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Fundamentos

por T. Austin-Sparks

Capítulo 1

Ler: Salmos 11:1-7 (Observar verso 3); 1 Cor. 3:11; 2Tim. 2:19

“Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?”

“Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”.

“Todavia o fundamento de Deus permanece firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade”.

Em referência a este salmo onze, não podemos estar exatamente certos em relação a quando ele foi escrito, ou, quais eram exatamente os incidentes, ou eventos históricos que deram origem a ele; mas seja lá quando tenha ele sido escrito, claramente foi num tempo de estresse muito severo, quando as circunstâncias estavam muito difíceis, e a posição do salmista, do ponto de vista humano, era muito precária, cheia de perigo, e, como julgava o homem, cheia de iminente desastre. Era um tempo quando, embora aqueles fundamentos fossem literais, eles foram atacados; os próprios fundamentos tinham ficado sujeitos a um amargo ataque; e de novo, do ponto de vista humano, os fundamentos estavam destruídos; da forma como o homem olhava para as coisas, os fundamentos tinham sido destruídos. Davi estava no centro daquele tumulto com o qual não estamos familiarizados, constituído por coisas totalmente exteriores, que pareciam mostrar que a situação era sem esperança. Contudo, interiormente havia algo firme, que não concordava com aquilo, simplesmente uma realidade inexplicável e indefinida no coração que em efeito dizia: A coisa não é assim. Devido às aparências e a todas as evidências externas que iriam mostrar que a situação realmente era daquela forma, Davi foi aconselhado a fugir, a abandonar toda a situação, a fim de salvar a sua própria vida; a fugir para a montanha, a se refugiar em algum lugar terreno de segurança.

Uma montanha às vezes parece ser um lugar muito seguro. Mas a coisa não é sempre assim, do ponto de vista espiritual, e aqui está uma daquelas ocasiões quando não importa quão substancial um refúgio, uma montanha, possam parecer, é um lugar de fraqueza se o esconder-se nela for fruto do medo. Eles aconselharam Davi a fugir para a montanha, a se refugiar numa montanha, mas ele recusou o conselho e disse: “No Senhor eu me refugio”. Concluímos, a partir do salmo 11, e do anterior, que um ímpio, ou que os ímpios ocupavam uma posição e tinham poder. O salmo 10 traz uma meia-dúzia de referências ao ímpio. Seja lá quem fosse ele, ou eles, ocupava um lugar de grande poder e estava ameaçando a herança de Deus, e atacando o próprio fundamento da herança de Deus. Agora, no meio daquilo tudo, uma questão surgia. Uma questão única; e toda a situação é resumida em uma só questão: “Se forem destruídos os fundamentos, o que poderá fazer o justo?” Isto não significa que Davi concordava com a sugestão de que os fundamentos estavam destruídos: embora haja uma nota marginal que torna este verso uma parte do aviso e do conselho de seus amigos medrosos. A nota marginal faz o verso seguir como uma declaração: “Pois os fundamentos estão destruídos”; e, se for assim, “o que poderá fazer o justo?” Bem, se esta é a forma correta de ler o versículo, então ele exclui a Davi, e mostra que ele não estava envolvido na questão. Mas, se é uma questão na qual Davi entra simplesmente como uma matéria de consideração – pois está perfeitamente claro que ele não se rende a ela – então o verso nos dá uma base muito valiosa para uma consideração muito importante. “Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?” A resposta, naturalmente, é óbvia; há apenas uma resposta: “Nada”.

Se os fundamentos forem destruídos, o justo nada poderá fazer, a situação é absolutamente sem esperança; então o conselho daqueles homens passa a ser um bom conselho. Abandone a situação e arranje algum lugar de segurança terrena, largue tudo, abandone sua visão, pois ela é uma visão falsa, ela não oferece nada. Agora, esta é uma linha ao longo da qual uma consideração deve ser perseguida por um pouquinho mais de tempo. A outra linha está em colocarmos um forte traço debaixo da nota de interrogação. Isto é, ela ainda continua sendo um assunto em questionamento: “Se os fundamentos forem destruídos, que poderá fazer o justo?” “Se os fundamentos forem destruídos...” Estão eles, afinal de contas, apesar de todas as aparências, estão destruídos? Não importa como as coisas possam parecer estar e o que os homens digam a respeito delas, em relação à situação desesperadora, e em relação ao grande poder e também da traição do ímpio, estão os fundamentos destruídos? Há motivo para se abandonar a visão? Devemos nós tomar o que os homens chamam de curso seguro, e encontrar nós mesmos alguma linha de maior segurança nesta situação tão precária? Estou muito certo de que aqueles de vocês que estão pensando e olhando com os seus olhos do interior para as coisas como elas estão hoje, já entenderam o significado deste salmo, e deste versículo. Há, sem dúvida alguma, um ataque violento da parte do maligno sobre os fundamentos; os fundamentos da herança de Deus estão terrível, feroz e traiçoeiramente sendo atacados _ pois você observa no salmo os elementos da emboscada associados com a atividade do inimigo, do ímpio. Ele atira no escuro. Ele não vem para um lugar aberto, e ele não respeita as regras da guerra, é um assassino. Ele se esconde. Não dá chance para uma batalha justa. Mantém-se escondido e atira da emboscada, de lugares escuros. E seu antagonismo, sua emboscada é direcionada diretamente contra os próprios fundamentos da vida do povo de Deus.

Agora, há duas maneiras nas quais temos que olhar para esta questão de destruir os fundamentos. Num sentido, e no sentido mais profundo, esta é uma impossibilidade absoluta. É impossível destruir os fundamentos. As outras duas passagens foram colocadas para embasar este aspecto. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. Pode ser Ele destruído? Jamais! Tudo tem sido permitido a fim de provar o seu poder de destruição sobre Ele, toda martelada de amargura e traição satânica tem sido desferida sobre esta bigorna e a bigorna tem quebrado o martelo, e permanece sem qualquer marca: “Contudo o firme fundamento de Deus permanece”. Assim sendo, a partir deste ponto de vista, do ponto de vista verdadeiro, os fundamentos não podem ser destruídos. Mas há outro ponto de vista a partir do qual isto tem que ser considerado, que se refere a uma destruição virtual do fundamento, não uma destruição real, mas virtual, este ponto de vista se refere a este tipo de destruição em efeito. Quero dizer o seguinte, que o inimigo está tão investido contra os fundamentos, visando à destruição deles, que está fazendo tudo que pode para fazer com que as pessoas coloquem uma superestrutura de profissão, de uma suposta vida cristã, de um suposto relacionamento com Deus sem qualquer fundamento, absolutamente. E isto é uma sabotagem no trem sobre o qual virá grande desastre, porque todos aqueles que fazem isto estão prestes a cair, estão a um pulo do colapso, e, então, irão culpar a Deus. O inimigo irá imediatamente correr para dentro de suas mentes e dizer: Você colocou a sua confiança em Deus; Ele o deixou cair. Neste sentido, os fundamentos estão destruídos, estão anulados. Há muito disso hoje. Agora, é a partir desses dois pontos de vista que nós, por um momento, temos que olhar para esta primária proposição: ”Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?” Isto significa que bem no início temos que dar atenção muito especial à questão de se ter o fundamento de Deus. Este fundamento se torna impregnável e indestrutível uma vez que seja estabelecido, mas é de importância além de qualquer outra, para você e para mim, termos o fundamento de Deus, e este fundamento verdadeiramente lançado. A situação toda é completamente sem esperança, a menos que se tenha este fundamento.

Estamos rapidamente entrando num período da história deste mundo quando os fundamentos da fé estão para ser submetidos ao teste final. A grande ênfase de Deus hoje está sendo trazida sobre o estado de Seu próprio povo. Ele está focando a Sua atenção sobre o Seu povo. Houve grandes períodos quando toda a Sua atenção estava voltada através de Seu povo para as multidões de não salvos; foram grandes dias de colheita por meio do evangelho. Pode vir, na ordem dos propósitos de Deus, ainda mais ênfase deste tipo, quando novamente Ele irá estender a mão de um modo especial, a fim de reunir as ovelhas perdidas. Ele não está ignorando inteiramente esta obra hoje, e Ele não quer que nós a ignoremos. Mas qualquer um que conheça a atual situação verá que a principal obra de Deus hoje, para qual Ele está se doando, não é pelo ajuntamento de multidões de almas não salvas; mas você realmente descobre que em toda parte há um crescente movimento de Deus em mexer o coração do Seu próprio povo, aumentando a fome, tornando manifesto a fraqueza e a necessidade, e submetendo os cristãos de toda parte ao teste. Você está enfrentando tempos de prova e teste espiritual? Você está achando mais fácil viver a vida santa hoje do que costumava ser? Se formos honestos em nossos corações, iremos dizer: Não, certamente está mais difícil, e a nossa vida espiritual fica muito raramente fora do fogo. Parece que constantemente somos trazidos ao lugar da prova, e cada prova parece ser mais profunda que a anterior. O Senhor está focado em Seu povo, e o objetivo de tudo é chegar aos fundamentos, e, nesse dia, quando Deus está se focado sobre os fundamentos, o diabo está particularmente preocupado em deixar as pessoas sem fundamentos, e isto explica grandes movimentos de hoje que não têm quaisquer fundamentos.

Estamos passando rapidamente pelo tempo da última prova do nosso fundamento. A questão para cada um de nós será em relação a se temos o fundamento de Deus adequada e suficientemente colocado como a base para a nossa fé. Temos que ver, obviamente, que fundamentos são esses, mas eu agora apenas chamo a atenção para a necessidade. Uma vida espiritual de superficialidade não irá muito longe. Os ventos de Deus irão soprar e, então, iremos descobrir quão profunda é a nossa raiz. Daí a necessidade de considerarmos a questão dos fundamentos. Então, por outro lado, o outro ponto de vista: o fundamento uma vez posto, não importando quais sejam as aparências, as circunstâncias, o expoente humano, a opinião do homem, não há motivo para abandonarmos a visão. É exatamente aí que eu quero colocar meu dedo por um ou dois minutos, não pretendendo entrar na natureza do fundamento no momento, mas apenas mostrar o que surge com esta questão. Há um conselho de desespero hoje sobre condições espirituais, e Davi não era exclusivo nesta questão; todos sabem o que é ter uma sugestão dada a nós: “Você está procurando realizar algo impossível, o seu padrão é um padrão impossível; isto que você tem estabelecido como alvo é impossível. Sua visão é a visão de um idealista, mas é completamente impraticável, impossível de realizar. Veja, olhe para a destruição que o inimigo fez. Sempre que havia alguma coisa que representasse algo extra, algo mais pleno, algo maior, mais profundo, a grandeza de Cristo, sempre que havia algo que apontasse para o propósito final de Deus e que ia para além daquilo que se obtinha em seu dia, então o inimigo fazia uma terrível confusão, atacava e fazia um massacre. A história se repete sucessivamente, e olhe para a confusão que o inimigo tem feito na terra entre o povo do Senhor. Olhe para a situação, para o poder, para a perspicácia e traição do inimigo, e como ele está em posição de poder, quanto ele tem as coisas do seu jeito, quão sem esperança, quão fraco você é diante disso.

Olhe para o estado espiritual do povo do Senhor hoje. A grande maioria deles está sem uma real fome espiritual, estão contentes com a sua religião meramente formal, e até mesmo onde há alguns que estão espiritualmente famintos e honestamente querem andar com Deus, mas, quando são colocados à prova, não pagam o preço. De um modo ou de outro, esta tradição comunicada, esta longa e permanente aceitação, este sistema histórico, tem valor apenas enquanto estão começando a se mover com o Senhor, e, embora tenham mostrado seu desejo, sua vontade de seguir com o Senhor, e tenham real e honestamente pretendido assim fazê-lo, exatamente no instante em que alguns passos são dados, passos que os conduzirão para fora e os levarão com o Senhor, alguns, então, se amedrontam em seu interior pelas conseqüências de seus passos, e isto os faz recuar. É melhor você abandonar sua visão, é melhor você tomar algum caminho mais baixo. É melhor você encontrar algum lugar de muita segurança, alguma montanha de um curso de coisas mais normal e natural. Você está almejando algo muito alto, a situação é sem esperança, abandone-a! Suponho que muitos de nós conhecemos algo deste conselho que vem tanto do interior quanto do exterior. O Senhor Jesus experimentou algo parecido. Esta foi a soma total de Sua tentação por quarenta dias e quarenta noites no deserto. Ele tinha entrado num terreno que era o terreno mais alto que este mundo jamais conhecera, e todo o objetivo do inimigo era fazê-Lo descer dali – por sugestão, por traição, por argumento – e descer para um nível mais baixo. Ele dizia: Teu curso é impossível. Há um chão mais seguro debaixo de seus pés do que este.

Toda questão surge diante dos seguintes argumentos: ”Estão os fundamentos destruídos?” Se estão, bem, então, o conselho é bom, seria melhor desistirmos; se não, então não há motivo para abandonarmos a visão. Estão os fundamentos destruídos? Vamos colocar isto de maneira prática. Deus colocou um fundamento? Nós podemos colocar muitos fundamentos e achar que eles não são bons. A questão é: Deus colocou um fundamento? A Palavra nos diz muito claramente que sim. Deus colocou um fundamento sem pretender que uma estrutura fosse construída sobre ele? Certamente isto seria tolice, e quem iria acusar Deus de tolo? Então, se Deus colocou o fundamento e Seu fundamento é indestrutível, logo Ele almeja construir sobre este fundamento, e deseja construir um edifício. Pode o plano de Deus ser frustrado pelo inimigo? Não, assim como não pode ser destruído o Seu fundamento! Ele alcançará o Seu objetivo. Qual é o fundamento de Deus? É Jesus Cristo. Ele está agora fora do alcance de quaisquer forças de destruição. Qual é a estrutura de Deus? É Cristo. Chame-a de outro nome se quiser: a Igreja que é o Seu Corpo, a Companhia conformada à imagem de Seu Filho; mas seja lá que nome você possa dar, ele está no propósito de Deus, Cristo desenvolvido em plenitude nos Seus santos. Isto jamais poderá ser destruído. Isto jamais poderá ser vencido. Deus irá obter isto. Se nós estivermos pensando na edificação como sendo algum movimento, alguma organização, algum sistema formulado pela obra e empresa do cristão, bem, então temos um conceito errado do que seja a obra de Deus. A obra de Deus é os santos crescendo à imagem de Seu Filho, e, enquanto Cristo permanece, o propósito de Deus acerca daqueles que estão em Cristo também permanece, e o propósito de Deus jamais pode ser impedido. Se temos renunciados a nós mesmos para ver algo realizado com sucesso na terra, bem, então, chegaremos ao lugar onde o conselho será muito bom para abrirmos mão dele, e seremos muito estúpidos em nos agarrarmos a ele. Mas, se renunciamos a nós mesmos para apresentar todo homem perfeito em Cristo, então não estaremos numa direção sem esperança. Este é o propósito de Deus, fixado e estabelecido muito antes que este mundo com todas as suas mudanças e o Maligno viessem a existir. “...As obras foram terminadas desde a fundação do mundo”. Você está tentando fazer a obra para o Senhor? Você está tentando aumentar a obra do Senhor? Desista. Entre para as obras que já estão acabadas e você terá um caminho claro para seguir.

Se você está contemplando alguma chamada, se o Senhor tem chamado você para o ministério, deixe-me contar a você o segredo para seguir e chegar até o final em triunfo, com fruto. Sim, certamente _ você poderá não vê-lo _ mas você irá fazer assim. Comece dizendo: “Senhor, tudo já está feito antes que o mundo existisse; estou entrando em coisas já feitas, e estou trabalhando contigo na realização de algo já realizado. Vou entrar em algo que já foi feito na eternidade, no Conselho de Deus, que diz respeito a este ministério específico. Entro nisto pela fé; trabalhando a partir do propósito de Deus na eternidade passada.” E você irá entrar no ministério com fruto. Deus jamais irá enviar você a algum lugar por Seu Espírito Santo, onde não haja fruto. Você poderá não vê-lo agora, mas verá mais tarde; Deus sabe. Ele trabalha sobre uma obra já conhecida. Ele diz para um apóstolo, conduzindo-o para uma cidade pagã de pecado e sujeira: “...não temas... pois tenho muito povo nesta cidade.” Ele não diz: “Eu vou ter muito povo”, mas “Eu tenho muito povo nesta cidade”. “Senhor, quando Tu os teve?” “Muito antes que você viesse a existir, antes que este mundo existisse!” Este é o princípio de Deus. A necessidade de fazer as obras do Senhor, e por meio de uma vida governada e direcionada pelo Espírito. Isto é chegar diretamente ao fundamento, onde não há espaço para qualquer argumento de desespero e abandono; é permanecer sobre algo sólido, que não pode ser destruído. Oh, ter a nossa vida fundamentada sobre isto. Nossa fé para salvação, ter todo o serviço, nosso ministério fundado sobre isto. Oh, ser liberto de coisas que, sendo do homem, mesmo religioso, não irá passar no teste; e ser trazido para as coisas que são de Deus e que irão sobreviver à prova. “...o firme fundamento de Deus permanece”. Não pode ser destruído. Permanecer naquilo que não há necessidade de desistir. Haverá momentos de dor, quando o conselho de nosso coração irá nos sugerir que fujamos, abandonemos, desistamos, mas este é o conselho do medo. Há uma coisa sobre o conselho do medo que você deve sempre ter em mente. O medo nunca enxerga tudo. O medo apenas enxerga uma coisa. O medo apenas enxerga a coisa presente e está cego para todos os demais fatores.

O medo, da parte dos espias que primeiro chegaram a terra, fez com que eles enxergassem apenas uma coisa: as dificuldades, e os cegou para a posse, Deus. A fé enxerga todas as dificuldades e, embora ela possa talvez não ver Deus como iminente, porém sempre O vê como transcendente. O medo tem visão curta. O medo é muito limitado em sua compreensão; e este era o conselho do medo: “Fuja... para o seu monte.” A fé vê que o fundamento de Deus não pode ser movido, não pode ser destruído, e sejam quais possam ser as aparências, a fé olha para além das aparências, para além das circunstâncias, olha para o Senhor e faz Dele o refúgio, e prossegue adiante. Algumas pessoas têm sugerido que o salmo 11 foi escrito por Davi no dia quando Saul o estava perseguindo. Eu não entendo como isto pode ser assim, pois, quando Saul perseguia Davi ele fugia, e aqui ele está dizendo que não fugiria. Outros dizem que foi nos dias da traição de Absalão, e o conselho dado a Davi foi para fugir. E ele realmente fugiu, mas aqui ele está dizendo que não fugirá. Você terá que achar algum outro cenário para isto. Ele não fugiu, este é o ponto. Por que ele não fugiu e não abandou aquela situação, e disse: “Sim, vocês estão certos, ele está fazendo uma confusão, ele está soprando bem no fundamento das coisas; é melhor eu encontrar uma linha de menor resistência”. Por que ele não tomou esta atitude? Simplesmente porque os olhos de seu coração estavam fixos no Senhor, e ele não tinha nenhum interesse pessoal a servir; nenhuma organização, nenhuma sociedade, nenhum movimento ao qual ele estivesse tão ligado que, se aquilo fosse feito em pedaços, toda a sua vida iria ter o mesmo destino. Não, era o Senhor. É algo tremendo estar com o Senhor e ser liberto das coisas menores, ser um com o Senhor em Seu propósito. O que será se todas as demais coisas se dissiparem como fumaça? Você não estava nelas, absolutamente, elas não eram algo no qual o seu coração estava firmado. O que você estava seguindo não era algo temporário, algo terreno, mas era algo espiritual e eterno, e nada pode destruí-lo.

Agora, amado, você entende a questão. Você e eu temos que estar fundamentados sobre o plano de Deus. O que deve determinar toda a nossa vida, toda a nossa atividade tem que ser o propósito de Deus. E qual é o propósito de Deus? Que fique estabelecido de uma vez por todas que o propósito de Deus não é ter algo ancorado nesta terra, mesmo com o Seu nome sobre aquilo. Tudo que estiver preso a esta terra irá passar com a terra. O propósito de Deus é ter algo espiritual na vida de Seu povo; algo que os relacione a Seu Filho, de maneira crescente _ o aumento de Cristo. O resto não interessa. Todos os aspectos temporários da obra são de muito pouca importância. O que importa é que os homens e mulheres estejam sendo aperfeiçoados em Cristo. Nós não estamos aqui para estabelecer algo e, então, tentar conseguir que homens e mulheres se unam a isto, se associem a algo _ nem mesmo um ‘testemunho’, como nós podemos chamá-lo. Vamos ser cuidadosos para que comecemos com o propósito correto. Não estamos aqui nesta terra para implantar um ensino, e, então, tentar conseguir pessoas que aceitem este ensino. Se você for para o seu Novo Testamento, irá descobrir que as pessoas andavam juntas porque elas já estavam ligadas ao negócio. Elas não vinham para se juntar. O testemunho não é algo a que você se une. Você é unido por estar no testemunho. Você entende isto? Esta é uma coisa de importância tremenda em relação a toda esta questão que estamos considerando.

Ficaremos desapontados, e teremos um tempo duro se tentarmos conseguir pessoas para adotarem algo, tomá-lo, aceitá-lo. Vamos, no poder do Espírito Santo, dar o nosso testemunho, vamos deixar o Senhor fazer a obra em nossos corações, e, quando Ele faz a Sua obra em nossos corações, iremos nos unir a outra pessoa. Você terá a expressão da Igreja aqui nesta terra como um resultado da obra realizada dentro de você e não em alguma coisa que você trouxe junto, até mesmo um ensino, um testemunho, ou um sistema que até possa ser chamado de ‘comunhão’. Vamos ser cuidadosos em pensar que podemos nos associar a uma comunhão. Comunhão é algo que ‘é’; é o resultado de algo interior. Agora, eu concentro tudo o que tenho dito nesta lei. O objetivo é ter uma vida interior em Deus, e, se estivermos nesta linha, estamos sobre algo que jamais pode ser destruído. Se o teu objetivo é uma outra coisa, ter alguma forma ou ordem exterior, você está numa linha que será destruída, a coisa irá se quebrar. Este é o porquê de encontrarmos tantas fragmentações nas coisas. Aqui está uma coisa pura que tem sido trabalhado dentro de poucas vidas, e, devido esta mesma coisa ter sido realizada nesta pequena companhia, eles estão juntos numa maravilhosa união, e aí eles realmente representam algo de Deus; mas, então, outros começam a se unir ao negócio, a se juntarem, aceitando o ensino. Chega uma nova geração e recebe o ensino daquela geração anterior, e a obra não foi realizada no interior dessas pessoas que se associaram, ou dos sucessores, e você tem apenas uma transmissão de um ensino, de uma tradição, sem uma obra realizada no interior. O que acontece? Não demora muito e a coisa se divide, e a divisão é interminável. Você não consegue dividir aquilo que é de Cristo em cada coração; que é indestrutível. Porém, se é algo meramente externo, histórico, tradicional, doutrinário, ele pode ser dividido em tantos fragmentos quanto hajam pessoas envolvidas nele. O fundamento é Jesus Cristo; e Jesus Cristo no coração, crescendo, se desenvolvendo, sendo completamente formado nos santos. Esta é uma linha indestrutível _ Cristo como o fundamento dentro de nós. Penso que nós devemos estar muito mais interessados no crescimento espiritual da outra pessoa. Tudo mais deve se encaixar neste propósito. O crescimento espiritual do outro. As demais coisas virão, desde que sejam boas e corretas; qualquer tipo de expressão exterior será o resultado disto, mas esta é a coisa principal, nosso mútuo desenvolvimento espiritual, o aumento de Cristo, e isto nenhuma atividade do inferno, nem traições poderão destruir. É o fundamento de Deus em nós que permanece.

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