por T. Austin-Sparks
Ler: Hebreus 5:11-14; 6:1-3.
Esta porção, que poderia ser acompanhada por mais uma grande quantidade vinda das cartas aos Romanos, Coríntios, Efésios, Colossenses e das cartas de Pedro, traz algo muito fundamental em vista. Fundamental porque, neste caso, está endereçada a muitos religiosos, e aqueles que herdaram todo este sistema que o próprio Deus produziu. Ela traz em vista o fato de que com Cristo, e de que com um verdadeiro relacionamento com Cristo, algo novo se inicia. Tudo mais, não importa o que seja, chega ao fim. Ela deixa claro o que Paulo gostava de dizer, que com a morte de Cristo tudo acabou, tudo! Religiosamente a coisa central, em relação à velha ordem, em tipo, era o véu do templo; tudo se encontrava naquele véu. Com a morte de Cristo, o véu se rasgou de alto a baixo pelas mãos de Deus. A velha ordem foi golpeada em seu âmago. A morte do Senhor Jesus realmente traz um fim a todas as coisas - religiosamente – da velha ordem, do velho sistema, da velha criação. A ressurreição do Senhor Jesus foi Deus começando tudo novamente, a partir do zero. E nenhum fragmento ou fração da velha criação foi levada para a nova.
Penso que um bom número de pessoas tem a idéia, mesmo que não numa forma expressa e positiva, de que se tornar um crente, um filho de Deus, um cristão, é chegar a certo ponto de sua história onde você, metaforicamente falando, sobe para uma plataforma mais alta e prossegue. Está na natureza de continuidade da vida, num andar superior. Isto é, que agora você tem interesses religiosos, interesses cristãos, que não tinha antes, e que suas atividades e energias são direcionadas ao longo da linha em relação a Cristo, o que não acontecia antes. Você simplesmente continua agora num diferente nível de vida, e, assim, eles confundem ressurreição com elevação, e elevação com ressurreição. Agora, é tremendamente importante (e eu não me preocupo em ser tão elementar) que pudéssemos reconhecer que, quando nos tornamos filhos de Deus, chegamos à posição onde não temos subido para um pavimento superior, como num elevador, mas sim temos caído numa sepultura, havendo sido enterrados, e, em relação a Deus, nunca mais seremos vistos como éramos anteriormente. Você diz: Aqui estamos, é o mesmo velho EU de sempre, o mesmo velho EGO, a mesma velha personalidade. Isto pode ser assim do seu ponto de vista, mas não do ponto de vista de Deus! O que você e eu temos que fazer é aceitar o ponto de vista de Deus. Isto é o que Paulo quer dizer com: “considerai-vos como mortos...”. Isto é, aceitar o ponto de vista de Deus. Uma vez que você tenha aceitado isto de modo inteligente e deliberadamente, você está destinado a conhecer de forma contínua e progressiva que o ponto de vista de Deus é real. Isto é, que Deus considera você como morto, e de fato reconhece você como morto, e Ele não quer ter nada a ver com você naquele velho nível; e, quando você traz alguma coisa do natural, você tem um tempo desfavorável, e descobre que Deus está contra você. Você entra nessas crises e diz: Qual é o problema, Senhor? E o Senhor diz: Isto foi descartado no início! Você entende que trata-se de um aceitar de uma vez por todas o ponto de vista de Deus, e descobre que não é uma teoria, nem uma doutrina, mas uma realidade.
Consegui um pequeno livro esta semana. O título na capa me chocou. Provavelmente muitos de vocês o conheçam. “Quando você morreu?” Eu apenas vi algumas palavras dele, e o escritor diz: “Uma estranha questão para perguntar a alguém”, e, então, um pouco mais adiante e ele diz: “Você morreu muito tempo atrás, quando o Senhor Jesus morreu na cruz.” Eu sei, naturalmente, o que ele terá que dizer sobre isto, eu sei o que se seguirá, mas esta é a verdade que o Senhor exige que nós aceitemos. O ponto de vista do Senhor é que você e eu morremos antes de termos nascidos, antes que entrássemos literalmente neste mundo. Em relação à velha criação, nós morremos, morremos com Cristo, e o Senhor não tem nada o que dizer para nós, ou fazer conosco até que aceitemos esta posição. A primeira palavra para qualquer homem do ponto de vista do Senhor é “arrependa-se de suas obras mortas”. Tudo está morto até que você experimente a união com Cristo pela ressurreição, não importa o que seja, religião ou qualquer outra coisa. Tudo está morto até que você experimente a união com Cristo na vida ressurreta. Esta é a posição de Deus, e a Cruz do Senhor Jesus apresentada a todo homem ou mulher representa, em relação a este homem ou mulher, um absoluto fim, e, do outro lado, o início de uma ordem completamente nova. Paulo chama a diferente ordem: “…a novidade de espírito.” Esta não é a novidade do Espírito Santo, mas é a novidade do espírito, isto é, o nosso espírito tornou-se algo novo, e é a partir disto que tudo mais se desenvolve. Você pode ver isto em seu próprio caso. Se já houve uma ilustração do que significa novidade de espírito, Paulo foi o tal. Por que, isto aconteceu rapidamente com ele? Num dia ele está respirando ameaças e massacres contra os membros de Cristo, com uma determinação apaixonante de acabar com aqueles cristãos, e, em poucas horas, ele está humilhado perante uma pequena assembléia em Damasco, a qual ele estava indo destruir, tomando suas instruções para o resto de sua vida.
Esta é uma mudança de espírito, não é? Isto é novidade de espírito. E você encontra esta tremenda mudança manifestada em todos os tipos e direções. Pense neste fariseu de fariseus em sua atitude em direção aos “case” gentios, como ele os chamava (todo que não fosse judeu era um “cachorro” perante os olhos de um judeu). Veja este homem em cujo próprio sangue isto estava, agora colocando os gentios pelo menos em posição igual a dos judeus, e pondo a sua vida em contínuos sofrimentos para que esses gentios pudessem desfrutar de Cristo. Algo tinha acontecido no interior, um novo espírito! Isto somente vem através da crise de uma morte em um terreno e de uma ressurreição em outro; algo que somente Deus pode fazer. E tudo que não for desta novidade de espírito é da velha criação, e significa a barreira intransponível da Cruz do Senhor Jesus Cristo, sempre que isto se levanta. Deixemos o nosso velho homem, seja nosso mau temperamento, nossa velha maneira de julgar, nossa velha disposição, deixemos tudo isso ir para a cruz. Se somos filhos de Deus, sabemos bem que naquele ponto uma barreira é colocada e não podemos passar, estamos guardados em nossa vida espiritual, e temos que voltar atrás e ter a coisa colocada em ordem. É para nós algo tão real quanto qualquer outra coisa neste universo.
Naquele momento ficamos tranqüilos espiritualmente, e a espada flamejante está atravessada em nosso caminho. Não há caminho para aquilo aqui. Traga aquilo aqui e você será julgado. Você irá conhecer o julgamento de Deus. Você será quebrado. Está vindo contra o fato de que Deus acabou com tudo aquilo, e nós temos que aceitar o ponto de vista de Deus. Quando tivermos aceitado este fato, então a coisa irá funcionar, ela sempre funciona. Assumimos esta posição, aceitamos esta verdade. Não podemos nós mesmos acabar com a velha criação, mas dizemos de forma positiva: Eu considero como Deus considera. Bem, então, iremos descobrir, na medida em que prosseguirmos, que Deus colocou tudo debaixo da morte, e sempre que a coisa surgir, novamente a sentença de morte é dada. Se começamos a trabalhar para o Senhor com a nossa própria força natural, encontraremos a morte, e a nossa força ficará debaixo da morte. Se começamos a usar o nosso velho julgamento nas coisas de Deus, encontraremos a sentença e chegaremos numa encruzilhada, incapazes de prosseguir. Tudo que trouxermos do natural para as coisas de Deus irá nos confrontar com _ não uma nova questão _ mas com a velha questão, a morte, que repousa sobre a velha criação. Na medida em que nos movemos em novidade de vida, em que trabalhamos pelo Espírito de Deus, em que andamos no Espírito, a morte é abolida e ficamos na vida, e podemos prosseguir e podemos chegar ao destino, não importa o quanto possa haver de deficiência e fraqueza em natureza, nós conseguimos avançar, na medida em que caminhamos no Espírito. “A lei do Espírito de vida em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte”. Estamos livres!
Agora, isto é um terreno muito familiar para muitos, contudo é algo que continuamente temos que nos lembrar. É o fundamento. A menos que tenhamos o fundamento muito bem colocado, chegaremos a um obstáculo. Sabemos de muitos filhos de Deus, que têm sido filhos de Deus por anos, e muitos deles têm estado trabalhando para o Senhor, mas que chegaram a um estado de paralisação, estão presos. Por quê? Bem, em certo sentido, de alguma forma, algo deles mesmos, o velho EU ressurgiu, ficou em evidência, atravessou no caminho. Pode ser algo de suas velhas mentes, algo de suas velhas vontades, algo de suas velhas afeições, desejos e sentimentos. Eles, de alguma forma, estão em seus próprios caminhos. O que é necessário não é que eles devem morrer novamente, mas que precisam aceitar a sua morte em Cristo de uma vez por todas em relação a tudo o que possa surgir, e ficar livre da lei do pecado e da morte. “Arrepender-se das obras mortas”. É exatamente isto que o apóstolo está dizendo aos hebreus: Vocês estão estagnados. Simplesmente pararam de caminhar. Vocês foram tão longe, e agora chegaram a um ponto em que por anos não se moveram nem um pouquinho daquela posição. Vocês não podem se agarrar às velhas bases, pois não irão atingir o crescimento pleno. Vocês ainda não aceitaram de vez que morreram quando Cristo morreu. Vocês acabaram com todo o sistema e ordem da velha criação quando vieram a Cristo. Cristo é o fim da lei e da velha criação, e Ele é o início de tudo novo. Não fiquem enfadado repetindo velhas verdades, elas são importantes como fundamentos. Nós estamos destinados, quer aceitemos ou não, quer gostemos ou não, a descobrir que o fundamento de Deus permanece. Isto é verdade, e ninguém jamais irá alcançar o alvo em relação a Deus e Suas coisas enquanto ainda estiver preso à velha criação, enquanto estiver no nível da velha criação.
Bem, agora, esta é uma posição assumida, e o que as pessoas que estão sendo batizadas estão fazendo é declarar de forma prática que aquela é a posição que assumiram. O que elas vão descobrir é que não têm apenas obedecido a uma forma de doutrina, mas que entraram numa situação muito viva e que a partir daí o Senhor irá sustentar as implicações disso. Ele irá dizer: Isto morreu, você não pode trazê-lo junto, não o tire da sepultura, deixe lá. E elas irão descobrir em todo o percurso que o Senhor somente coloca o Seu dedo sobre coisas as quais Ele reconhece como aniquiladas na morte de Seu Filho. Porém, naturalmente, sempre que houver aceitação da atitude e da posição do Senhor em relação àquelas coisas no lado da morte, nós conseguimos mais de Cristo e nos livramos de nós mesmos. Eu realmente desejo que você reconheça que cada um de nós, do mais sábio ao mais tolo, como julgamos, cada um de nós quando realmente vamos a Cristo, temos que aprender tudo novamente. É verdade que podemos possuir uma tremenda quantidade de conhecimento e informação deste mundo, e, contudo, o mais sábio, o mais rico em conhecimento, ou em qualquer outra área, vindo a Cristo tem que aprender o ABC das coisas espirituais. As pessoas irão descobrir isso. Tudo precisa ser aprendido desde a classe infantil, desde o berço da vida espiritual. De nada adianta virmos a Cristo achando que sabemos alguma coisa. Não irá demorar muito até sabermos que realmente não conhecemos nada. O Senhor disse: “Quão dificilmente aqueles que têm riquezas entrarão no reino de Deus!” Penso que se Ele estivesse num outro mundo diferente daquele que estava naquele tempo, se Ele estivesse no mundo ocidental, Ele provavelmente teria dito: Quão dificilmente aqueles que têm conhecimento entrarão no reino. O conhecimento jactancioso, a sabedoria, o intelecto do mundo ocidental é a grande obstrução para o reino. Ela não está preparada para aprender algo.
Quando Paulo foi para o mundo exterior ao dos judeus, este foi o tipo de coisa que ele falava o tempo todo, que a sabedoria deste mundo era o grande impedimento. Com os judeus, era o ganho na linha da riqueza; com os gentios, era o ganho na linha do conhecimento; para os gentios, o conhecimento era o impedimento, e tudo o que pertence ao natural tem que ser colocado de lado. É um obstáculo à nossa entrada no reino. Quanto mais vivemos em comunhão com o Senhor, mais descobrimos que nada sabemos. Um pedaço de conhecimento que temos é que não conhecemos nada, absolutamente, e nós ficamos desejando o tempo todo obter algum conhecimento. Não há nenhuma estrada real para o conhecimento espiritual, nós temos que começar bem do início e aprender as coisas do Senhor na medida em que prosseguimos. Quando começamos na condição de crianças cristãs, nós até achamos que conhecemos alguma coisa. Porém, naturalmente, esta é uma insensatez da infância. Nós estamos aprendendo tudo novamente. Com todo o conhecimento que possamos ter naturalmente, se isto pudesse ser considerado alguma coisa, porém nada conta aqui. O conhecimento espiritual é algo diferente. Nós temos começado tudo novamente, porém, quando aceitamos aquela posição: Agora eu tenho tudo a aprender, estou aberto e sedento para aprender, eu não sei nada, então o Senhor pode ensinar. Este é o orgulho de alguém que nunca aprende tudo. O Senhor nos mostra o que significa começar, qual é o significado da cruz em nosso fim para o velho e o começo para o novo.
Tradução: VNS
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