidão; Satanás obtém certo apoio, ou consegue algum ganho. Imediatamente alguma dúvida sobre o Senhor entra, e nos encontramos imediatamente presos; e a única maneira de se livrar é uma reconquista da fé em Deus novamente. Agora, devido a sua incredulidade, Adão trouxe e estabeleceu para toda a raça humana um elo da alma com os poderes do mal. E esta é a natureza da escravidão. Ele é vendido para um outro. Isto coloca o fundamento para um real e verdadeiro significado da redenção. Por que a encarnação/ ‘Um último Adão chegou para a luta e para o resgate’: um outro Homem chegou para redimir o homem. Mas oh, veremos, enquanto prosseguimos, que isto não foi mera atividade objetiva _ não foi apenas as coisas que Ele fez. Ele era, em Seu mais íntimo Ser, o Redentor. Deixe-me colocar isto de outra forma: Ele era a redenção. Ele não apenas fez algo, mas Ele era aquilo. Isto irá ficar mais claro logo adiante. Porém aqui vemos a necessidade de um Homem que viesse para resgatar: um Homem que, devido a Sua não implicação pessoal na herança do pecado de Adão, possui uma vantagem clara e única. A encarnação foi para providenciar redenção para o homem em um Homem, e não apenas para o homem por meio de um Homem. Espero que você entenda o significado disso. É uma coisa tremenda ver não apenas o que Jesus fez, mas o que Ele era para resolver a situação.

(2) Para a Re-Constituição do homem

Pelo ato de Adão, como vimos, o homem se tornou desordenado em sua constituição íntima, desarranjado, quebrado, um outro tipo de ser diferente daquilo que Deus o tinha feito e tinha intencionado que ele fosse. Ele foi roubado, e por causa disso deficiente; enganado, e por isso defraudado. Ele perdeu aquilo que tinha _ sua inocência. Ele perdeu aquilo que Deus queria que ele tivesse, e já tinha providenciado para ele, na base da fé em Si mesmo. Ele se tornou um ser culpado. Lendo atrás com nossa Bíblia em nossas mãos, e a revelação plena da Escritura, somos agora capazes de entender o que o homem era pra ter. Tudo se torna claro agora. Ele era pra ter duas coisas. Primeiro, ele era pra ter o Espírito de Deus habitando dentro dele. Ele era pra ser o templo de Deus. Toda Escritura agora torna isto perfeitamente claro, que esta era a intenção inicial de Deus, que Ele pudesse habitar no homem, que o Espírito de Deus pudesse residir dentro dele. Segundo, ele era pra ter dentro dele aquilo que é agora chamado no Novo Testamento “Vida Eterna” _ a vida que não acaba, a Vida Divina, a Vida não criada. Porém ele perdeu a vontade de Deus em ambos os aspectos. A encarnação teve o propósito expresso de gerar uma ‘nova criação’ de homem, onde aquelas duas coisas pudesse se tornar realidade: o homem agora habitado pelo Espírito de Deus; o homem possuindo a Vida Eterna. Esta é a resposta à pergunta: Por que a encarnação? E deixe-me repetir que o Senhor Jesus não apenas efetuou isto: Ele próprio foi o primeiro desta ordem, para gerar uma outra raça dessa espécie.

(3) Para o Aperfeiçoamento e a Glorificação do Homem

E finalmente, a perfeição e a glorificação do homem. Naturalmente, estas duas coisas são claramente vistas em Jesus, o Filho do Homem. Algumas das coisas mais sérias da Palavra de Deus são ditas nesta conexão. “Embora fosse Filho, contudo aprendeu a obediência por aquilo que sofreu”. (Heb. 5:8). “Ele foi aperfeiçoado através dos sofrimentos.” (Heb. 2:10). Não iremos parar com esta teologia ou doutrina. Podemos focá-la em uma palavra que já temos usado e sublinhado. Como foi Ele aperfeiçoado, ou tornado completo? Penso em fé. Ele, como homem, aceitou voluntariamente uma base de fé _ para viver Sua vida sobre o princípio da fé em Deus, Seu Pai. E foi em relação a isto que cada prova e teste, e provação teve seu significado _ para ver se por algum meio o inimigo podia enredar o último Adão, como fez com o primeiro. Ele teve êxito com a primeira raça em apenas um ponto, e este ponto foi a incredulidade. Uma manobra tão bem sucedida poderia levá-lo a crer que não havia melhor. ‘Isto é o que produz o resultado - este é o ponto sobre o qual focalizar’, podemos quase ouvi-lo dizer. Isto abre a vida do Senhor Jesus muito mais plenamente e claramente para reconhecer que o foco principal de todas as Suas provas, testes e assaltos satânicos, cada coisa inimaginável que estava trabalhando contra Ele _ e nós de modo algum temos a história toda _ tinha como seu objeto a insinuação de alguma questão sobre Seu Pai. O inimigo sabia que a devastação de uma nova criação poderia ser trazida sobre esta questão. E ele sabe isto hoje, em relação a você e a mim. Então, o Filho do Homem aperfeiçoado pelos sofrimentos. De que forma? Quais foram os Seus sofrimentos? Não me refiro aos Seus sofrimentos físicos. Seus sofrimentos físicos não foram outra coisa senão o inimigo tentando atingir a Sua alma. O verdadeiro sofrimento que o Filho de Deus, o Filho do Homem, conheceu foi esta constante e persistente pressão investida de todo lado, os esforços incessantes do inimigo em se posicionar entre Jesus e Seu Pai. Esta foi a essência de Sua agonia suprema quando gritou: ‘Por que me abandonaste’. Eu não creio, e acho que você também não crê, que aquele grito de Jesus no jardim _ “Se for possível, afasta de mim este cálice” _ foi um clamor de um Homem que não estava preparado para morrer, até mesmo o tipo de morte que ele estava para enfrentar. Este tipo de coisa tem, naturalmente, dado lugar para uma doutrina e uma teologia extremamente falsa. Jesus sabia o que Ele tinha que enfrentar ao ser feito pecado: sabia da última e terrível questão posta naquele momento, quando a face do Pai iria se retirar dele, e Ele seria abandonado, como a cabra expulsa para o deserto, sozinho, _ abandonado por Deus naquele terrível momento. Este foi o ponto do Seu sofrimento, e este foi a soma do Seu sofrimento. Porém, através de tudo isto, através de todos os sofrimentos, Ele foi tornado perfeito _ perfeito na fé. Que significado isto dá a palavras tais como essas, tão familiares a nós, e usadas tão superficialmente: “A vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou e a Si mesmo se entregou por mim”. (Gal. 2:20, A.V.). Que fé para se viver por ela! Se somente esta fé pudesse ser transmitida para nós _ se somente esta fé pudesse estar em nós no poder do Espírito Santo! Então poderíamos enfrentar tudo. “Eu vivo pela fé do Filho de Deus” — provado até o último grau, e triunfante. Fico feliz que o final da história não ficou sobre a nota do abandono de Deus, mas sobre a nota do triunfo: “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito”. Está tudo consumado _ É vitória! Esta é a fé aperfeiçoada através do sofrimento, e tornada completa pela obediência _ pois a obediência é sempre a prova da fé. Não existe tal coisa de fé sem obediência.

PORQUE A TRANSFIGURAÇÃO

Neste ponto poderíamos colocar uma questão extra: Por que a transfiguração? A transfiguração representou o fim de Seu próprio curso, o final do Seu próprio caminho. Ele tinha viajado pela estrada da provação, a estrada da absoluta consagração ao Seu Pai. Em relação a Ele, pessoalmente, Ele não tinha mais que avançar. Tinha sido obediente _ aquilo foi o fim da estrada para Ele. A partir daí a glória podia vir, então. Para Ele há glória _ a transfiguração: um Homem que tinha andado todo caminho com Deus em obediência de fé foi glorificado. Porém, quanto ao resto, isto é para nós _ esta é a nossa parte. Ele veio da glória, e, ‘pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz’ (Heb. 12:2). Ele tomou o nosso lugar, a fim de nos levar para o Seu lugar _ para a glória _ “muitos filhos à glória” (Heb. 2:10), e Ele por isso foi tornado ‘perfeito através do sofrimento’. Um Homem glorificado, através da fé, para o homem _ nada separado de nós. Sua glorificação, como veremos mais tarde, é uma parte da redenção. É uma parte da re-constituição; e por isso, uma vez que a redenção e a re-constituição são para nós em Cristo, a glorificação também é para nós Nele. ‘Glorificados juntamente com Ele’ (Rom. 8:17). Ele foi capaz de dizer no final: ‘Pai, tenho glorificado a Ti sobre a terra’; e por isso Ele também podia falar: ‘Pai, glorifica-Me... com a glória que Eu tinha contigo antes da fundação do mundo’ (Jo. 17:4–5). O ponto é que aqui sobre esta terra o Senhor Jesus viveu uma vida de fé, e foi absolutamente dependente do Pai para tudo, como você e eu somos. Ele teve uma vida de fé tão absoluta como jamais foi exigido de nós. E sobre esta base, como Homem, Ele caminhou em tal satisfação a Deus que pode ser glorificado. Mas lembre-se, a encarnação não foi para Ele mesmo: foi para nós, e tudo o que estava ligado à encarnação foi para nós. É nossa redenção, nossa re-constituição e nossa glorificação através do aperfeiçoamento Dele.

O Que Cristo é Para Nós

Agora, tudo isto lança o fundamento para o crer — é uma pena que não tenhamos a tradução exata — ‘crer no, ou em Jesus’. Apenas dizer: “Crer no Senhor Jesus Cristo”, é insuficiente; deixa muito a desejar. Isto é posicional: indica uma mudança de posição, um movimento: ‘Crer no Senhor Jesus Cristo. ’ Realmente significa isto: que há na fé verdadeira algo que O faz, por assim dizer, em nós mesmos, e nós mesmos dentro Dele. Não me compreenda mal: Não estou falando sobre a Deidade _ estou falando sobre o Filho do Homem. Há algo de profunda significância espiritual nesta palavra na Tabela do Senhor: “Meu corpo, que é por vós”. Rejeitando as idéias erradas e extremadas associadas com a transubstanciação, e tudo mais, atrás disso existe algo deixado para a dispensação para reconhecer, até que Ele venha. Atrás disso existe este princípio: aquela apropriação da fé do Senhor Jesus faz em nós o que Ele é. Fomos redimidos pela fé Nele. Fomos re-constituídos pela fé Nele. Fomos aperfeiçoados pela fé Nele. Estamos glorificados Nele pela fé. Mas isto não é apenas objetivo _ é uma questão de tomarmos a posição que tudo o que é verdade para Ele é verdade para nós. Quão impossível é explicar! Mas você e eu temos que aprender o que isto realmente significa tomar a nossa posição, em fé, em relação aquilo que Jesus Cristo é _ porque, então, algo acontece. Os nossos problemas surgem do permanecer no terreno do que somos, ou sobre aparências ou argumentos _ algo objetivo _ ao invés de assumir nossa posição sobre o terreno de que o Filho de Deus se fez carne, não apenas para realizar, mas para Ele mesmo ser a minha redenção. E por fé Nele há redenção. Ele veio para ser a minha re-constituição: e, pela fé Nele, através da ação do Espírito Santo, algo acontece, e eu sou re-constituído. Ele veio para ser a minha perfeição: e pela fé Nele o Espírito Santo realiza a obra da minha perfeição. Ele veio para ser a minha glorificação: e a fé dá ao Espírito Santo o requisito, essencial, indispensável campo para nos levar para a glória de Cristo, para sermos juntamente glorificados com Ele. Até crermos, e crer no Senhor Jesus, o Espírito Santo permanece imóvel. Você pode talvez enganar a você mesmo, mas você não pode enganar o Espírito Santo. Você não pode ter um pé em um terreno e o outro pé em um outro terreno. Se você tiver um pé naquilo que você é, e o outro pé _ você pensa _ no que Cristo é, você é uma pessoa dividida. O Espírito Santo não se engaja: Ele fica imóvel e espera. Ele diz: Ponha ambos os pés sobre Cristo, e, então, irei começar a fazer algo.

Ler

Ler

Ler

Ler

Ler

Ler

Ler

Ler

Ler

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.