por
T. Austin-Sparks
Leitura: João 16:5-15; 7:38-39.
“Aquele que crê em Mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva (Mas Ele se referiu ao Espírito que, mais tarde, receberiam os que Nele cressem; pois até aquele momento não fora concedido, porque Jesus não havia ainda sido glorificado)”.
Amado de Deus, por um tempo considerável meu coração tem se exercitado cada vez mais a respeito do Espírito Santo. Creio que o Senhor tem algo que Ele quer dizer para Seu povo nesta conexão, e algo que Ele quer fazer em e através do Seu povo nesta conexão, numa nova maneira neste tempo do fim. Se alguém não tem mal interpretado a liderança do Espírito, estamos certos em nos reunir neste momento para o Senhor nos falar sobre este assunto. Tenho certeza de que nós, juntamente com muitos mais do povo do Senhor, estamos profundamente conscientes, e cada vez mais conscientes, da necessidade por uma expressão mais plena da vida, poder, e obra do Espírito Santo na Igreja; o qual significa, é claro, em nós mesmos como membros de Cristo. E apesar de que não é meu pensamento neste momento, ou a direção que tenho, procurar apresentar um sistema de doutrina concernindo a Pessoa e obra do Espírito Santo, sinto que o Senhor tem algumas coisas dentro dessa extensão que Ele realmente quer que nós tenhamos em consideração. Não vamos, por exemplo, discutir se o Espírito Santo é uma Pessoa ou não. Acho que todos nós podemos considerar isso como resolvido. Se não está, bem, vamos resolvê-lo fora, pois isso não é o assunto que preocupa a maioria de nós aqui, os quais têm, tenho certeza, resolvido esse assunto há muito. Existem outros assuntos similares em relação ao Espírito Santo que consideraremos como resolvidos e por garantido, mas existem umas coisas que, embora possamos estar bem familiarizados com elas, precisamos ter renovadas como um assunto sério de indagação e consulta diante do Senhor.
Existem, penso, principalmente duas ou três direções nas quais este assunto do Espírito Santo nos preocupa espiritualmente nestes dias. Existe, por exemplo, o assunto do poder. Poder pelo Espírito Santo; o Espírito Santo como um Espírito de poder. Isso é um assunto que nos preocupa, pois o povo do Senhor está quase universalmente, pelo menos muito geralmente, consciente de que as forças que estão contra Seu Testemunho, Sua obra, são praticamente demasiado para eles, se não estiverem totalmente além da habilidade deles para fazer face. Há um senso de severa limitação, real fraqueza, inabilidade para avançar, uma forte resistência e obstrução, uma terrível pressão e adversidade que levanta toda a questão do poder. Todos nós estamos nos nossos corações simplesmente clamando ao Senhor para que conheçamos mais do poder de Deus nas nossas vidas, e depois qual o ministério que o Senhor nos dará além do ministério da vida de testemunho individual, isto é, num ministério especifico que pode ser confiado a nós. Isso é uma esfera na qual todo o assunto do Espírito Santo é algo vivo para nós hoje. E a seguir novamente, a questão da verdade; isto é algo, penso, igualmente vivo nesta hora.
Embora estamos contra essa força de oposição, esse poder do mal, esse grande antagonismo do adversário, estamos também contra erros difundidos e crescentes que estão tomando a forma sutil de uma falsificação do Espírito Santo. Não há dúvidas de que existem moveres na terra neste momento que são uma falsificação do Espírito Santo, até mesmo no assunto da regeneração ou novo nascimento ou conversão; e em muitas outras conexões o Espirito Santo está sendo falsificado; e a tragédia triste, grave disso tudo, é que multidões dos próprios filhos queridos do Senhor estão sendo levados por estas coisas. É muito fácil para nós dizer que não queremos, nós queremos vida, queremos poder, queremos trabalho, queremos atividade, mas, amado, precisamos de ensino. O assunto da verdade pelo Espírito Santo como o Espírito da Verdade é um assunto muito, muito vital, importante para nós hoje. Não podemos falar sobre querer poder como algo em si mesmo; estas duas coisas devem ir juntas, verdade e poder, poder e verdade.
Agora a terceira coisa, o qual é claro abrange estas duas, é a questão da experiência, e aqui talvez estamos no terreno mais perigoso de todos, pois muitos dos queridos filhos do Senhor, em consciente desapontamento, e fraqueza e insuficiência, estão simplesmente clamando, orando, ansiando, por uma experiência, uma nova experiência, uma experiência fresca, e estão se estendendo para ela. Eles relacionam suas experiências mentalmente ao Espírito Santo, eles falam acerca do “batismo do Espírito Santo” e termos semelhantes são usados, mas é de uma experiência que eles estão atrás. Agora, isso está correto e está errado, e queremos ser bastante claros quanto ao correto e ao errado de uma experiência em relação ao Espírito Santo.
É uma coisa muita perigosa sair por uma experiência como tal, ter uma experiência como um objetivo em vista em si mesmo. Abre o caminho para a decepção, para a desilusão e para a irrupção da falsificação. Atrai a vida de nossa alma, e nos leva a um estado forçado e quase oculto, deixando muitos dos queridos do Senhor mediúnicos, e eles são levados, portanto, por qualquer coisa que o falsificador do Espírito Santo gosta de lhes oferecer, contanto que seja redigido em termos bíblicos e apresentado numa aparência de doutrina evangélica. O perigo aí, amado, é o perigo da hora, a alma se esticando por uma experiência, como tal. Mas oh, meu coração nestes dias está terrivelmente sobrecarregado a respeito do povo do Senhor, para que Ele diga alguma coisa, se possível aqui, mas para que Ele em qualquer caso levante um ministério para a proteção do Seu povo nestes dias muito perigosos, estes dias os quais são perigosos nestes aspectos em particular.
Vai haver um estado terrível de coisas muito em breve no descobrimento de multidões dos queridos filhos de Deus que têm sido induzidos em erro, que têm sido desviados, e que a coisa que levou eles para longe não é o verdadeiro, embora tinha todas as marcas do verdadeiro na medida em que eles eram capazes de ver; mas era outra coisa, outra coisa e não a verdade como a verdade está em Jesus. Na medida em que o Senhor nos capacite, procuraremos chegar na verdadeira luz hoje pela Palavra do Senhor, e pleno entendimento, para que na nossa parte possamos ser preservados, e para que também possamos ser capazes de ajudar na preservação, e proteção de outros filhos de Deus. Ore para que o Senhor levante esse ministério e ore isso mesmo agora, nesta mensagem, se for de Sua vontade, haverá aquilo que será para salvar o Seu próprio povo num dia como este.
Agora, no que diz respeito à experiência. As coisas, é claro, devem ser experimentais como diferindo do meramente doutrinário, teórico. Deve haver experiência e deve haver experiência em relação ao Espírito Santo; mas em que maneira é a experiência segura? Bem, lembremo-nos da posição do Novo Testamento sobre este assunto, que embora a manifestação, vinda, presença, atividade do Espírito Santo no Novo Testamento, sempre foi uma experiência na parte dos interessados, não era uma experiência, não era uma experiência apenas em si mesma, algo que eles sentiam, algo que eles ouviam, algo que rompia nos seus sentidos; a experiência estava sempre relacionada a uma Pessoa e essa pessoa era o Senhor Jesus glorificado, e a experiência sempre punha Cristo glorificado em evidência, de maneira que a expressão imediata, espontânea deles, era o glorificar de Jesus em palavra, em testemunho, em vida, em conduta, em todos os sentidos. Cristo glorificado entrava em evidência nesse momento, e eles não andavam por aí dizendo que eles tinham tido um tipo de sensação bonita, emoção, experiência de alta tensão; eles passavam imediatamente a falar sobre o Senhor Jesus. Essa é a única esfera na qual a experiência é uma busca correta. Devemos sempre relacionar o Espírito Santo em todas as formas e fragmentos de Sua atividade, à Pessoa do Senhor Jesus, pois é aí onde o Novo Testamento faz a ligação. E por isso devemos parar de procurar uma experiência em si mesma. Devemos procurar uma expressão, uma manifestação, um glorificar do Senhor Jesus pelo Espírito Santo como nossa experiência.
Amado, se o Senhor Jesus é glorificado nas nossas vidas nós temos o Espírito Santo, pois de outra maneira isso não é possível. Se Ele é Aquele que está diante da consciência de outros como glorificado, esse é o testemunho, vindo diretamente do mais íntimo de nosso ser e sendo registrado sobre outros, você pode ter como garantido que a questão do batismo do Espírito Santo está bem, está resolvida. Mas, embora tenhamos tido todos os tipos de experiências maravilhosas, e as pessoas estão impressionadas com e algo que nos aconteceu, e são postas em evidência, e estamos girando em torno de nós mesmos e de nossa própria experiência, e o Senhor Jesus não é o fato registrado sobre outras consciências, mas nós ocupamos o campo, existe uma real pergunta de nós termos ficado controlados, dominados, enchidos, batizados (seja qual for que você goste de chamá-lo) pelo Espírito Santo. Deve ser relacionado a Ele. É por isso que temos lido esta passagem como uma chave para o que quer que o Senhor Jesus tenha a nos dizer. “Mas Ele se referiu ao Espírito que, mais tarde, receberiam os que Nele cressem; pois até aquele momento não fora concedido, porque Jesus não havia ainda sido glorificado”. O Espírito não poderia começar Sua obra até que Ele tivesse obtido aquilo que era essencial para Sua obra. O ministério do Espírito Santo não poderia ser iniciado dentro do crente até que Ele tivesse obtido aquilo que era essencial para Seu ministério na íntegra, o qual era Cristo glorificado. Que significa que o ministério, a obra do Espírito Santo em e através do crente é baseada completamente e unicamente sobre a glorificação do Senhor Jesus.
Agora então, comecemos a esquadrinhar isto e reduzi-lo a uns poucos fatos, realidades bem claras, concisas. Começamos perguntando uma pergunta muito geral. Por que o Espírito Santo veio? Penso, pelo que eu sei, a melhor resposta a essa pergunta é: para assumir o lugar do Senhor Jesus aqui. Isso abrangerá muita coisa. “É para o vosso bem que Eu parta. Se Eu não for, o Espírito Santo não poderá vir para vós”. Portanto, o Senhor Jesus considerava que a presença do Espírito Santo aqui era mais importante do que Sua presença pessoal humana na terra, que pelo menos significava o que a Sua presença significou na carne, porém mais. De maneira que podemos com bastante segurança, e verdadeiramente dizer que o Espírito Santo veio para assumir o lugar do Senhor Jesus aqui.
Façamos outra pergunta que nos levará um passo adiante em direção a nossa conclusão última. Por que o Senhor Jesus gastou trinta anos primeiro, três anos e meio em segundo lugar, e quarenta dias em terceiro lugar, aqui na terra? A resposta é claramente simples. A fim de que, primeiramente, Ele pudesse ser associado à humanidade vitalmente e praticamente; esse é o significado dos trinta anos começando com a Encarnação. Você não precisa de que tomemos tudo que a escritura tem a dizer a respeito da Encarnação; penso que uma escritura é suficiente, pelo momento. “Portanto, visto que os filhos compartilham de carne e sangue. Ele também participou dessa mesma condição humana, para que pela morte destruísse aquele que tem o poder (o domínio) da morte... e livrasse todos os que ao longo de toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte”. Ele também participou da mesma. “Assumindo plenamente a forma de servo e tornando-se semelhante aos seres humanos”, uma segunda escritura muito forte. E em terceiro lugar, “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu”. Muitas outras escrituras levando Ele a um vital relacionamento com a humanidade poderiam ser citadas, mas penso que reconhecemos que Ele devia ter estado aqui, embora silenciosamente e principalmente em reclusão por trinta anos antes de Sua manifestação ao mundo, não sem objetivo, não sem razão e não sem a melhor das razões. Quando você se lembra de que no Velho Testamento Ele aparecia na forma de um homem uma e outra vez, e era visto e Lhe falado numa forma de homem adulto – de onde Ele conseguiu esse corpo, você sabe? Eu não sei; onde foi, você não sabe, eu não sei, mas em muitas ocasiões Ele era visto como um homem. As escrituras deixam absolutamente claro e certo que Aquele que aparecia era Deus, porém Ele logo, para propósitos específicos, em determinados momentos, apenas por um momento, tomava a forma de um homem plenamente desenvolvido e aparecia para realizar alguma coisa, e depois desaparecia. Não sabemos nada mais sobre o meio de Sua manifestação lá, mas aqui Ele escolhe vir por meio de um nascimento de criança e permanecer por trinta anos, e existe algo de diferente aqui nisso, e é porque, agora, diferindo daquilo, Ele se tornou vitalmente ligado à raça como Ele não era até então, participando da mesma carne e sangue, contudo sem a mancha do pecado.
Bem, os trina primeiros anos primeiramente, penso, representam Seu relacionamento à humanidade, vitalmente; isto é, vividamente e praticamente, me refiro a uma maneira prática. Ele foi um bebê, e foi um menino, e foi um adolescente, e foi um jovem, e passou por tudo isso que esses passam, e você não coloca uma auréola em volta de sua cabeça e faz Dele uma excepção extraordinária de todos os meninos e jovens e homens, exceto que você não achará pecado Nele; contudo Ele teve uma vida de menino, uma vida de adolescência, uma vida de jovem. Ele é numa maneira prática relacionado à humanidade. Os três anos e meio são a segunda fase e introduzem novos fatores, quanto à razão Dele estar aqui. Bem, trazem à vista o fato de que Ele esteve aqui para revelar, manifestar a mente do Pai, o amor do Pai e o poder do Pai. Foram os anos do desvendar da mente de Deus, os pensamentos de Deus em e através de Cristo.
Amado, tudo que você irá achar subsequentemente no Novo Testamento no livro dos Atos, nas Epístolas ou em Apocalipse como verdade, você irá achar sua semente, seu germe, nos evangelhos. Isso é uma coisa importante para lembrar. Escreva isso, que você não irá achar nos escritos subsequentes do Novo Testamento o que você não pode traçar em germe no ensinamento do Senhor Jesus. Seus três anos e meio de ensinamento foi a parcela de sementes de toda a revelação Divina. Isso lhe dará suficiente estudo até o fim de seus dias! Foi a revelação, não que o homem o apreendeu, o compreendeu, o entendeu, nem mesmo aqueles mais perto Dele entenderam; no entanto, foi a revelação da mente do Pai para o homem. Quão maravilhoso é. Podemos gastar muitas horas, muitas semanas com isso somente, ver os aspectos dessa verdade, a revelação da mente do Pai e as riquezas desse ensinamento. E devemos fazer comparações? Talvez não, mas alguém iria dizer, o registo de João é o mais rico. E o que tem João a revelar sobre a mente do Pai de diferente dos outros? É isto, a descida do Pai todo o tempo para o homem. É uma maravilhosa revelação como Deus toma a iniciativa em direção ao homem. Todo o aspecto do Evangelho de João do ensinamento e obra do Senhor Jesus é Deus tomando a iniciativa, Deus descendo. Isso é abençoador, isso é precioso, acompanhe isso no resto do Novo Testamento. Você sabe o que você está tentando fazer, tentando bombear a corrente vil de nossa humanidade para alcançar Deus, quando Deus está se derramando na corrente da vida Divina para nos alcançar. Estamos lutando de alguma forma para nos levantar em toda a vileza de nossa carne, em contato com Deus, e nunca consegue. Mas a revelação da mente de Deus é que Deus desceu para nós em toda Sua santidade. Esse é “João”. Isso é certamente confortador para os nossos corações. Apenas o toco como significando ao que me referi pelo revelar da mente de Deus nos três anos e meio, e a seguir, o revelar do amor do Pai.
Publicado na revista "Uma Testemunha e Um Testemunho" 1932, Volume 10-3.
Origem: "The Holy Spirit in Relation to The Glorified Christ and The Believer
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