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Cristo no Céu e Cristo no Interior

por T. Austin-Sparks

Primeiramente publicado na revista "A Witness and A Testimony", em Mai-Jun 1934, Vol. 12-3. Origem: ""Christ in Heaven and Christ Within". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)

A Necessidade de Equilibrar

“Que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos lugares celestiais” (Ef. 1:20).

“Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória” (Col. 1:27).

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;
sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado” (Rom 6:1-6).

“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rom 8:1-2).

“Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;
Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rom 8:33-34).

Sentimos a importância de dizer uma palavra com respeito a Cristo no céu e Cristo no interior do crente, ou seja, o que é objetivo e o que é subjetivo. É tremendamente importante que mantenhamos um equilíbrio apropriado da verdade. Uma boa dose de nossos problemas é por causa de haver uma ênfase desequilibrado em algum aspecto da verdade. É bom conhecer a verdade, e é bom se regozijar nela, mas é possível que mesmo a verdade nos traga problemas. Existem muitos perigos que jazem na direção da verdade, até mesmo a verdade espiritual; não são poucos dentre povo do Senhor que têm caído nesses perigos. Não é que eles sofram do desejo de luz, mas eles estão sofrendo sobremaneira porque eles não tiveram suas luzes devidamente ajustadas e equilibradas. Por isso torna-se muito necessário para nós obter as coisas nas suas perspectivas e proporções corretas. Preponderância em qualquer lado sempre levará a ferimento espiritual, e muitas vezes ao desastre. A história de muitas instrumentalidades que têm sido levantadas e usadas pelo Senhor é eventualmente a triste história de uma perda de poder e efetividade, por causa de atingir um ênfase desequilibrado, de colocar um lado da verdade num lugar fora da proporção daquilo que é complementar.

Verdades Complementares

Não é uma questão de ser todos os aspectos, ou seja, tendo tudo e estar em tudo; mas na constituição de um corpo percebemos que uma lei é equilibrada por uma outra. Todas as leis, é claro, são necessárias, e é importante dar devido lugar a cada função em nossos corpos; mas lá operam leis e funções paralelas, uma equilibra a outra. Existe aquilo que é complementar a alguma outra coisa. Estas duas coisas são como que gêmeas, operando juntas, e super enfatizar ou super desenvolver uma significa jogar toda a ordem fora, e provocar bastantes limitações e fraquezas graves, e fazer coisas menos efetivas do que elas deveriam ser.

Assim é nos assuntos espirituais. Existem sempre verdades de equilíbrio. Existe uma coisa, mas existe algo que vai com ela, e que a mantém em sua medida correta, e faz com que ela cumpra seu propósito e sirva seu fim o mais efetivamente. Existe está ordem na criação Divina – uma coisa é necessária para uma outra fazer essa outra cumprir seu propósito ao máximo. É aí onde o equilíbrio tem que ser observado e mantido.

O Adversário Usando a Obra de Deus Contra Ele

A seguir devemos lembrar que o adversário está sempre querendo usar a própria obra e a própria verdade de Deus contra Deus mesmo. Esse fato é deixado muito claro nas Escrituras, e podemos observá-lo na experiência e na história espiritual. Esta linha de ação para o adversário é mais bem sucedida do que talvez qualquer outra, porque o resultado é que ele prejudica imediatamente a obra e verdade de Deus. Ele fecha a porta para a aceitação do que é de Deus simplesmente usando-a contra Deus, e um dos seus métodos mais bem sucedidos é o de garantir uma super ênfase ou uma apreensão desequilibrada da verdade Divina. Você verá o que quero dizer à medida que avançarmos.

Um Perigo com Todas as Bençãos

De modo que com todas as bençãos Divinas existe um perigo. Onde quer que haja algo que realmente é do Senhor, terá se ligado a isso seu próprio perigo peculiar.

Ora, isto são apenas observações gerais, levando a esta breve meditação ao longo da específica linha do que é objetivo e o que é subjetivo quanto à obra do Senhor Jesus para e no crente. Olharemos para estas duas separadamente muito resumidamente, vendo o que a benção é e quais são os perigos.

O Lado Objetivo

Tomemos o lado objetivo primeiro, o Senhor Jesus apresentado a nós como no céu. Sabemos que Ele está lá, e sabemos que muito é dito na Palavra sobre Sua presença estando lá; mas por que Ele está lá? Em primeiro lugar: como Ele chegou até lá? Agora você observará se você olhar na Palavra que cada vez que o lado celestial da ascensão do Senhor Jesus é apresentado, isto é, cada vez que o assunto é olhado a partir de cima, não se fala sobre subir ou da Sua ascensão, mas se fala sobre Ele sendo recebido acima. No primeiro capítulo do Livro de Atos é registrado que enquanto os discípulos estavam olhando para o céu depois do Senhor Jesus ter sido tomado dentre eles, dois anjos apareceram e disseram a eles: “Galileus, por que estais olhando para o céu? esse Jesus que dentre vós foi recebido...” (A versão autorizada diz “tomado”). Isso é um ponto de vista angélico ou celestial, e a palavra “recebido” representa algo mais do que só o fato de que Ele ascendeu ao céu. Carrega consigo este fato, que seria impossível para o Senhor Jesus ser recebido no céu se Ele não tivesse realizado perfeitamente a obra que Ele veio do céu a realizar. Com efeito, o céu estaria fechado para Ele; o céu teria tido que dizer a Ele, “mas Você não realizou a obra; não pode haver recepção até que você realize ela”. Mas foi por causa de que Ele tinha aperfeiçoado a obra que veio a realizar, e não tinha nada mais do que acrescentar a ela, que o céu O recebeu, e foi uma grande recepção! Salmo 24 nós dá uma ideia de como foi essa recepção: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é o Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha”. Veja, isso implica a obra que Ele realizou pela Sua Cruz, derrubando os Seus e nossos inimigos, enfrentando toda a demanda da necessidade humana na questão da salvação, aperfeiçoando nossa salvação. E então Ele é recebido acima, e está à destra de Deus; e à destra na Escritura é sempre o lugar de força e honra. Ele está à destra de Deus porque a obra que Ele veio a realizar foi acabada. Isto é, nossa salvação foi aperfeiçoada pelo e no Senhor Jesus. Não há absolutamente nada para Ele acrescentar a isso. Isso é o mais elementar a dizer, e no entanto é tão fundamental. Muitos do povo do Senhor não têm ainda entrado na alegre apreciação disso – que o Senhor Jesus realmente tem dado a última pincelada e o último toque à nossa salvação; que quando o céu recebeu Ele, o céu fixou seu selo à obra aperfeiçoada da Sua Cruz; e que Ele está lá em possessão de uma salvação que não tem que ainda ser realizada mas que é definitiva, completa, total.

Salvação Perfeita Quando Cremos

Nossa salvação depende de nossa aceitação disso pela fé, não de coisa alguma subsequente a isso. No dia em que cremos no Senhor Jesus no terreno da perfeição da obra da Sua Cruz, recebemos perfeição de salvação, e entramos em toda essa salvação até seu último degrau. Nós nunca – embora vivêssemos por séculos nesta terra, - nós nunca em Cristo seremos um pouco mais perfeitos do que nós somos Nele no mesmo momento em que cremos. Tudo isso é proporcionado para nós no dia em que cremos. Não existem perguntas, perigos, riscos, a coisa está fixada, é nossa; total e completa em Cristo. O Sangue do Senhor Jesus lidou com toda a questão do pecado, raiz e ramo, de uma vez por todas, para nós. A questão da condenação foi para sempre resolvida. Você não pode ter nada mais total do que isto – NENHUMA condenação! “Não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”. Não diz: “Não há condenação para os que têm fielmente continuado com o Senhor por anos”. Diz: “para os que estão em Cristo Jesus”. E quando você está em Cristo? Você está em Cristo no momento em que você crê em relação à Sua obra na Cruz para sua salvação, e nesse mesmo momento você entra na posição de NENHUMA CONDENAÇÃO, e a liberdade da condenação não pode ser mais completa do que isso.

A coisa tremendamente importante para nós é ter isso resolvido em nossos próprios corações. Somos salvos, somos perdoados, somos libertados da condenação. Em Cristo somos perfeitos. Ele é a nossa perfeição, e essa perfeição Sua é nossa pela fé. As pessoas que têm a mais pura, mais clara, mais plena compreensão de coração disso são as pessoas mais felizes, as pessoas que conhecem a alegria. As pessoas que não têm compreendido isso são pessoas perturbadas, elas não têm a plenitude da alegria, elas sempre estão com medo, ansiosas, preocupando-se com a salvação delas, duvidando; e o inimigo tenta muitas artimanhas com pessoas que não têm resolvido isso de uma vez por todas.

Ora, essa é a verdade abençoada do que é objetivo na salvação para o crente como em Cristo. Fico muito feliz de que Ele está no céu “muito acima de todo” com este assunto. Se Ele estivesse aqui neste mundo eu poderia pensar que qualquer coisa poderia acontecer: mas Ele não está, nem Ele está em nenhuma esfera onde qualquer coisa pode acontecer; Ele está além de todos os acontecimentos no assunto da salvação. Essa salvação nossa em sua perfeição tem sido colocada para além do alcance de qualquer coisa que pudesse lançar uma duvida sobre isso, ou levantar uma questão sobre isso – para além do contato de qualquer coisa que pudesse levá-la à incerteza.

Os Perigos da Apreensão Objetiva

Mas existem perigos associados mesmo com essa verdade abençoada, porque isso é apenas um lado da verdade. É o primeiro lado; é o assunto que deve vir primeiro, mas é apenas um lado, e portanto é possível fazer da salvação só algo unilateral, colocando toda a ênfase sobre isso e não dando devido lugar ao outro lado.

1. O Perigo da Superficialidade
Quais são alguns dos perigos? Bem, começamos com o mais simples, o perigo da superficialidade, de pouca profundidade. O que Cristo fez por nós pode ser um assunto de muita alegria, regozijo e satisfação; mas o contentamento nesse campo e com esse lado só, pode impedir essa obra profunda a qual é necessária, que vem pelo lado da verdade complementária da obra de Cristo, o subjetivo. Assim é descoberto que muitas pessoas que estão se regozijando ao máximo na finalização da salvação deles em Cristo, estão vivendo muito sobre a superfície, e não estão aprendendo muita coisa sobre as realidades mais profundas e significado mais completo de Cristo. Essa é a primeira e talvez a mais simples forma de perigo.

2. O Perigo da Maturidade Atrasada
Intimamente relacionado a isto está o perigo de deixar a vida cristã estática, acomodada, onde tem chegado ao ponto de aceitar toda a verdade objetiva pela fé e ficado lá, e não continuando para além disso na experiência espiritual. A verdade está lá, mas é objetiva, externa, embora exista grande alegria, e certeza no coração; mas a vida cristã parou com isso, se estabeleceu. Isso é um perigo muito real, e você o acha marcando um grande número de pessoas dentre o povo do Senhor. As suas atitudes é, “eu sou salvo, nada tem que ser acrescentado ou pode ser acrescentado à minha salvação; não preciso ter nenhuma duvida de minha salvação, sou aceito em Cristo, e sou perfeito Nele; o que mais preciso? Apenas descanso nisso e desfruto disso dia a dia”. Bem, isso é muito bom, mas você vê, isso pode levar a uma detenção, de modo que você viva num lado das coisas, e toda a vida cristã parar lá.

3. O Perigo da Contradição
Existe um outro perigo no qual alguns caem, que têm apreendido de uma maneira muito verdadeira e abençoada a grandeza da salvação que Cristo realizou como sendo deles. Por causa de que eles sabem que a questão da salvação está eternamente estabelecida, e não há espaço seja qual for para quaisquer duvidas ou medos, e nada pode jamais alterar o fato; e que a salvação deles não depende em nenhum momento sobre qualquer coisa que eles sejam ou façam, mas sobre o que Ele é e fez, - tudo o qual é inegavelmente verdadeiro; não obstante, por causa de que eles estão perfeitamente certos e não têm quaisquer duvidas, é achada uma falta de simpatia e tornam-se duros, frios, e legais. Às vezes eles se tornam cruéis, e muitas vezes inconsistências aparecem na vida; isto é, suas atitudes dizem com efeito, “sou salvo, não importa o que faça, nunca me perderei”. Eles nunca sonhariam em dizer isso em muitas palavras e ainda assim muitas vezes funciona dessa maneira, que a mesma certeza da salvação deles abre a porta para inconsistências e contradições em suas vidas que nunca atingem as suas consciências, simplesmente porque eles dizem que não têm mais consciência do pecado, que a consciência tem sido anteriormente purgada, e portanto um nunca deveria ser incomodado com a consciência novamente; a salvação é absoluta, nada pode tocá-la. Sutilmente, imperceptivelmente, sem os seus raciocínios ou ponderação, essa atitude toma forma e você descobre com alguns que se você fazer entrar na cabeça deles certas coisas em suas vidas que você vê serem inconsistências ofuscantes, eles dificilmente crerão nelas, eles possivelmente as repudiarão, ou simplesmente dirão, “bem, nada altera o fato da minha salvação”. A vida é portanto lançada num estado desequilibrado, e o perigo aparece logo com o fato mesmo da plenitude e finalização da salvação.

4. O Perigo da Verdade Tomando o Lugar da Vida
Existe um outro perigo; é o fazer do progresso um assunto de verdade ao invés de vida. Progresso, obviamente, é reconhecido como necessário. Nenhum crente verdadeiro se assentaria e diria, “bem, ora, não há mais progresso a ser feito”. Mas para muitos que têm bem fortemente assumido a posição da obra objetiva do Senhor Jesus em sua perfeição, o assunto do progresso não é um assunto de vida, é antes um assunto de verdade; isto é, conhecer mais do que tornar-se mais. Assim você descobre que um grande número de pessoas que estão nessa posição têm avançado tremendamente em seus conhecimentos da verdade, mas eles conhecem muito mais do que eles são, e de uma maneira ou outra seus próprios crescimentos espirituais na semelhança de Cristo não têm mantido o ritmo de jeito nenhum ou em nenhuma proporção adequada aos seus progressos no conhecimento de coisas sobre Cristo. Isso é um perigo que aparece com esta mesma coisa da qual estamos falando.

5. O Perigo De Perder O Prêmio
Em seguida este perigo adicional – dar menos importância ao prêmio do que se deveria dar. A salvação não é o prêmio. A salvação nunca foi o prêmio. Você nunca pode ganhar ou merecer a salvação; é um presente gratuito. Mas acomodar-se com a salvação em sua totalidde e sua finalização significa para muitos uma falha em reconhecer que existe um prêmio – aquilo do que o Apóstolo falou quando disse: “prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fili. 3:24). Existe algo mais do que a salvação, algo relacionado ao propósito total do Senhor na glória, algo relacionado à última manifestação plena do Senhor em Seu povo; e isso não é simplesmente que eles sejam pessoas salvas, mas que eles tenham atingido (e Paulo usa essa palavra) algo. Paulo nunca ficou com medo de perder a sua salvação. Quando ele disse: “para que havendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser rejeitado” (1Cor. 9:27), ele não estava pensando em perder a sua salvação, mas ele estava ciente de que havia algo que poderia perder; ele poderia ficar aquém de algo, daquilo que ele chamou “o prêmio”; e ele relacionou à sua obtenção, um crescimento em sua vida espiritual: “não que já... eu seja perfeito”. Se nos acomodarmos na atitude que diz: “minha salvação é perfeita, completa, e definitiva em Cristo. Nada pode ser acrescentado e me regozijo nisso” - isto bem pode significar que damos menos importância ao prêmio do que deveríamos lhe dar.

Portanto, você vê que existem perigos que aparecem com o que é talvez a maior das bençãos.

O Lado Subjetivo

Isso não cobre todo o terreno, mas deve ser suficiente nesse lado pelo momento. Tornemos só por um momento para o outro lado – Cristo em nós, ou o lado subjetivo da obra de Cristo. O que significa Cristo em nós? Sabemos a partir da Palavra que significa conformidade com a imagem de Cristo. Paulo usa a frase: “até que Cristo seja (plenamente) formado em você” (Gál. 4:19). na salvação temos tudo quanto à nossa própria perfeição Nele. Quando nós recebemos Cristo recebemos no nosso interior potencialmente tudo o que está Nele quanto ao Seu caráter presente – não apenas a Sua posição mas o Seu caráter, note bem. Não é ONDE Ele está mas O QUE Ele é. Não é agora o que Ele possui mas o que Ele é. Ele possui nossa salvação, mas conhecemos o que Ele é, e “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é o veremos” (1João 3:2). De modo que tudo o que Ele nos deu potencialmente quando cremos está aí para ser desenvolvido; e, como Paulo diz, Cristo é para ser plenamente formado em você, e é para sermos conformados à imagem do Filho de Deus. Isso é algo muito maravilhoso. É: “Cristo em você, a esperança da glória”. Cristo em nós significa que eventualmente seremos como Ele ao máximo. Mas este não é o FATO de sermos salvos, este é o OBJETIVO de sermos salvos. Isto não é salvação em seu significado fundamental e inicial; isto é salvação em sua operação até seu significado completo, a imagem de Cristo, o Filho de Deus.

Identificação Com Cristo

Como aceitamos isso? Aceitamos isso reconhecendo o segundo lado da obra do Calvário. Um lado – o objetivo – é o que Cristo fez por nós, afora de nós, em Sua própria Pessoa. Nós aceitamos este outro lado da conformidade com a Sua imagem – o subjetivo, aceitando que Cristo não apenas fez isso POR nós mas COMO nós, isto é, representativamente. Chegamos a Romanos 6 e reconhecemos que quando Cristo morreu nós morremos, quando Cristo foi sepultado nós fomos sepultados, quando Cristo foi ressuscitado nós fomos ressuscitados. Essa é a Sua obra representativa. Ora, aceitamos tudo isso em simples fé ao começo; mas, note bem, isso não se torna operativo em nenhuma medida completa até que o lado objetivo tenha sido estabelecido. Deve haver um estabelecimento, definitivamente, positivamente, finalmente, que a nossa salvação em Cristo é perfeita e completa, antes de que possa haver alguma plena medida da operação de Cristo em nossos corações.
É aqui onde o perigo aparece com uma grande benção. Oh! É uma grande revelação, um desvendar maravilhoso, que Deus nos escolheu para nos fazer como Cristo – não apenas para nos salvar com uma perfeita salvação para que a questão do pecado e condenação seja respondida finalmente e para sempre, mas para nos conformar à imagem do Seu Filho; que revelação, que benção! Sim, mas Deus não pode fazer essa segunda coisa até que a primeira coisa esteja estabelecida, porque é nessa esfera que existem perigos indizíveis. Qual é o perigo? É este.

O Perigo da Apreensão Subjetiva

Se o Senhor fosse trabalhar para esvaziar-nos de nós mesmos a fim de dar espaço para o Senhor Jesus; mostrar-nos a nós mesmos a fim de mostrar-nos o Senhor Jesus; fazer-nos conhecer o que somos em nós mesmos a fim de fazer-nos conhecer o que Cristo é em nós; fazer-nos conhecer nossas fraquezas a fim de aperfeiçoar a força de Cristo; fazer-nos conhecer nossa loucura a fim de fazer Cristo a nossa sabedoria, perfeita em nós; e Ele fosse começar a fazer isso e a questão de nossa salvação não fosse estabelecida, o diabo a uma entraria e usaria a própria obra de Deus contra nós, e quando o Senhor Jesus estivesse lidando conosco para abrir caminho para o Seu Filho, o diabo começaria a dizer: “você está sob condenação, Deus está contra você, estes mesmos tratos de Deus com você são prova de que sua salvação não está determinada”. E é assim com muitos em quem o Senhor começa exercitar coisas. Eles permitem o inimigo entrar e tomar posse da própria obra de Deus e voltá-la contra Deus, levantando duvidas em seus corações quanto à salvação deles.

Você vê isso? Muitos vezes isso é feito, e o perigo está aí, correndo todo o tempo bem ao lado da maior benção. É assim que o inimigo tenta usar a verdade de Deus contra Deus.

Ora, o lado subjetivo da obra de Deus demanda para a sua operação efetiva que estejamos estabelecidos de uma vez por todas quanto à nossa salvação; isso vem primeiro! Se você apenas tiver um lado; o objetivo, e todo o seu ênfase estiver sobre isso, você será superficial e não crescerá espiritualmente. Se você habitar somente no subjetivo, você se torna introspectivo e começa duvidar da sua salvação; seus olhos estarão sempre voltados sobre você mesmo, e o resultado é que você começará procurar por algo em você mesmo que possa encomendar-se a Deus; e nisto jaz uma negação da obra perfeita da salvação realizada pelo Senhor Jesus. Observe, é um fragilizar e reduzir a totalidade da obra do Calvário. Estas duas coisas devem ir juntas. Por um lado – plena e finalmente em Cristo somos tão perfeitos na hora em que cremos quanto sempre o seremos. Por outro lado – tudo o que está em Cristo vai ser feito, não TEORICAMENTE verdadeiro, mas REALMENTE verdadeiro em nós pelo Espírito Santo. Mas o segundo demanda o primeiro, e devemos manter o balanço. Devemos nos regozijar sempre no fato de que nossos nomes estão escritos no céu, de que somos salvos com uma perfeita salvação; mas, pelo outro lado, devemos lembrar que há algo que o Senhor quer fazer – não fazer a salvação real, mas fazer da imagem de Cristo algo interior. Essa é a operação da salvação.

Assim este equilíbrio é necessário, e devemos dar a mesma ênfase. Se super enfatizarmos o subjetivo tiramos algo da glória de Cristo. Se super enfatizarmos o objetivo tiramos algo do propósito de Deus. É um assunto da obra de Deus em Cristo, e do propósito de Deus em Cristo; e estas duas coisas devem ter ambas seu lugar.

Que o Senhor nos dê entendimento, para que entremos num lugar de descanso e sejamos libertos dos perigos que se escondem na vizinhança de cada benção Divina.


Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.